quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

H225M "Caracal" no Brasil - Uma análise sobre este importante vetor

O H225M "Caracal" é hoje um dos mais bem sucedidos helicópteros em operação no mundo, tendo uma considerável fatia do mercado, seja no mercado civil, onde é denominado H-225, ou no mercado de defesa, onde incorpora a letra "M", indicando seu emprego militar. O projeto originalmente francês, nascido nas pranchetas da Eurocopter, absorvida pelo grupo Airbus que comercializa e fabrica a aeronave, inicialmente foi designada como EC-725 "Caracal" ou "Super Cougar", passou a ser denominada H-225 e H225M após a incorporação pela Airbus. A aeronave curiosamente recebe três denominações diferentes no Brasil, conhecidos como H-36 "Caracal" na Força Aérea Brasileira, HM-4 "Jaguar" no Exército Brasileiro, e UH-15 "Super Cougar" na Marinha do Brasil,  é uma das mais modernas aeronaves em operação com nossas Forças Armadas (FAs).

Muito se tem debatido sobre a escolha do "Caracal" como espinha dorsal das três forças brasileiras, numa hipotética tentativa de padronizar os meios e melhor integrar a cadeia logística de asas rotativas nos três ramos de defesa do Brasil. Tal opção levantou uma série de controvérsias e mesmo críticas nos mais variados escalões do setor de defesa, que vai desde as próprias forças armadas, industria nacional de defesa e os especialistas no campo. O GBN Defense tem conversado ao longo dos últimos anos com diversas pessoas que atuam no setor de defesa e muitos operadores deste meio, que apesar das controvérsias, entrega um novo patamar tecnológico as FAs.

A escolha da aeronave francesa teve como maior mérito as posições políticas adotadas à época, quando havia uma grande aproximação entre Brasília e Paris, o que reforça os argumentos de muitos críticos que apontam a compra como meramente uma opção política, a qual corrobora com o fato da aeronave não ser unanimidade quando observamos o posicionamento de muitos oficiais e operadores quando se trata da adoção do "Caracal". Neste ponto, é nítido que haviam opções que melhor atendiam aos requisitos de cada força, porém, que foram ignorados, uma vez que a decisão partiu de Brasília, e não de uma requisição embasada por uma criteriosa análise técnica das necessidades e requisitos próprios de cada um dos três operadores de asas rotativas sob o Ministério da Defesa.

O contrato firmado em 2008, resultante do Programa H-XBR marcou como pioneiro na aquisição conjunta de meios para atender as FAs brasileiras, tendo sido apresentado como uma iniciativa voltada ao fortalecimento da indústria nacional de defesa, tinha como um dos seus objetivos a absorção de tecnologias e processos necessários para que o Brasil se torna-se capaz de conceber e produzir suas próprias aeronaves de asas rotativas. O acordo milionário tinha como alvo a aquisição de 50 aeronaves de médio porte H-225M, as quais atenderiam as necessidades operacionais nos mais adversos cenários de emprego, tendo em vista as dimensões continentais do Brasil e os variados teatros de operações que vislumbramos, sendo muitos desafiadores para operações de asas rotativas, como a nossa Amazônia Azul, floresta Amazônica, Pantanal e o Cerrado brasileiro,  tendo por missões o Transporte Tático, C-SAR, Evacuação Aeromédica, Transporte Logístico e Operações Especiais.


Analisando o "Felino".

Diferente da maior parte de seus concorrentes no mercado de defesa, o "Caracal" nasceu de uma plataforma civil, como é o caso de vários produtos da Airbus Helicopters, o que traz consigo toda uma complexidade no que tange a manutenção e operação da aeronave se comparada a meios militares. Neste quesito, estivemos conversando com várias pessoas que trabalham diretamente com a manutenção desta aeronave, e praticamente em todas as ocasiões ficou evidente a excelência com relação a capacidade técnica da aeronave, sendo de arquitetura moderna nos diversos campos, adota conceitos mistos em relação a sua operacionalidade, o que leva a pontos positivos e também alguns negativos. Os positivos dizem respeito a facilidade de se identificar falhas e problemas na aeronave, a qual possui inúmeros sensores e sistemas que facilitam o trabalho do pessoal da manutenção. Porém, toda essa modernidade vem acompanhada de grande complexidade, o que resulta em limitações para manutenir a mesma em situações de emprego fora dos complexos militares, necessitando de uma certa infraestrutura para que se possa realizar alguns serviços na mesma quando no teatro de operações, apesar de demandar apenas quatro técnicos para realizar a maioria das inspeções e reparos, além do conceito modular que simplifica sobremaneira o reparo e substituição dos componentes. 

Um de nossos amigos que já teve contato com aeronaves de concepção francesa e norte americana, nos confidenciou a grande diferença nas filosofias de ambas engenharias. Enquanto os projetos norte americanos primam pela simplicidade e objetividade dos manuais técnicos e facilidades no teatro de operações, os projetos franceses que em sua grande maioria são frutos de projeto destinados ao mercado civil, como o "Caracal", desenvolvido afim de atender ao mercado off-shore, possui complexa documentação técnica e requer uma infraestrutura mais complexa para que seja possível realizar determinados serviços em campo, o que pode significar limitações em determinados cenários de emprego.

Desde sua entrada em serviço com as FAs brasileiras, o H-225M tem apresentando uma relevante folha de serviço, tendo apresentado satisfatório rendimento e disponibilidade no cumprimento das missões as quais foi incumbido. Operando em situações complexas, já demonstrou a grande versatilidade de emprego que a mesma oferece, atuando tanto em regiões remotas da Amazônia, bem como sobre nossas águas territoriais, sendo um verdadeiro "cavalo de batalha". O H-225M atua constantemente nos mais variados cenários de emprego operacional, atuando em operações conjuntas e exercício entre as três FAs, conforme pudemos conferir em diversas ocasiões e sob as mais variadas condições climáticas, sobre terra ou mar. 

No geral, o H-225M se apresenta como uma boa solução as demandas brasileiras, apesar de não cobrir todos os requisitos esperados por seus operadores, onde cito como exemplo a necessidade do Exército Brasileiro, o qual tem como necessidade um vetor de asa rotativas que tenha relativa capacidade de ataque, a exemplo do S-70 Black Hawk, o qual pode receber semi asas dotando o mesmo de quatro estações de armas na configuração convencional, com leque de armas anticarro e antipessoal em configuração mista de ataque e transporte de tropas, mantendo relativa capacidade de manobra.

Nós iremos lançar em breve uma série de artigos abordando as particularidades do H-225M aqui no Brasil, as missões por ele executas e um pouco sobre sua operação em cada uma das forças brasileiras.

Dentre as aeronaves de sua categoria, é a que apresenta um dos maiores payload, capaz de levar 5.285kg ou 4.750kg de carga suspensa, atingindo peso máximo de decolagem de 11.200kg. O desempenho não deixa a desejar, atingindo velocidade máxima (Vne) de 324 km/h, com velocidade de cruzeiro de 262 km/h e alcance máximo de 900km sem tanque suplementar ou REVO.





Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança, membro da Associação de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais (AVCFN), Sociedade de Amigos da Marinha (SOAMAR), Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro (CVMARJ) e Associação de Amigos do Museu Aeroespacial (AMAERO).

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3 comentários:

  1. Ângelo, Boa tarde,
    Pergunto: poderíamos desenvolver no Brasil um helicóptero de ataque, como quer e precisa o nosso EB, a partir do Caracal?? Algo como um Apache ou Viper ou Alligator??
    Obrigado.
    Wanderley

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    Respostas
    1. Bom dia, acredito que a Helibras já possui expertise para partir rumo a algo novo. Porém, há dois importantes pontos que nâo podemos desconsiderar, primeiro a Helibrás pertence ao grupo Airbus, segundo ponto, o EB e mesmo a FAB não teriam escala suficiente para justificar tal desenvolvimento. Além de não dominarmos tecnologia de motores e outros pontos sensíveis do projeto, o que torna o custo de desenvolvimento e consequente risco de projeto muito altos.

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    2. Procure saber a respeito do Denel Rooivalk da África do Sul. Vai entender porque é preferível comprar um helicóptero assim a desenvolver.

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