terça-feira, 19 de março de 2013

Estudos confirmam boom asiático no comércio de armas



Insegurança regional e prosperidade econômica levam países do continente a superarem europeus nos gastos militares. China passa Reino Unido e já é quinto maior exportador mundial de armamentos.

Duas tendências vêm chamando a atenção no mercado armentista mundial: pela primeira vez, em 2012 os gastos militares da Ásia superaram os dos países europeus. E, num fato inédito desde a Guerra Fria, a lista dos maiores exportadores de armamentos se alterou, com a China arrebatando do Reino Unido o quinto lugar.

O deslocamento global do poder militar avança, diz o relatório O equilíbrio militar, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS). E o caminho é, inequivocamente, em direção à Ásia, referenda o estudo Tendências do comércio internacional de armas, publicado nesta segunda-feira (18/03) pelo Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa da Paz (Sipri).

Os Estados asiáticos vêm comprando cada vez mais armas e, segundo o relatório do Sipri, os cinco maiores importadores da última meia década foram Índia, China, Paquistão, Coreia do Sul e Cingapura.

Mais armas não significam mais segurança

De acordo com Siemon Wezeman, especialista em Ásia do Sipri, um dos motivos para os investimentos crescentes da região em armamentos seria o grande número de ameaças e disputas territoriais. "A Ásia está insegura", afirma. E exemplos disso são a velha inimizade entre Índia e Paquistão, as ameaças cada vez mais estridentes por parte da Coreia do Norte, assim como os conflitos territoriais nos mares da China Meridional e Oriental.

As armas recentemente adquiridas, no entanto, de forma alguma elevam o grau de segurança, observa o IISS no relatório divulgado na última quinta-feira: "A aquisição de sistemas militares avançados na Ásia Oriental, uma região em que faltam mecanismos de segurança, eleva o risco de conflitos e agravamentos não intencionais", diz o texto.

Paralelamente à situação de insegurança, o contexto econômico é também de grande relevância, observa Wezeman: "São as economias em crescimento que sequer tornam a compra de armas possível". Porém decisivos para a superação da Europa no ranking armamentista mundial não são apenas os maiores investimentos por parte dos asiáticos, mas também a redução dos gastos militares no continente europeu, lembra o IISS.

Segundo o instituto britânico, a tendência dos últimos anos se reforça: enquanto a Ásia emprega mais verbas em armas, a América do Norte e a Europa, ambas em dificuldades econômicas, reduzem seus orçamentos militares. Desse modo, atualmente 19,9% dos gastos militares globais cabem à Ásia (inclusive Austrália), 17,6% à Europa e 42,0% à América do Norte.

Confronto indo-paquistanês

A ascensão da China ao posto de quinto maior exportador do setor (com uma participação de 5% no comércio mundial de armas, o qual segue sendo dominado por EUA e Rússia) se deve em especial às compras realizadas pelo Paquistão, para onde vão 55% das exportações de armas da China.
Uma vez que nenhuma das nações asiáticas com exceção da China possui uma indústria bélica digna de nota, elas dependem da importação de armas, explica Wezeman. A Índia, que compra sobretudo da Rússia, foi o país que mais importou armas nos últimos anos.

O general de brigada reformado paquistanês Farooq Waheed Khan atribui as compras de armas de seu país à proximidade de um arqui-inimigo: "A Índia segue sendo uma ameaça permanente para o Paquistão".

Segundo ele, a China substituiu os EUA como mais importante parceiro armamentista para os paquistaneses: "Um dos motivos principais para essa mudança estratégica é que o Paquistão considera os EUA um parceiro pouco confiável."

Pequim, por sua vez, tem interesse em abastecer o país sul-asiático com armamentos. E o objetivo, segundo Wezeman , "é manter a Índia em cheque e ter um parceiro que abra para a China o acesso à estrategicamente importante região do Golfo".
Modernização versus expansão

"Os países não só se modernizam, como em muitos casos estão também expandindo suas forças armadas. A ênfase é equipar a Aeronáutica e a Marinha", comenta Wezeman

E, nesse ponto, os chineses assumem papel pioneiro. "A capacidade da China de desenvolver de forma autônoma tecnologias militares avançadas transforma pouco a pouco o Exército de Libertação Popular", avalia o IISS.

O relatório do instituto estratégico cita como exemplo não só o primeiro porta-aviões do país cujas possibilidades operacionais, contudo, ainda são muito restritas como também o novo contratorpedeiro do tipo 052D, que presumivelmente ampliará as capacidades chinesas de combate marítimo-aéreo. Isso mostraria, segundo o IISS, o quão rapidamente a China assume a dianteira e como ela vem modernizando em especial suas forças de combate marítimas.

Entretanto, o Sipri ressalva que "os novos sistemas bélicos chineses continuam dependendo, em grande parte, de componentes estrangeiros". Seu porta-aviões, por exemplo, baseia-se num modelo ucraniano, e seus principais aviões-caça, tipos J-10 e J-11, seguem utilizando peças dos motores russos AL-31FN.

Entre os que mais se beneficiam da crescente modernização da indústria armamentista chinesa está o Paquistão, uma vez que os EUA se recusam a partilhar seus conhecimentos com os aliados. O general Khan lamenta que os americanos não se disponham a dividir com os paquistaneses a tecnologia de aviões não tripulados. No entanto, o ex-militar está seguro que a China poderá preencher essa lacuna.
 
Fonte: O Povo via Notimp
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