quinta-feira, 20 de maio de 2010

Irã pode cancelar acordo caso as sanções sejam aprovadas na ONU


Em resposta ao progresso das conversas no Conselho de Segurança da ONU, o Irã afirmou que caso as sanções contra o programa nuclear iraniano sejam aprovadas, o país pode cancelar o acordo firmado com a Turquia e o Brasil, disse hoje o parlamentar Mohammad Reza Bahona, em Teerã.

Brasília e Ancara mediaram um acordo nesta semana em que o Irã concordou em enviar parte de seu urânio de baixo enriquecimento ao exterior em troca de combustível para um reator de pesquisa médica. A primeira leva está programada para chegar na Turquia dentro de um mês.

O acordo foi inicialmente sugerido como forma de permitir à comunidade internacional o acompanhamento do material nuclear que o Ocidente suspeita ser para a construção de armas nucleares no Irã.

Turquia, Brasil e Irã fizeram um apelo para suspender as negociações para novas sanções por conta do acordo de troca, mas críticos descrevem o acordo como uma tática para evitar ou adiar as sanções.

Esta posição é defendida sobretudo pelos EUA, que em nenhum momento manifestaram confiança nas promessas do Irã com o acordo e um dia após a assinatura dos termos deram prosseguimento às negociações para uma nova rodada de sanções contra o país na ONU.

Washington circulou um esboço da resolução de sanções, acordado por todos os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, depois de meses de negociações.

"Se (o Ocidente) emitir uma nova resolução contra o Irã, não nos comprometeremos com a declaração de Teerã e o envio de combustível ao exterior será cancelado", disse o legislador Mohammad Reza Bahonar, um dos mais importantes do Parlamento iraniano, à agência de notícias iraniana Mehr.

"As potências junto ao Conselho de Segurança da ONU chegaram a um consenso sobre o Irã e é bem possível que no futuro próximo seja colocado em operação uma quarta rodada de resoluções contra o Irã", acrescentou Bahonar.

As novas sanções teriam como alvo os bancos iranianos e um pedido para inspecionar navios suspeitos de transportar carga relacionada aos programas nucleares e de mísseis do Irã.

O Irã rejeitou anteriormente o esboço de resolução dizendo que falta legitimidade à proposta e que é improvável que ela seja aprovada. O país diz que suas ambições atômicas são puramente sem fins militares e se recusa a suspender o enriquecimento de urânio.

"Os americanos levarão o desejo de prejudicar a nação iraniana aos seus túmulos", disse o presidente Mahmoud Ahmadinejad a militares na quinta-feira, segundo a agência estatal de notícias IRNA.

Conselho de Segurança

Para o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, a maioria dos países membros do Conselho de Segurança são favoráveis ao novo pacote de sanções contra o Irã. Kouchner, citado pela agência de notícias France Presse, disse que apenas três dos 15 membros do Conselho não aprovam as sanções.

Ele não disse quais seriam os países. Contudo, são membros rotativos o Brasil e a Turquia, que conseguiram um acordo nuclear com o Irã no início da semana e criticaram duramente as sanções.

O Conselho de Segurança é formado por cinco membros permanentes, que têm poder de veto --Reino Unido, Estados Unidos, China, França e Rússia. Ao apresentar a proposta de sanções à ONU na terça-feira (18), os EUA disseram ter conseguido o apoio de todos eles.

Para ser aprovada, contudo, o projeto precisa de ao menos outros quatro votos dos 10 dez membros não permanentes. Eles incluem, além de Brasil e Turquia, Uganda, Gabão, Nigéria, Áustria, Bósnia, Japão, Líbano e México.

Mais cedo, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse esperar que um consenso possa ser alcançado sobre o rascunho da resolução de sanções da ONU contra o Irã, informou a agência de notícias Interfax.

Acordo X Sanções

O Brasil e Turquia afirmaram, logo após fechar o acordo com o Irã na segunda-feira, que as sanções não eram mais necessárias, já que Teerã se mostrara disposto a negociar.

As potências, contudo, receberam com ceticismo o documento e afirmaram que as sanções são válidas até que o Irã interrompa o enriquecimento de urânio no país e dê garantias de que seu programa nuclear é pacífico.

Nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a advertir que haverá um retrocesso na questão nuclear iraniana se o Conselho de Segurança da ONU não tiver disposição para negociar uma saída diplomática.

"Agora depende do Conselho de Segurança da ONU sentar-se com disposição para negociar, pois se você se senta sem vontade de negociar, vai haver um retrocesso", disse Lula, durante uma conferência sobre a economia brasileira em Madri.

"Qual era o grande problema do Irã? Que ninguém podia fazer com que o país se sentasse para negociar. A única coisa que queríamos era convencer o Irã de que deveria assumir o compromisso com a Agência e negociar, depositar seu urânio na Turquia. Isso foi feito", disse ele, em referência à proposta feita pelas potências em outubro passado e que foi rejeitada por Teerã.

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, entrou em contato com seu colega russo, Vladimir Putin, e com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para defender o acordo de troca de urânio com o Irã e convencê-los a desistir da nova rodada de sanções.

Segundo um comunicado do Escritório do primeiro-ministro, Erdogan falou na quarta-feira à noite por telefone com Putin e Obama.

Nas conversas, ressaltou sua convicção de que o acordo assinado em Teerã é um triunfo da diplomacia, e constitui a última oportunidade de resolver pacificamente o litígio sobre o programa nuclear iraniano, segundo a nota.

Fonte: Folha
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