sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Invasão da Ucrânia: Plano de paz de 28 pontos levanta críticas e temor de capitulação ucraniana

O suposto plano de paz de 28 pontos para encerrar a guerra na Ucrânia, discutido entre representantes dos Estados Unidos e da Rússia, provocou forte reação internacional e um profundo sentimento de alerta em Kiev. Para muitos analistas e autoridades europeias, o documento, ainda não oficialmente divulgado, representa um acordo que pune a vítima, premia o agressor e cria um precedente perigoso para a ordem global.

Segundo o que foi reportado pelo The Telegraph e outros veículos internacionais, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky recebeu uma versão preliminar do plano por parte dos Estados Unidos. Embora Kiev tenha mantido um tom diplomático, afirmando estar disposta a cooperar para alcançar a paz, os pontos atribuídos ao documento geraram preocupação imediata entre especialistas, parlamentares e governos aliados.

Entre as propostas mais polêmicas está a retirada completa da Ucrânia de Donbas, incluindo zonas atualmente sob controle ucraniano. A região se tornaria uma zona desmilitarizada, com a Rússia pagando um “aluguel” à Ucrânia, um mecanismo semelhante ao arrendamento do porto de Sebastopol antes da anexação da Crimeia em 2014. Para o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), esse ponto desmonta defesas essenciais da Ucrânia e permite que Moscou recomponha forças para futuros ataques.

Outros pontos complicados incluem a proibição de tropas estrangeiras na Ucrânia, a redução pela metade das Forças Armadas ucranianas, a limitação de mísseis de longo alcance e o adiamento da adesão à OTAN por tempo indeterminado. Parlamentares republicanos nos EUA criticaram duramente essas propostas, afirmando que equivalem a abrir caminho para uma nova invasão russa. Garantias vagas de segurança americanas não compensariam a vulnerabilidade criada por tais concessões.

O documento também menciona o reconhecimento, por parte dos Estados Unidos e outros países, da Crimeia e do Donbas como territórios russos, embora não exija formalmente que a própria Ucrânia o reconheça. Esse ponto, porém, seria suficiente para dissolver o arcabouço legal que sustenta as sanções e processos internacionais contra Moscou. Além disso, a proposta prevê a suspensão de julgamentos que investigam crimes de guerra cometidos pela Rússia.

A União Europeia se posicionou contra qualquer plano que não seja aprovado pelos próprios ucranianos e pelos europeus. A Alta Representante Kaia Kallas reiterou que a paz só pode ser considerada legítima se for justa e duradoura, e se reconhecer claramente quem é o agressor no conflito. Ela lembrou que, enquanto o plano circula, a Rússia continua bombardeando escolas, hospitais e prédios residenciais, demonstrando não ter qualquer interesse real em cessar-fogo imediato.

Entre os pontos mais controversos está ainda a imposição do idioma russo e o reconhecimento oficial da Igreja Ortodoxa Russa nos territórios ocupados, medidas que ecoam a política de russificação aplicada por Moscou em áreas anexadas.

ANÁLISE

O suposto plano de 28 pontos parece mais alinhado a um congelamento do conflito do que a uma resolução sustentável. Ele se assemelha a outros acordos historicamente prejudiciais, nos quais a vítima é forçada a ceder território e capacidade militar sob promessas frágeis de paz. O precedente mais citado é o de Munique, em 1938, quando concessões territoriais à Alemanha nazista foram justificadas como “garantias de paz”, mas apenas retardaram uma nova escalada.

Além de moralmente problemático, o plano criaria um modelo perigoso: grandes potências podem invadir vizinhos menores e, mesmo após violações de leis internacionais, negociar compensações simbólicas em troca de ganhos territoriais permanentes. Isso abalaria a arquitetura de segurança europeia e enfraqueceria a credibilidade das democracias ocidentais.

Para Washington, o plano também levanta dúvidas sobre coerência estratégica. Reduzir apoio militar, impedir a presença de tropas aliadas na Ucrânia e restringir armamentos não cria estabilidade, cria um vazio de segurança que favorece exclusivamente a Rússia. A promessa de Moscou de não atacar no futuro, ainda que gravada em lei, não possui validade prática, considerando o histórico recente de violações de acordos.

A proposta de transformar Donbas em uma zona desmilitarizada geraria, na prática, um buffer zone controlado indiretamente por Moscou, impedindo a Ucrânia de se aproximar da OTAN e deixando parte significativa de seu território vulnerável. Sem garantias robustas de defesa coletiva, essa estrutura serviria mais como preparação para um novo ciclo de agressão do que como garantia de paz.

Diante disso, o plano é visto não como um acordo, mas como uma capitulação disfarçada. Para que a paz seja realista, ela precisa incluir responsabilização por crimes de guerra, respeito à integridade territorial reconhecida internacionalmente e garantias de defesa que impeçam reincidência. Nada disso está claramente contemplado no projeto em discussão.

O que emerge desse suposto plano é um teste crucial para o Ocidente: até que ponto valores, tratados e compromissos serão mantidos diante do custo político e estratégico de uma guerra prolongada? A resposta a essa pergunta definirá não apenas o futuro da Ucrânia, mas o equilíbrio geopolítico europeu pelas próximas décadas.


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