A paralisação das negociações entre o Egito e a China para a possível aquisição do caça J-10C voltou a ocupar o noticiário internacional, especialmente após questionamentos da mídia chinesa sobre a súbita desaceleração da cooperação, poucos meses depois de uma demonstração pública que parecia prenunciar um acordo iminente.
Em 2024, sete caças J-10C e um cargueiro pesado Y-20 participaram do primeiro exercício aéreo conjunto entre Cairo e Pequim, uma operação que marcou simbolicamente o fortalecimento dos laços bilaterais. Sobrevoando as pirâmides de Gizé com fumaça multicolorida, o esquadrão chinês ofereceu ao mundo uma imagem cuidadosamente planejada de parceria estratégica e entendimento político. Para analistas e observadores internacionais, aquele gesto era o prenúncio de que o Egito estava prestes a dar um passo decisivo rumo à modernização de sua aviação de combate, tendo a China como fornecedora central.
À época, reportagens indicavam que o voo não era apenas um ato de cortesia diplomática, mas também um sinal claro de avanço nas negociações comerciais. O J-10C reunia características atraentes para a Força Aérea Egípcia, cuja frota de F-16 envelhecida e limitada operacionalmente não acompanha as demandas atuais de combate além do alcance visual (BVR). Paralelamente, o custo de expansão da frota de Rafales tornou-se inviável, ultrapassando os 250 milhões de dólares por aeronave.
Nesse cenário, o J-10C despontava como solução técnica e economicamente equilibrada. Equipado com radar AESA, míssil PL-15E de longo alcance e custo operacional inferior a 12 mil dólares por hora de voo, o caça chinês oferecia um pacote de desempenho compatível com as necessidades egípcias e com forte vantagem financeira. Pequim ainda se mostrou disposta a negociar um mecanismo de pagamento flexível, incluindo a possibilidade de compensação por receitas do Canal de Suez, um diferencial expressivo em tempos de restrições orçamentárias, mas a expectativa durou pouco.
Pressão americana muda o rumo do processo
Assim que Washington identificou o movimento egípcio em direção ao J-10C, os Estados Unidos mobilizaram sua estratégia tradicional, combinando advertências diplomáticas e incentivos militares. Fontes apontam que a ameaça de sanções via CAATSA entrou rapidamente na mesa, acompanhada da sinalização de possível corte da ajuda militar e econômica, um instrumento de pressão historicamente eficaz sobre o Cairo.
Em paralelo, os EUA apresentaram um pacote de armas de 4,67 bilhões de dólares, incluindo 200 mísseis AIM-120D, quatro baterias NASAMS-3 e um amplo programa de modernização da frota egípcia de F-16. A oferta vinha acompanhada de um argumento adicional: a total compatibilidade com a infraestrutura já existente no país, em contraste com os custos e ajustes necessários para incorporar um sistema chinês totalmente novo.
Para a mídia chinesa, o episódio expôs não apenas a influência americana sobre o Egito, mas também a preocupação de Washington com o avanço industrial chinês no setor de defesa. Pequim já demonstrou sua competitividade com exportações de alto impacto e resultados sólidos em conflitos regionais, e vê no crescente interesse global por suas plataformas aéreas um componente central de sua ascensão estratégica.
Mesmo sem o J-10C, relação sino-egípcia segue ativa
Apesar da interrupção nas tratativas envolvendo o J-10C, a cooperação entre Egito e China não foi paralisada. O Cairo recebeu sistemas de defesa aérea HQ-9B e incorporou o drone WJ-700, este último com capacidade de montagem local, indicando que a convergência militar entre os dois países se mantém viva e flexível.
Ao mesmo tempo, fontes sugerem que o Egito ainda não descartou completamente o J-10C. A contínua degradação da prontidão de combate dos F-16 e o alto custo de alternativas ocidentais fazem com que a aeronave chinesa permaneça no radar, mesmo que de forma discreta.
Uma disputa que está longe de terminar
O impasse sobre o J-10C se insere em uma equação complexa, na qual se misturam necessidades de modernização, pressões externas e cálculos estratégicos que ultrapassam o campo militar. O jogo de influência entre China e Estados Unidos segue intenso, e o Egito, buscando equilibrar autonomia e sobrevivência institucional, tenta evitar movimentos que possam comprometer sua posição geopolítica ou sua capacidade operacional imediata.
O que se observa, portanto, não é o fim de uma negociação, mas um novo capítulo na disputa por espaço no mercado global de defesa, e por extensão, por influência no Oriente Médio. A competição permanece aberta, e o desfecho pode depender menos das capacidades técnicas das aeronaves e mais da habilidade do Cairo em navegar entre pressões e oportunidades.
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