A guerra na Ucrânia, que já dura quase quatro anos, está redefinindo a doutrina militar global, e a Alemanha parece determinada a aplicar rapidamente as lições aprendidas na linha de frente. Em 5 de novembro, o Bundestag aprovou o financiamento de um novo míssil de baixo custo, projetado especificamente para interceptar pequenos drones, sinalizando um reconhecimento pragmático de uma ameaça que já não pode mais ser ignorada.
Para a Bundeswehr, os drones de pequeno e micro porte representam "uma ameaça significativa para a população, os soldados, os sistemas de armas e a infraestrutura". A experiência ucraniana mostrou que esses dispositivos baratos e ágeis podem causar danos consideráveis, interromper operações e obrigar as forças armadas a reinventar sua defesa aérea.
O SADM (Small Anti-Drone Missile), desenvolvido pela MBDA e comercializado como DefendAir, surge como a peça-chave para transformar o Skyranger 30, sistema antiaéreo da Rheinmetall, em um caçador eficiente de drones. Até agora, o Skyranger dependia de seu canhão de 30 mm com munição programável AHEAD, capaz de disparar 1.200 tiros por minuto, mas limitado a um alcance de aproximadamente 3 km. Drones operando nos limites desse alcance frequentemente escapavam, tornando a defesa cara e ineficiente.
O SADM, derivado da família Enforcer da MBDA, amplia o alcance para cerca de 6 km e é projetado para neutralizar drones de Classe 1, com peso de até 150 kg. Segundo a Bundeswehr, a combinação entre canhão e míssil permitirá que um único veículo Skyranger derrube até trinta drones em uma única ação, proporcionando uma camada de defesa inédita e robusta. O projeto de desenvolvimento e aquisição está estimado em 490 milhões de euros, com produção em série prevista para 2029, alinhada à introdução gradual dos Skyranger.
Essa modernização integra-se a um contexto estratégico maior: o Programa Arminius, que visa fornecer diversas variantes do veículo de combate Boxer, com investimento total de cerca de 40 bilhões de euros. O objetivo é reconstruir a capacidade de defesa aérea de curto alcance (SHORAD), seriamente prejudicada após a Guerra Fria.
O CEO da Rheinmetall, Armin Papperger, afirma que a empresa espera vender mais de 1.000 sistemas Skyranger globalmente, enquanto a Bundeswehr poderá adquirir entre 600 e 650 unidades. O interesse é grande em toda a Europa, com Dinamarca, Áustria e Hungria já realizando encomendas de diferentes variantes. Todos esses esforços estão centralizados na Iniciativa Escudo Aéreo Europeu (ESSI), lançada para coordenar aquisições e fortalecer a defesa aérea coletiva do continente, uma lacuna estratégica brutalmente exposta pela invasão russa da Ucrânia.
A confiança na nova solução é reforçada pelo desempenho do Skynex, outro sistema da Rheinmetall já testado com sucesso na Ucrânia. Segundo Papperger, o Skynex provou ser eficaz não apenas contra drones, mas também na interceptação de mísseis. A aprovação do SADM não é apenas um avanço tecnológico; é uma validação de uma lição estratégica clara: na guerra moderna, enxames de drones baratos podem ser tão decisivos quanto mísseis de alto custo, e a defesa deve se adaptar rapidamente a esse novo cenário.
A Alemanha, com essa decisão, demonstra que a defesa aérea não é apenas sobre equipamentos caros ou arsenais tradicionais. Trata-se de adaptação e pragmatismo frente a ameaças modernas, reconhecendo que tecnologias relativamente simples, se bem integradas, podem redefinir o equilíbrio do poder militar.
O SADM e o Skyranger 30 são o retrato de uma nova era: mobilidade, precisão e custo-benefício se tornaram pilares centrais da defesa contra ameaças emergentes. Enquanto o mundo observa a evolução das batalhas na Ucrânia, a Alemanha mostra que, mesmo em tempos de paz relativa, a modernização da defesa aérea não é opcional, é uma necessidade estratégica e inevitável.
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