sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Artilharia versus drones: a lição francesa inspirada na guerra da Ucrânia

A guerra na Ucrânia vem reescrevendo os conceitos clássicos de combate nos últimos quatro anos, mostrando que, apesar da ascensão tecnológica dos drones, os equipamentos pesados continuam essenciais no campo de batalha moderno. Essa lição foi recentemente reafirmada pelo Exército Francês durante uma demonstração de força no Campo de Canjuers, no sudeste da França, marcada por chuva torrencial e desafios logísticos que expuseram os limites da guerra contemporânea.

O exercício, realizado na semana passada, tinha como objetivo demonstrar a integração entre sistemas de artilharia pesada e tecnologia aérea não tripulada. No entanto, as condições climáticas adversas impossibilitaram a decolagem de drones e helicópteros, enquanto a artilharia manteve sua eficácia. Segundo observadores, a experiência ilustra a realidade enfrentada na Ucrânia, onde ataques mecanizados russos aproveitam neblina e chuvas para neutralizar capacidades aéreas, conforme estudo do Instituto para o Estudo da Guerra.

“O futuro passa pelos drones, mas eles precisam ser integrados de forma inteligente à tecnologia clássica”, afirmou o tenente-coronel Renaud Durbecq, comandante do 35º Regimento de Artilharia Paraquedista (35e RAP). “Em condições de chuva intensa, os drones ficam no solo, enquanto nossos canhões continuam a disparar.”

A demonstração militar e os limites do drone

A apresentação contou com a presença do fabricante KNDS e de diversas delegações militares estrangeiras. Os paraquedistas não puderam ser lançados, o tráfego civil no aeroporto de Nice causou restrições logísticas e até alguns disparos de artilharia precisaram ser adiados. Apesar disso, a demonstração evidenciou o avanço do regimento francês em integrar drones à artilharia moderna.

O 35e RAP utiliza obuses Caesar de 155 mm, equipados com canhões de 20 mm montados em caminhões, redes de camuflagem, iscas e sistemas de interferência portáteis para proteção contra ataques aéreos. O regimento passou por um rápido processo de “droneização”: agora possui cinco vezes mais drones do que no ano passado, triplicou o número de pilotos e dobrou as horas de voo.

Entre os equipamentos estão o drone Delair DT46, com alcance de 80 km, drones de reconhecimento e drones FPV para ataques de precisão. Uma inovação significativa é a conexão direta dos DT46 aos sistemas de controle de tiro, permitindo que os obuses Caeser abram fogo imediatamente após a detecção do alvo. Além disso, seis novos sistemas antidrone Proteus foram integrados, capazes de neutralizar ameaças aéreas com fogo direto ou interferência eletrônica.

Lições da Ucrânia e adaptação tática

A experiência ucraniana inspirou diretamente as novas táticas francesas. O pré-posicionamento de munição em pontos de tiro, por exemplo, visa reduzir o risco de destruição em caso de ataques por drones kamikazes, como o Lancet russo, que tem sido responsável por 75% das perdas de peças de artilharia no conflito. Comparativamente, os obuseiros Caesar franceses apresentam uma taxa de perda de apenas 15%, enquanto sistemas sobre lagartas chegam a mais de 50%.

O ex-coronel Olivier Fort, representante do KNDS e especialista em artilharia, destaca que a proteção das peças é fundamental, mas que a mobilidade continua crucial para o reabastecimento rápido e a sobrevivência no campo de batalha. “Cada sistema tem vantagens e desvantagens. Apostar exclusivamente em drones não é a estratégia vencedora”, afirmou.

Segundo Durbecq, “a maior qualidade de uma arma é a confiabilidade. E os sistemas de artilharia Caesar provaram isso, mesmo em condições extremas.”

Integração e equilíbrio

A lição do exercício francês é clara: drones e artilharia não são rivais, mas complementares. A guerra moderna exige uma abordagem híbrida, na qual tecnologia emergente e poder de fogo tradicional se combinam para garantir eficácia e resiliência. A experiência mostra que mesmo com drones cada vez mais avançados, a artilharia e os sistemas pesados permanecem insubstituíveis em cenários complexos, onde o clima e a imprevisibilidade do campo de batalha continuam a definir a vitória.

A França, assim, não apenas investe em inovação tecnológica, mas reforça a máxima da guerra moderna: capacidade de fogo confiável, integração inteligente e adaptação constante são tão decisivas quanto a sofisticação dos sistemas não tripulados.


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