sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Controle de recursos naturais movimenta disputa pelas Malvinas



O aumento da tensão entre a Argentina e o Reino Unido pela soberania das ilhas Malvinas tem entre suas arestas a exploração dos recursos naturais no Atlântico Sul, um tema estratégico também com relação ao domínio antártico e que afeta outros países sul-americanos. "Sem dúvida, as Malvinas são um lugar estratégico do ponto de vista dos recursos naturais", disse à EFE Gabriel de Paula, especialista em energia e recursos naturais do Centro Argentino de Estudos Internacionais (CAEI).

O arquipélago, situado a 13 mil quilômetros de Londres e a 800 do litoral argentino, é rico em recursos pesqueiros, reservas prováveis de hidrocarbonetos - a prospecção ainda é marginal - e potencial para a extração de minerais do fundo do mar. Nesta terça-feira, após anunciar que denunciará o Reino Unido nas Nações Unidas pela militarização das ilhas, a presidente argentina, Cristina Kirchner, acusou os britânicos de "depredar" os recursos naturais nas Malvinas.

"A relação entre os recursos naturais e o domínio sobre as ilhas é constante, de ida e volta. De fato, os recursos naturais foram a causa do fim das distintas negociações antes da guerra de 1982", disse à EFE Bruno Tondini, professor da Universidade Nacional de La Plata e também membro do CAEI. Tondini disse que uma dessas negociações foram rompidas em 1974, quando os britânicos constataram o potencial petroleiro nas Malvinas.

As ilhas, ocupadas pelos britânicos em 1833, são além disso "fundamentais" para o abastecimento que Londres realiza em suas bases na Antártida, "onde as exigências de soberania do Reino Unido se sobrepõem com as da Argentina e do Chile", disse De Paula. A Antártida é rica também em recursos pesqueiros, minerais e hidrocarbonetos; estes dois últimos não podem ser explorados pelo Tratado Antártico - assinado em 1959 -, mas o especialista acredita que ele pode eventualmente ser revisado para permitir sua extração. "Em algumas regiões da península antártica, por exemplo, há escapes de gás natural que podem ser capturados para abastecer as bases. Isso constituiria uma mudança muito pequena, mas sensível, no tratado", disse De Paula.

Também tem importância a questão de água doce da Antártida: "No longo prazo, se houver uma crise mundial pela água, vão buscar este recurso onde esteja e ao custo que seja", afirmou. Neste contexto, os países da América do Sul se somaram à exigência argentina pelas Malvinas, uma adesão que, segundo Cristina Kirchner, parte de uma região que "entende a potencialidade do que pode acontecer".

A América do Sul é uma região com biodiversidade, terra fértil, água potável, hidrocarbonetos e baixa densidade populacional, o que faz com que os recursos não sejam explorados ao máximo. Segundo De Paula, "a região - uma área que nos últimos anos mostrou uma convergência política inédita -, percebe que do ponto de vista de seus recursos está em uma posição de privilégio e que, como tal, é preciso defendê-la. (...) O Brasil, em sua estratégia de defesa nacional, de 2008, já fala especificamente em uma hipótese de conflito de uma força muito maior sobre dois campos estratégicos para o país: o Amazonas, pela água, e o mar territorial, pela pesca e os hidrocarbonetos", disse o especialista.

Tondini, por sua parte, não vê chance de Reino Unido ofender a posição brasileira sobre recursos em sua plataforma marinha. "Mas acho que o Brasil seguiu a exigência da Argentina para se posicionar como líder de um grupo de países, a fim de, talvez no futuro, reivindicar uma porção da Antártida, marginalizando um dos atores extra-continentais do jogo, que é a Grã-Bretanha", afirmou.

Fonte: EFE
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