domingo, 5 de janeiro de 2020

Assassinato de Soleimani, uma leitura do GBN Defense

O assassinato do general Qassem Soleimani chefe da Força Quds, a ala paramilitar da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, segundo homem mais poderoso do Irã, na última sexta-feira (3) durante um ataque cirúrgico dos EUA em Bagdá, representa o inicio de um novo período de turbulência e incertezas no Oriente Médio. 
Os primeiros efeitos do ataque começam a surgir, quando neste domingo (5) o Parlamento do Iraque aprovou uma resolução pedindo a retirada das forças estrangeiras de seu território. Um primeiro sinal do revés que pode resultar a atitude tomada por Donald Trump ao lançar o ataque que matou Soleimani, podendo isolar os EUA na região e afastar aliados.
Apesar das tentativas de justificar o assassinato de Soleimani, tentando veicular sua morte à uma hipotética prevenção de ataques terroristas, como tentam rotular o líder iraniano, acabam piorando ainda mais a imagem do presidente Trump, que violou deliberadamente um série de leis internacionais. Soleimani apesar de controverso, tendo lançado mão de métodos radicais e mesmo sangrentos em determinadas ocasiões, atuando nas sombras liderando uma das mais importantes forças iranianas, atuou de maneira eficiente no combate ao Estado Islâmico e no apoio ao governo legítimo da Síria, sendo considerado herói nacional no Irã e considerado pelo líder supremo do Irã, Ali Hosseini Khamenei, um dos mais importantes comandantes para proteger e expandir os interesses do regime no Oriente Médio. O assassinato de Soleimani é um ataque direto ao estado iraniano, podendo ser classificado como ato terrorista, curiosamente o que os EUA dizem combater.
Por que os EUA assassinaram Soleimani? Qual a importância de sua morte para estratégia norte americana na região?
Estas perguntas não podem simplesmente ser respondidas, levarão anos e até décadas para que possamos juntar as peças e chegar a uma conclusão crível das razões que motivaram  a execução deste ataque. Mas um ponto que devemos manter em pauta, é o forte interesse de aliados regionais dos EUA de neutralizar a influência iraniana que vem crescendo na região, a qual resulta principalmente pela capacidade de liderança de Soleimani e sua importância naquele cenário geopolítico, onde obteve importantes conquistas nos últimos anos, em especial na Síria e Iraque.  Dentre esses aliados opositores ao Irã de Soleimani, podemos listar o Premier israelense Benjamin Netanyahu e o polêmico príncipe Saudita Mohammed Bin Salman, os quais já manifestaram publicamente o pedido de uma resposta militar dos EUA contra Teerã.
Outro ponto que temos de manter em mente, são os interesses internos, com aliados internos do presidente Trump orientando uma mudança nas relações com Teerã, onde mesmo após pesadas sanções, o governo da nação persa continua firme, mesmo diante de uma grave crise econômica gerada pelas sanções, demonstrando o fracasso da política de "pressão máxima" visando desestabilizar o país e alimentar movimentos internos de oposição. O que se vê, é que mesmo diante da pressão o Irã se mantém firme em sua posição, tendo ampliando sua influência na região e estreitando relações com potências como China e Rússia.
Segundo alguns analistas, o assassinato de Soleimani seria uma resposta do ataque à embaixada dos EUA em Bagdá no início desta semana, o qual se acredita ter obtido apoio iraniano. Tal ato trouxe a memória dos estrategistas norte americanos um dos capítulos negros de sua história, a tomada da embaixada dos EUA em Teerã em 1979. Sob essa prerrogativa, Trump teria determinado um ataque "preventivo" , como forma de proteger vidas americanas em ataques futuros, e não um ato de guerra com o Irã, não deixando de ser uma demonstração de força.
Teerã tem expandido sua influência e lançando mão de ataques por procuração a alvos norte americanos e de seus aliados na região. Dentre estes, estaria o ataque a refinaria na Arábia Saudita, lançado pelos Houthis com apoio iraniano, bem como o ataque desta semana às posições dos EUA no Iraque.
Se a história for um guia, o Irã absorverá o ataque a princípio e evitará uma guerra total contra os EUA. Mas isso não descarta o aumento das operações secretas de Teerã, que deve atacar os EUA se valendo de estratégias assimétricas, utilizando-se de grupos armados opositores aos EUA, os quais devem ser equipados e apoiados pelo regime persa. Este será especialmente o caso no Iraque, onde o Irã há muito explora o fracasso dos EUA em apoiar Bagdá na reestruturação e segurança do país, apoiando milicias e o governo iraquiano.
Muitos tem levantado a eminencia de uma terceira guerra mundial, porém, analisando o cenário, o mesmo não possui elementos que possam ser o estopim de uma crise em larga escala que arraste o mundo para um novo conflito mundial, mas devemos nos manter atentos ao desenrolar dos fatos, onde de certo veremos o aumento nas tensões regionais.
O GBN Defense tem acompanhado os fatos e pretende trazer sempre uma leitura bem pautada e com bom senso, longe do sensacionalismo e posicionamentos sem embasamentos.

Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN Defense, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança, membro da Associação de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais (AVCFN), Sociedade de Amigos da Marinha (SOAMAR), Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro (CVMARJ) e Associação de Amigos do Museu Aeroespacial (AMAERO).

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1 comentários:

  1. Caro Ângelo fiquei feliz em ler o texto equilibrado e com perspectiva hstorica.Destaco,no entanto,que se deve aprofundar a tese de que a Rússia de Putin vai intensificar sua estratégia de apoio e fortalecimento do governo de Teerã e que a China entrará alinhada com sua estratégia de fortalecimento da infraestrutura do Irã,especialmente no interior do País. Que a situação da Arábia Saudita é delicada,não resta dúvidas,o que, fatalmente, levará tropas americanas a este país que é decisivo na aliança com Washington na região.Israel,por sua vez,agradeceu pela remoção do mais importante líder da elite militar iraniana.Tambem vale ressaltar que o Irão tem todas as condições de produzir bombas atômicas...um outro capítulo explosivo no Oriente Medio

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