sábado, 19 de fevereiro de 2011

Conflitos por democracia no Oriente Médio deixam EUA num dilema


Dois dos governantes mais arraigados do Oriente Médio estavam lutando para se manter no poder no sábado, em meio a relatos de dúzias de manifestantes mortos na Líbia e de uma oferta do rei do Barein para conversações sendo rejeitada por manifestantes.

A agitação se espalhou da Tunísia e do Egito para Barein, Líbia, Iêmen, Djibouti, deixando os EUA com o dilema de manter a estabilidade na região rica em petróleo, enquanto defende o direito de manifestações para uma mudança democrática.

As forças de segurança da Líbia mataram 35 pessoas na cidade de Beghazi na noite de sexta-feira, segundo o grupo Human Rights Watch que citou testemunhas e fontes do hospital que teriam dito que essa é a maior demonstração de violência desde que Muammar Kadafi está no poder, há quatro décadas.

Os protestos contra o governo de Kadafi essa semana, inspirados nas revoltas na Tunísia e no Egito, foram recebidos com uma reação violenta. As restrições à mídia tem dificultado determinar a verdadeira extensão da violência.

O grupo Human Rights Watch, baseado em Nova Iorque, diz que os assassinatos de sexta-feira elevaram a sua estimativa sobre o número de mortos para 84, em três dias de protestos - a maioria deles ocorrendo na região agitada em Benghazi.

O grupo disse que as mortes na cidade, que fica a 1000 km ao leste de Trípoli, aconteceram quando as forças de segurança abriram fogo contra as pessoas que protestavam depois dos funerais de pessoas que haviam sido mortas em manifestações anteriores.

Não há nenhum comunicado oficial sobre o número de mortos.

"Fizemos um apelo para que todos os médicos em Benghazi se apresentem ao hospital e para que todos doem sangue porque nunca vi nada como isso antes," disse um alto funcionário do hospital, segundo o grupo de direitos humanos.

"As forças especiais, que têm uma forte lealdade a Kadafi, seguem lutando desesperadamente para manter o controle e as pessoas estão lutando contra elas, de rua em rua," disse um morador de Benghazi identificado como Mohammed pela BBC.

BAREIN

No Barein, um importante aliado dos EUA e que abriga bases militares norte-americanas no Oriente Médio, o principal bloco de oposição Xiita rejeitou um convite do rei, para dialogar, depois dos distúrbios dessa semana na ilha, disse um ex-deputado Xiita, no sábado.

"Não achamos que há uma verdadeira vontade de dialogar porque os militares estão nas ruas," disse à Reuters, Ibrahim Mattar, membro do bloco Wefaq, o principal partido Xiita da oposição, que se retirou do parlamento na quinta-feira.

Mattar afirmou que as autoridades teriam que "aceitar o conceito de monarquia constitucional" e retirar os militares das ruas, antes de começar qualquer diálogo.

"Então poderemos ter um governo temporário, com novas caras que não incluiria os atuais ministros do interior e da defesa," explicou.

O rei do Barein propôs um diálogo nacional com todos os partidos na sexta-feira para tentar colocar um ponto final na agitação que já custou seis vidas e centenas de outras vítimas desde segunda-feira.

Mais de 60 pessoas estavam hospitalizadas no sábado após os conflitos entre os manifestantes e as forças de segurança do Barein, que dispararam contra os cidadãos quando eles se dirigiam para a Praça Pearl no dia anterior.


ESTADOS UNIDOS

O presidente dos EUA, Barack Obama, falou com o rei na sexta-feira, condenando a violência e pressionando o governo que aja com moderação. De acordo com a Casa Branca, Obama disse que a estabilidade do Barein, vizinho da Arábia Saudita, depende do respeito pelos direitos do seu povo.

O governo é liderado pela dinastia Muçulmana Sunita Al Khalifa, mas a maioria da população Xiita vem reclamando há tempos da discriminação no acesso a empregos públicos, habitação e saúde. A acusação é negada pelo governo.

Os EUA e os grandes produtores de petróleo da Arábia Saudita vêem o Barein como um reduto Sunita contra o poder regional Xiita do vizinho Irã.

A contaminação da agitação pela região preocupa a Arábia Saudita, especialmente pelos possíveis efeitos no principal produtor de petróleo do mundo e ajudou a elevar os preços Brent do óleo cru essa semana, antes que outros fatores os derrubassem na sexta-feira.

Também foi um fator determinante para o melhor desempenho semanal do preço do ouro desde dezembro.

EGITO

Analistas dizem que a diferença fundamental entre a Líbia e o Egito é que Kadafi tem dinheiro do petróleo para apaziguar os problemas sociais.

Kadafi também é respeitado em muitas regiões do país, apesar de sofrer resistências na região Cirenaica, em torno de Baghazi.

"Certamente não há uma revolta nacional," disse Noman Benotman, um ex-oposicionista islâmico da Líbia, baseado na Grã Bretanha, mas que está atualmente em Trípoli. "Não acho que a Líbia pode ser comparada ao Egito ou à Tunísia. Kadafi lutaria até o último momento," disse ele por telefone, da capital da Líbia.

IÊMEM

No vizinho Iêmen, forças de segurança e pró-governistas entraram em choque, em várias cidades na sexta-feira, com as multidões que exigem o fim do governo do presidente Ali Abdoullah Saleh, que já dura 32 anos. Pelo menos cinco pessoas morreram e dezenas foram feridas.

Médicos disseram que quatro pessoas morreram baleadas em Aden, onde o ressentimento contra o governo de Sanaa é grande. Uma pessoa foi morta por uma granada em Taiz, a segunda maior cidade do Iêmen.

Pelo menos onze pessoas ficaram feridas em Aden, onde milhares de manifestantes enfurecidos pelo que eles disseram ser o uso de força excessiva pelas tropas de segurança protestaram nas ruas durantes horas.

Mais tarde, centenas de manifestantes ficaram sentados no centro de Aden, para protestar contra a morte de civis.

O presidente Saleh, um aliado dos EUA contra um braço da Al Qaeda baseado no Iêmen, está lutando para acabar com os protestos, que já duram um mês e se espalham por todo o seu empobrecido país.

Dezenas de milhares de dissidentes também lotaram a cidade de Taiz, 200 km ao sul de Sanna, a capital. Um morreu e 28 ficaram feridos, três gravemente, quando uma granada lançada de um carro, explodiu no meio da multidão, disseram os médicos.

DJIBOUTI

Manifestantes antigovernistas vigiados por tropas de choque da polícia ocuparam as ruas da cidade de Djibouti, depois das orações da tarde, na sexta-feira, pedindo a renúncia do presidente Ismail Omar Guelleh, cuja família está no poder da pequena nação do nordeste da África, desde a sua independência da França em 1977, informou a imprensa.

Guelleh tomou posse em 1999 e espera-se que ele concorra a um terceiro mandato em abril deste ano.

Djibouti, uma ex-colônia francesa que separa a Eritréia da Somália, abriga a maior base militar francesa na África e uma importante base dos EUA. Seu porto é utilizado pela marinha estrangeira que faz a patrulha das movimentadas vias marítimas na costa da Somália, para combater a pirataria. A taxa de desemprego é de aproximadamente 60 por cento.

"IOG fora" dizia uma faixa, utilizando as iniciais do presidente.

No Kuwait, 30 pessoas ficaram feridas em confrontos entre as forças de segurança e árabes apátridas que exigem receber a cidadania. Fontes das forças de segurança disseram que 50 pessoas foram presas.

Cerca de 300 pessoas exigiam reformas políticas e melhores salários, num protesto pacífico em Oman, na sexta-feira.

Homens e mulheres se reuniram em Ruwi, uma zona comercial da capital, Muscat, depois das orações e gritavam "queremos democracia," enquanto outros gritavam "melhores salários e empregos."

"Os preços dos alimentos e outras coisas básicas subiram duas vezes nos últimos três meses. O aumento não é suficiente," disse o estudante Mohammed Hashil à Reuters.

Manifestantes protestaram por cerca de uma hora e depois deixaram o bairro. Não houve relatos de prisões.

Fonte: Reuters
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