segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Canadá reavalia programa F-35 e abre espaço para discussão sobre possível adoção do Gripen E/F

O debate sobre o futuro da aviação de combate do Canadá voltou ao centro da agenda nacional após uma série de manifestações de ex-oficiais da Força Aérea, que defendem a manutenção integral do programa F-35A e alertam para os riscos de uma possível mudança de rota. A discussão foi reacendida em meio ao estreitamento das relações diplomáticas entre Ottawa e Estocolmo, intensificado pela recente visita do chefe de estado sueco.

O governo canadense, que havia selecionado oficialmente o F-35A como substituto dos veteranos Boeing F/A-18 Hornet da Real Força Aérea Canadense (RCAF), comprometeu-se originalmente com a aquisição de 88 aeronaves. Recursos já foram destinados à produção inicial de 16 aeronaves na fábrica da Lockheed Martin em Fort Worth no Texas. No entanto, a continuidade do programa ficou sob escrutínio após o primeiro-ministro Mark Carney determinar uma revisão completa do programa.

O pano de fundo político agrega complexidade: o esfriamento das relações entre Canadá e o atual governo norte-americano abriu espaço para discussões sobre alternativas industriais e estratégicas, e é neste contexto que o Gripen E/F da sueca Saab ressurge como potencial opção.

Ex-oficiais pressionam por manutenção da aquisição do F-35

Segundo a Radio-Canada, um grupo de ex-oficiais e ex-funcionários do setor de defesa enviou uma carta ao primeiro-ministro e a outros decisores em Ottawa. O documento, embora não tenha sido divulgado, teria sido assinado por figuras de peso, incluindo o ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Tom Lawson.

Embora Lawson não confirme publicamente sua assinatura, ele reforçou à imprensa que considera o F-35 uma plataforma “substancialmente superior” ao Gripen, ressaltando que manter duas frotas diferentes com cadeias logísticas e infraestruturas distintas, seria “praticamente inútil” em um cenário de conflito.

A posição dos ex-oficiais é clara: mudar de rota agora significaria aumentar custos, complicar operações conjuntas e diminuir a interoperabilidade com aliados centrais, especialmente dentro da OTAN.

A ofensiva diplomática sueca e a promessa industrial

A visita de autoridades suecas ao Canadá, incluindo o Ministro da Defesa Pal Jonson e a vice-primeira-ministra Ebba Busch, elevou o debate sobre possíveis cooperações industriais. Durante o encontro, a Saab reforçou seu argumento central: a oferta de montar uma linha de montagem do Gripen em território canadense, proposta vista como uma oportunidade para impulsionar a economia local.

A ministra da Indústria, Melanie Joly, afirmou que o atual acordo do F-35 não entregou o volume de empregos e benefícios industriais esperados pelo governo. Segundo ela, Ottawa está “muito interessada no que pode ser feito” com a opção sueca, embora ressalte que é necessário compreender melhor o escopo das vantagens.

Especialistas no país destacam que a modernização da frota não será analisada apenas sob o prisma militar. O professor Philippe Lagassé, referência em política de defesa, afirma que os benefícios industriais terão papel determinante na definição da estratégia canadense, especialmente diante da busca por maior autonomia econômica e fortalecimento de parcerias bilaterais.

A equação estratégica: desempenho, alianças e soberania

Enquanto o F-35 representa o patamar mais avançado da aviação de combate ocidental, com capacidade furtiva, sensores integrados e elevado nível de interoperabilidade, o Gripen E/F é visto como uma alternativa de menor custo operacional e maior retorno industrial, especialmente quando envolve transferência tecnológica e produção local.

Para o Canadá, a escolha transcende o fator técnico. Trata-se de definir prioridades estratégicas: reforçar a integração plena com os EUA por meio do F-35 ou buscar uma opção que aumente a soberania industrial e diversifique suas alianças, ainda que isso implique operar uma plataforma menos avançada do ponto de vista tecnológico.

Análise

O debate canadense representa um dilema que muitos países enfrentam: equilibrar soberania industrial com capacidade militar de ponta. Embora o Gripen E/F ofereça vantagens claras em custo operacional e potencial de desenvolvimento conjunto, o F-35 permanece como o vetor dominante nas estruturas de defesa ocidentais, especialmente no eixo Estados Unidos–OTAN.

A decisão final do Canadá não será apenas sobre qual caça voa mais longe ou vê primeiro, mas sobre que tipo de país Ottawa quer ser nas próximas décadas. A discussão revela uma tendência crescente: nações buscam reduzir dependências externas, fortalecer sua base industrial de defesa e ampliar o leque de parcerias estratégicas, mesmo que isso desafie escolhas previamente consolidadas.

Nesse cenário, o movimento canadense não deve ser interpretado como ruptura, mas como ajuste fino de prioridades. O mundo caminha para um ambiente mais multipolar, no qual capacidade militar, autonomia tecnológica e política industrial se tornam indissociáveis, e o Canadá, assim como tantas outras nações, está apenas reposicionando suas peças nesse novo tabuleiro.


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