sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

De olhos bem abertos...

 
 
Centro de Defesa Cibernética, comandado pelo Exército, terá investimento de R$ 40 milhões para monitorar eventuais ataques de hackers; especialistas acreditam que país, ainda assim, está vulnerável

Anfitrião de dois eventos esportivos grandiosos nos próximos 18 meses, a Copa das Confederações em junho e a Copa do Mundo em 2014, o Brasil não deve lidar apenas com a possibilidade de conflitos nas ruas ou dentro dos estádios. Enquanto todo o aparato de segurança é montado para evitar pequenas guerras entre torcedores, o Exército Brasileiro planeja lutar contra outro tipo de ameaça: a virtual. Com um investimento de R$ 40 milhões do Governo Federal, a ideia é evitar ataques a sites oficiais e a sistemas de infraestrutura computadorizados, como iluminação pública, aeroportos etc. “A possibilidade de o Brasil sofrer um ataque maciço é a mesma de alguém declarar guerra ao país. É baixa, mas existe”, explica o general José Carlos dos Santos, comandante do CDCiber (Centro de Defesa Cibernética), coordenado pelo Exército brasileiro em Brasília.

Ainda que o país não seja ameaçado por guerras cibernéticas, o governo conta com uma defesa que possa combater tanto os ataques que podem afetar a infraestrutura do país durante os eventos — quedas de energia, por exemplo — quanto hackers que tiram sites oficiais do ar. Para garantir a segurança das “fronteiras virtuais”, estão sendo investidos cerca de R$ 40 milhões, distribuídos para a Copa das Confederações e para a Copa do mundo.

A falta de investimento na área, segundo o general José Carlos, seria uma irresponsabilidade do governo. “As ameaças estão aí. Embora não precisemos ficar muito preocupados, temos as nossas obrigações.” Durante os eventos, 80 militares trabalharão diretamente com o monitoramento de sistemas oficiais ligados à Copa do Mundo. Esse grupo deve atuar em parceria com órgãos civis, como a Polícia Federal, o Ministério da Justiça, a Anatel e outras agências reguladoras.

A ideia do grupo é observar os sites oficiais ligados aos eventos e, com programas específicos, identificar se há ameaças que possam tirar as páginas do ar ou modificar informações contidas nelas. O mais comum, explica o general José Carlos, é a ação de ativistas que substituem o conteúdo das páginas por mensagens próprias. O “roubo” de dados pessoais e de cartão de crédito, conhecido como phishing, também é tido como uma possibilidade, mas não é uma grande preocupação do Centro de Defesa Cibernética. A preparação começou no fim do ano passado, quando representantes das forças armadas da Inglaterra vieram ao Brasil compartilhar experiências do gênero em um grande evento, as Olimpíadas.

Ainda antes da Copa das Confederações, o Exército deve montar um centro de monitoramento em Brasília, integrado por especialistas das Forças Armadas e de órgãos governamentais. As seis cidades sedes que recebem as partidas, incluindo Brasília, também terão centros específicos para esse tipo de defesa.

Para o professor de perícia digital Marcelo Beltrão, da Universidade Católica, o projeto do Exército não é suficiente para evitar ataques cibernéticos. “O país está se preparando, mas ainda falta muito para poder dizer que está preparado para essa defesa. Faltam investimentos e pessoas qualificadas para lidar com esses problemas”, argumenta. Para Beltrão, a defesa cibernética deveria estar nas mãos de um órgão civil e não militar. “O exército tem se preparado para ataques de outras nações. Nos grandes eventos, não teremos criminosos querendo atacar o Brasil como nação, mas empenhados em roubos de dados, principalmente dos turistas que utilizarão grandes redes de internet sem fio.”

Consequências

Ainda que o Exército tenha minimizado a possibilidade de ações de grande impacto sobre os sistemas brasileiros, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Henrique Fernandes, especialista em segurança digital, ressalta que determinados ataques são inevitáveis. “Os ataques sempre acontecem. A questão é conseguir gerenciar bem quando eles aparecem”, diz. Entre as possibilidades mais comuns, ele destaca a indisponibilidade de alguns serviços específicos para os grandes eventos, como a compra de ingressos on-line e a transmissão de jogos via internet.

Também especialista em segurança na rede, o professor João José Gondim, da UnB, reconhece que o país deva ficar mais vulnerável durante grandes eventos. “Às vezes, coisas completamente virtuais podem ter consequências reais”, alerta.
Fonte: Correio Braziliense
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