terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Conflito no Atlântico Sul - Afundamento do "HMS Coventry" pelos A-4 argentinos

A história da disputa pelo domínio das "Ilhas Falklands" no sul do Oceano Atlântico, ou "Ilhas Malvinas", como são mais conhecidas na América do Sul e pelos Argentinos, traz consigo um enorme campo para análises e aprendizados sobre o conflito ocorrido no final do século XX, para ser exato, no ano de 1982, quando a Argentina desafiou o poderio britânico, ao tentar assumir o domínio sobre o arquipélago que vem sendo alvo de disputa entre as duas nações desde o século XIX.

Para entendermos um pouco sobre a disputa, convido à observarem o mapa da região, onde o território pertence à Grã-Bretanha, e com grande maioria da população de origem britânica, apesar de tamanha distância. As Malvinas estão situadas à 500 quilômetros da costa argentina, onde duas ilhas se destacam pelo tamanho. A capital do arquipélago, Porto Stanley (localizada na ilha ao leste, a mais desenvolvida), foi o principal alvo da ação militar argentina que tentou tomar a posse das ilhas à força, iniciando a invasão que deu origem ao conflito no dia 4 de abril de 1982.

Durante o conflito houveram diversos embates entre as forças aeronavais e navais dos dois lados, onde mesmo em desvantagem, os aviadores argentinos conseguiram lograr importantes êxitos sobre a poderosa Marinha Real Britânica (Royal Navy). Dentre os ataques bem sucedidos, resolvemos falar sobre o afundamento do "HMS Coventry", um dos mais modernos navios em operação naquele conflito, e que afundou após um ataque bem sucedido realizado por caças A-4 Skyhawk argentinos há 37 anos.

Classe Sheffield - Type-42
O "Coventry" fazia parte da então moderna "Classe Sheffield" de destróiers britânicos Type-42, a qual curiosamente os argentinos também possuíam duas unidades, das quais uma ainda se encontra na ativa e a outra operou até 2013, quando sofreu um sinistro e afundou atracado em Puerto Belgrano, vitima da crise que se abate sobre as forças armadas daquele país, as quais não conseguiram se recuperar do duro golpe sofrido com a derrota em 1982. Voltando a Type-42, esta classe de navios foi desenvolvida como solução ao cancelamento da Type-82, a qual manteve a capacidade de defesa aérea como sua missão principal, contando com sistemas de defesa aérea "Sea Dart", considerados na época avançados misseis antiaéreos de médio alcance, porém, sua pífia atuação no conflito levantou inúmeros questionamentos sobre sua capacidade real de emprego. O "Coventry" possuía ainda um canhão principal de 4,5"Pol. e dois canhões Oerlinkon de 20mm e dois tubos de torpedos, no combate contra meios de superfície e submarinos, a Type-42 contava com um helicóptero Westland Linx.

Durante o conflito das Malvinas/Falklands, a Royal Navy enviou cinco exemplares da Type-42 como parte de sua Força Tarefa, "Sheffield" , "Coventry" , "Glasgow" e "Cardiff" oriundos do primeiro lote, e o "Exeter" oriundo do segundo lote, onde amargou a perda do "HMS Sheffield" após ser atacado por um míssil "Exocet" e teve o "HMS Glasgow" severamente avariado por uma ataque. Após a perda de Sheffield , uma nova tática de defesa aérea foi implantada na tentativa de maximizar as capacidades remanescentes da Força Tarefa. A solução encontrada frente as deficiências do sistema de defesa aérea de curto alcance nos navios Type-42, foi operar os Type-42 restantes em conjunto com as duas fragatas Type-22 (denominado não-oficial de Type-64), posicionando-os muito mais à frente da força principal, um esforço para afastar as aeronaves atacantes, o que em teoria cobriria a lacuna nas capacidades de defesa aérea. Porém, o dia 25 de maio de 1982, mostrou mais uma vez que o sucesso no combate esta muito mais ligado a capacidade de resposta dos envolvidos diretamente que a modernidade dos meios propriamente ditos.

No dia 25 de maio daquele ano, o "HMS Coventry" e a fragata Type-22 "HMS Broadsword"foram designadas para tomar posição a noroesteLá, atuariam como chamariz para aeronaves argentinas, afastando de outros navios operando no desembarque na Baía de San Carlos . Nesta posição, perto da terra, com mar aberto insuficiente entre ela e a costa, seus mísseis Sea Dart seriam menos eficazes. A "Broadsword" estava armada com o míssil Sea Wolf para emprego antiaéreo e antimíssil de curto alcance.


Pouco após as 12 horas, os britânicos se viram sob ataque dos Skyhawks argentinos. O ataque coordenado vinha por duas direções, o que dificultou o trabalho das defesas britânicas. O "Coventry" possuía uma grande limitação ao operar próximo a terra, uma vez que seu sistema de radares apresentava problemas para acompanhar e travar alvos voando em velocidade e baixa altitude próximo as ilhas. Essa limitação técnica que já havia sido identificada há algum tempo, antes mesmo do conflito no Atlântico Sul, se mostrou um mortal ponto fraco nas capacidades de defesa aérea da classe, e isso custaria muito caro aos tripulantes do "Coventry".

No COC (Centro de Operações de Combate) do "Coventry" os operadores de radares e sistemas de armas tentavam confirmar a localização das aeronaves atacantes, as quais haviam sido rastreadas por um breve período antes que as mesmas estivessem ao alcance dos "Sea Dart". Um dos oficiais teve a ideia de acionar o apoio aéreo dos Harriers, porém, essa decisão se mostrou um erro, levando a perda de preciosos minutos até que decidissem por disparar novamente os Sea Dart, Tal demora expôs ainda mais o "Coventry".

As aeronaves do primeiro ataque carregavam uma bomba de queda livre de 1.000 lb cada, enquanto as aeronaves da segunda carregavam três bombas de 250 kg. Os quatro Skyhawks atacavam a luz do dia, o que levou o grupo de ataque a voar tão baixo que o radar do "Coventry" não podia distinguir entre eles e a terra e não conseguiu solução de tiro. A "Broadsword" tentou obter uma solução de tiro com seus misseis Sea Wolf contra o primeiro par de Skyhawks pilotados pelo Capitán Pablo Carballo e o Teniente Carlos Rinke, mas o sistema de rastreamento travou durante o ataque.

Os britânicos tentavam a todo custo uma solução de tiro contra as aeronaves argentinas, mas à medida que se aproximavam, eles se perdiam em "ecos" de radar confusos pela proximidade com as ilhas a alguns quilômetros de distância. De repente os Skyhawks reapareceram no radar, a poucos metros acima das ondas. Os dois primeiros lançaram um ataque contra o "Broadsword", para sorte dos britânicos uma das bombas acertou apenas o nariz de um helicóptero Linx no convoo e caiu no mar.

No "Coventry" a tripulação continuava tentando obter uma solução de tiro contra o segundo par de Skyhawks pilotados pelo Primer Teniente Mariano A. Velasco e Alférez Leonardo Barrionuevo, que seguiam contra o "Coventry", voando um ângulo de 20 graus em relação à sua proa. Ainda incapaz de travar seus mísseis nas aeronaves argentinas, o "Coventry" disparou um míssil Sea Dart e manobrou bruscamente para estibordo tentando reduzir seu perfil. Esse foi um grande erro, pois a "Broadsword" havia conseguido reativar seu sistema de misseis Sea Wolf e travado com sucesso as aeronaves atacantes, mas devido a manobra inesperada do "Coventry" que o colocou na linha de tiro, não conseguiu disparar. No convés a tripulação disparava com fuzis e metralhadoras na tentativa de abater os argentinos, os canhões de 20mm haviam travado.


Em poucos minutos a segunda onda de ataque cruzou pela proa do "Coventry" liberando sua carga de bombas, onde três impactaram o navio, duas atravessaram o casco até atingir a sala de maquinas, em poucos segundos detonaram, transformando o cenário a bordo um verdadeiro inferno em chamas. O "Coventry" estava perdido, em 20 minutos o navio afundou, deixando um saldo de 20 mortos e 29 feridos, os 170 sobreviventes foram resgatados pela "Broadsword" que na década de 90 seria vendida à Marinha do Brasil em 30 de junho de 1995, onde foi nomeada "Greenhalgh"


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança.


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