Javier Milei trouxe a questão naval de volta ao centro das atenções. Em entrevista televisionada no dia 6 de novembro, o presidente argentino confirmou que os planos de modernização da Armada de la República Argentina estão em andamento, com encomendas firmes de submarinos da classe Scorpène e navios de patrulha oceânica (OPVs) à França. Segundo fontes próximas ao governo de Buenos Aires, o objetivo é restabelecer o controle marítimo nacional e reforçar a fiscalização contra a pesca ilegal, um problema que vem crescendo na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) argentina.
O anúncio marca a retomada de negociações iniciadas no final de 2024, e abre um debate sobre configuração, cronograma de entrega e capacitação da Marinha argentina. No núcleo do programa estão os submarinos Scorpène Evolved, fornecidos pela Naval Group. Para a Argentina, trata-se do retorno a uma capacidade submarina que havia sido praticamente abandonada após a aposentadoria dos TR-1700 e a prolongada indisponibilidade das unidades restantes.
Projetado para exportação, o Scorpène combina modularidade, propulsão independente de ar (AIIP), autonomia superior a 50 dias e tripulação reduzida, de cerca de trinta marinheiros. Seu sistema de combate SUBTICS, equipado com sonares de proa e laterais, além de armamentos como mísseis F21 e Exocet SM39, permite atuação tanto em guerra antissuperfície quanto antissubmarino. Analistas destacam que, mesmo com um número limitado de unidades, a presença de um submarino furtivo no Atlântico Sul cria uma dissuasão estratégica real, elevando o custo de qualquer ação oportunista na região.
No plano de superfície, os OPVs da classe OPV-90, com 87 metros de comprimento e pequenas necessidades logísticas, complementam a presença naval argentina. Equipados com RHIBs, drones e capacidade para operar helicópteros leves, esses navios permitem fiscalização, busca e salvamento, coleta de informações e monitoramento da ZEE, liberando unidades maiores para missões de maior envergadura. A integração com os Scorpène garante uma dupla operacional de grande efeito: presença constante na superfície e ameaça submersa permanente, criando um ambiente de incerteza para atores hostis.
Além do aspecto técnico, a Argentina enfrenta desafios de financiamento, treinamento e sustentação logística. Estima-se que o investimento total supere US$ 2 bilhões, conforme carta de intenções assinada no final de 2024. Analistas defendem que a execução rigorosa das fases de implantação, aliada à formação antecipada de tripulações e suporte em serviço, será determinante para que a Marinha argentina transforme sua capacidade intermitente em presença permanente e crível.
A iniciativa argentina também reforça a importância da cooperação regional. Com interoperabilidade com Brasil e Chile, países que já operam o Scorpène, Buenos Aires poderá contribuir para um controle mais robusto da guerra antissubmarino (ASW) no Atlântico Sul. A troca de informações marítimas e a integração operacional ampliam a segurança coletiva da região, fortalecendo a governança e a proteção de ativos estratégicos, como campos de energia offshore e cabos de comunicação submarinos.
Oportunidade Perdida pelo Brasil
Enquanto a Argentina avança, o Brasil mantém um papel de espectador estratégico. Os submarinos construídos no Complexo Naval de Itaguaí pelo ICN, fruto do PROSUB, representam uma oportunidade que poderia ter sido explorada comercialmente. Exportar submarinos ou oferecer suporte técnico a países vizinhos não apenas geraria receita e empregos, mas também consolidaria o Brasil como referência em tecnologia naval estratégica e presença regional, projetando influência sem a necessidade de militarização explícita. Ao optar por não explorar essas possibilidades, o país deixa de transformar sua capacidade latente em protagonismo geopolítico, permitindo que concorrentes regionais preencham o vazio estratégico deixado pelo gigante sul-americano.
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