sexta-feira, 29 de abril de 2011

Europa se fecha em bloco


Ao contrário dos capitais, cujos movimentos são vertiginosos, especialmente os do Google, que, como já se contou, viajam em primeira classe da Irlanda para a Holanda e, dali, às Bermudas para desaparecer como Deus manda, os seres humanos enfrentam maiores problemas em seus deslocamentos, especialmente se vêm do norte da África e sem uma muda de roupa limpa.

Sarkozy e Berlusconi apreciam muito a liberdade de movimentos, mas só nas discotecas, e isso explica que tenham proposto reformar o tratado de Schengen para que os imigrantes fiquem quietos e descansem seu desespero antes que seja expedido seu bilhete de volta.

A sensibilidade da França e da Itália em temas de imigração é similar a de uma pedra, mas não é menor do que a dos demais países da União Europeia. Basta lembrar a reação espanhola diante das levas de cayucos (embarcações com imigrantes ilegais) chegando às Canárias e a exigência de que a agência europeia dedicada ao controle de fronteiras, Frontex, atuasse de forma preventiva impedindo sua chegada, o que significaria passar por cima tanto da Convenção de Genebra sobre os refugiados como a do Direito do Mar, da ONU, que não prevê que um barco possa inspecionar outro em alto mar.

O alarme foi causado neste caso pelos 25 mil tunisianos que alcançaram a ilha de Lampedusa. O chefe italiano quis dar o passaporte a eles, em forma de um visto temporário para que se dispersassem pela Europa, uma vez que seus sócios europeus não quiseram compartilhar a carga que representavam. Após a queda de alguns ditadores que exercia seus cargos a soldo do Ocidente, as revoluções do mundo árabe são uma dor de cabeça para estas nossas democracias, sempre generosas e compreensivas com as tragédias alheias.

O caso da Tunísia é especialmente cruel porque acolhe em seu território a dezenas de milhares de refugiados líbios, dos mais de 600 mil que, desde o início dos combates, se espalharam pelo Egito, Argélia, Chade ou Mali. Todos estes países mantiveram abertas suas fronteiras. Sua humanidade e sua decência é diretamente proporcional a nossa bem alimentada hipocrisia.

Fonte: Carta Maior
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