sábado, 18 de setembro de 2010

Sucessão no Egito representa teste de fogo para Forças Armadas


Quando uma caldeira na Fábrica Militar 99 explodiu no início de agosto, matando um trabalhador civil e ferindo outros seis, um grupo de funcionários convocou uma greve para exigir condições de trabalho mais seguras, algo que eles têm direito de fazer de acordo com a lei egípcia.

No entanto, antes do mês acabar, oito deles foram a julgamento – em um tribunal militar – por "divulgar segredos militares" e "interromper ilegalmente a produção".

A mensagem era clara: as regras que se aplicam ao resto do Egito não se aplicam aos militares, ainda a instituição mais poderosa em um Estado autocrático e que enfrenta seu teste mais difícil em décadas, uma iminente sucessão presidencial.

29 anos

O presidente Hosni Mubarak tem governado o Egito com poderes ditatoriais há 29 anos, mas está doente e não deve continuar no cargo depois que seu mandato atual chegar ao fim em 2011.

Oficiais reformados, militantes políticos e outros analistas dizem que a exibição de força dos militares diante da greve dos trabalhadores civis foi parte de um esforço concertado para pôr o carimbo militar sobre a escolha do próximo presidente.

Tecnicamente, os eleitores egípcios determinarão o seu próximo líder nas eleições de 2011, mas na prática a vitória é quase certa para o candidato do partido do governo. A verdadeira luta pela sucessão ocorrerá a portas fechadas, e é lá que os militares irão tentar garantir a continuidade de seu status ou mesmo tentar impedir o filho de Mubarak, Gamal, de chegar ao poder.

Autoridades militares apresentaram ressalvas em entrevistas e na mídia egípcia sobre Gamal Mubarak, um dos possíveis sucessores do presidente mais citados. Oficiais reformados e outros analistas disseram que os militares não apoiariam a sua candidatura sem garantias de que sua chegada ao poder iria manter a sua posição proeminente nos assuntos da nação.

No mês passado, alguns oficiais reformados circularam uma carta aberta criticando a candidatura de Gamal Mubarak e disseram em entrevistas que têm dúvidas sobre a sucessão hereditária. De acordo com esses oficiais e analistas, os militares têm muito a perder no processo de transição.

Vácuo

Anos de poder nas mãos de um único homem deixaram à margem instituições civis do Egito, criando um vácuo nos mais altos níveis do governo que os militares preencheram de boa vontade. "Já não há nenhuma instituição civil a qual podemos recorrer ", disse Michael Hanna, pesquisador da Fundação Century, que tem escrito sobre o exército egípcio. "É uma questão em aberto quanto poder os militares têm, e pode ser que nem mesmo eles tenham a resposta a isso".

Os militares egípcios, que receberam quase US$ 40 bilhões em ajuda dos EUA ao longo dos últimos 30 anos, transformaram-se em uma gigante força que controla não apenas a segurança e uma indústria de defesa cada vez maior, mas também tem ramificações em empresas civis, como as de construção de estradas e habitação, bens de consumo e gestão turística.

Para aumentar seu poder e prestígio, as Forças Armadas se ocultam por trás de um véu de sigilo, respondendo diretamente ao presidente, não ao primeiro-ministro ou a membros do gabinete.

Fonte: Último Segundo
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