sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Instituto de Pesquisas da Marinha e o avanço tecnológico militar brasileiro


Parecem ressurgir no Brasil dúvidas à respeito dos riscos da militarização do uso e desenvolvimento de tecnologias que podem ter como finalidade a criação de armas nucleares. "País controlará enriquecimento do urânio", reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo (Brasil, 24/05/02), levantou a suspeita de que a Marinha, cedendo tecnologia ao projeto de enriquecimento do urânio desenvolvido pelo INB (Indústrias Nucleares do Brasil), poderia estar se beneficiando dos seus resultados com a intenção, por exemplo, de criar até mesmo, uma bomba atômica. No entanto, essas suspeitas não trazem grandes novidades.
O avanço tecnológico ocorrido principalmente após a II Guerra Mundial desencadeou modificações nas forças armadas de todo o mundo. No Brasil, a Marinha implantou, em 1959, um órgão de pesquisas, o IPqM (Instituto de Pesquisas da Marinha), para tentar acompanhar o desenvolvimento científico que ocorria no chamado Primeiro Mundo, e também nos países comunistas, em especial na área da eletrônica. O IPqM foi instalado na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. O local, estrategicamente localizado na costa, foi escolhido em razão da proximidade da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com a qual já se planejava integração técnica e científica.

Embora seu principal objetivo seja a pesquisa com finalidades militares, o Instituto já desenvolveu, durante a década de 70, atividades diversificadas, sendo algumas de alcance social. Biologia marinha, energia solar, biomassa, nutrição (concentração de proteínas encontradas em pescado) e saúde (como o combate à esquistossomose) foram alvo de estudos que cessaram com a criação do Instituto do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM). Esse órgão, também pertencente à Marinha, ficou responsável pela biologia marinha, sendo que as outras atividades foram simplesmente canceladas. Assim, o IPqM passou a dedicar-se com exclusividade ao campo militar.

No Instituto, as pesquisas são realizadas por cinco grupos distintos: armas, guerra eletrônica, acústica submarina, sistemas digitais e materiais. O grupo de armas está voltado para a área de armamentos e já foi responsável pela conclusão de alguns projetos, como a criação do Foguete FAZ-375 (utilizado em fragatas) e do Foguete "Chaff" (construído para auto-defesa de mísseis do tipo "inteligente", isto é, orientados por radar) e a Mina de Fundeio de Contato, que tem a função de proteger portos e instalações marítimas contra navios e submarinos, fazendo parte das estratégias de defesa do litoral brasileiro. Esse grupo dispõe, ainda, de um laboratório de metrologia em fase de implantação, uma oficina mecânica e um banco fixo para testes com motores de foguetes. Dentre todos, o projeto mais ousado do grupo de armas é o Torpedo Nacional, ainda em fase de estudos.

Na área de guerra eletrônica, o IPqM realiza trabalhos com microondas, radiofreqüência, comunicações, eletroótica e eletrônica digital. Um dos projetos mais importantes desenvolvidos por esse grupo foi o equipamento CME Radar (Contramedidas Eletrônicas) ET/SLQ-1. Esse radar despista ou bloqueia outros radares de vigilância, direção de tiro e aqueles que guiam mísseis, que operam na faixa de microondas.

A acústica submarina e o sistema sonar são pesquisados através da análise e do processamento de sinais, estudos sobre a propagação do som, transdutores eletroacústicos e equipamentos acústicos. Dentre os projetos concluídos, destacam-se o Sistema de Previsão de Alcance e Traçado de Raios Sonoros (Spars), que permite prever, através de programas para microcomputadores e a partir da temperatura da água e da velocidade do som no mar, o alcance de um sonar, bem como avaliar o desempenho de um sistema de sonares em condições ambientais variáveis. Já o Alvo Sonar Multifrequência auxilia na realização de exercícios anti-submarinos (lançamento de torpedos acústicos e posicionamento de submarinos). Também foi criado o equipamento para Testes de Dispositivos de Varredura de Minas, que permite detectar minas implantadas no mar com objetivos militares.

Atividades nas áreas de explosivos, química fina, pirotecnia e materiais especiais para aplicações navais ficam sob a responsabilidade do grupo de materiais. Dentre os projetos já concluídos estão o propelente COMPOSITE (utilizado na propulsão de mísseis e foguetes) e os explosivos auxiliares para mísseis.

O último grupo que compõe o IPqM é responsável pelo desenvolvimento de sistemas digitais, dentre os quais o Sistema Simulador de Treinamento Tático. Esse simulador é formado por equipamentos e programas para o treinamento e a avaliação das tripulações dos navios da Esquadra da Marinha, simulando situações do cotidiano dos oficiais. Há também o Simulador de Propulsão das Fragatas Classe Niterói, que, através de modelos matemáticos (modelo dos motores a diesel principais e das turbinas de gás), simula integralmente a propulsão dessa classe de navios e apresenta em mostradores analógicos as informações necessárias para o monitoramento e a identificação de problemas existentes no sistema.

Fonte: Guerra & Ciência
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