A guerra entre Rússia e Ucrânia, que já se arrasta há mais de três anos, entrou em uma nova e arriscada fase com o avanço de tropas ucranianas dentro do território russo. Segundo declarações do comandante das Forças Armadas da Ucrânia, General Oleksandr Syrskyi, as forças ucranianas controlam atualmente cerca de 90 quilômetros quadrados na região russa de Kursk, mais especificamente no distrito de Hlushkov, a aproximadamente 90 quilômetros da fronteira ucraniana.
De acordo com Syrskyi, o objetivo das operações em Kursk é “preventivo”, uma resposta antecipada a um possível ataque russo em território ucraniano. Sem dar muitos detalhes sobre a estratégia ou o número de soldados envolvidos, o general reforçou que a iniciativa visa neutralizar ameaças antes que avancem para dentro da Ucrânia.
Estima-se que cerca de 10.000 soldados russos estejam empenhados nas tentativas de recuperar o território perdido na região, segundo fontes militares de Kiev. Esse movimento obriga Moscou a manter uma quantidade considerável de tropas em solo russo, afastando-as de outras frentes de combate.
Impacto no leste da Ucrânia: alívio temporário para Donetsk
Enquanto os combates se intensificam em Kursk, a Ucrânia tem conseguido reduzir a pressão russa em Donetsk, uma das regiões ucranianas mais castigadas pelos combates desde o início da invasão em 2022. Segundo o comando ucraniano, a necessidade de reforçar a defesa em Kursk obrigou a Rússia a realocar tropas e recursos que antes estavam concentrados no leste ucraniano.
Embora os avanços russos tenham se acelerado nos meses de maio e junho, a Ucrânia afirma que tais progressos têm sido obtidos ao custo de pesadas baixas russas, com destaque para as chamadas “táticas de pequenos grupos de assalto”, um método de combate que envolve o envio de pequenas unidades de infantaria para tentar abrir brechas nas linhas ucranianas.
A linha de frente e os desafios múltiplos
Atualmente, a linha de contato entre as forças ucranianas e russas se estende por cerca de 1.200 quilômetros, abrangendo não apenas o leste, mas também o norte da Ucrânia. As Forças Armadas de Kiev relatam que a situação permanece “extremamente difícil”, com constantes investidas russas em vários pontos da linha de frente.
Na região de Dnipropetrovsk, por exemplo, ataques russos recentes foram repelidos, mas os combates continuam, sobretudo nas áreas próximas das fronteiras administrativas das regiões de Donetsk, Luhansk e Kharkiv.
Além disso, a Rússia continua a executar ataques de longo alcance com drones e mísseis contra cidades ucranianas distantes da linha de frente, visando infraestruturas críticas e tentando minar a capacidade de resistência ucraniana.
Guerra aérea: inovação ucraniana diante de ataques com drones
Diante do aumento do uso de drones russos, principalmente os modelos Shahed, de fabricação iraniana, a Ucrânia tem investido em novas estratégias de defesa aérea. De acordo com os militares ucranianos, cerca de 82% desses drones têm sido interceptados com sucesso, mas a situação segue desafiadora.
Para enfrentar o crescente número de ataques, a Ucrânia tem buscado reforços em seus sistemas de mísseis terra-ar e desenvolvido o uso de aeronaves leves e drones interceptadores. Essa nova abordagem visa aumentar a taxa de neutralização de ameaças aéreas e reduzir o impacto em áreas urbanas e na infraestrutura civil.
O problema, no entanto, é que a Ucrânia carece de sistemas suficientes para cobrir todas as regiões vulneráveis, razão pela qual Kiev continua solicitando ajuda militar aos seus aliados ocidentais.
Guerra de longo alcance: ataques ucranianos dentro da Rússia
Além de sua defesa territorial, a Ucrânia também tem adotado uma estratégia ofensiva de longo alcance, direcionando ataques contra infraestruturas econômicas e militares dentro do território russo. As forças armadas de Kiev relatam que, entre janeiro e maio deste ano, os danos diretos causados à indústria de petróleo e gás da Rússia ultrapassaram US$ 1,3 bilhão.
Os danos indiretos, que incluem a desestabilização da produção de combustível, interrupções logísticas, e fechamento temporário de refinarias, foram estimados em US$ 9,5 bilhões, de acordo com o Ministério da Defesa ucraniano.
Entre as operações mais notórias está a chamada “Operação Teia de Aranha”, uma ação de sabotagem que teria danificado aeronaves de combate russas em solo, representando bilhões em prejuízos adicionais a Moscou.
Pressão estratégica: aumentando o custo da guerra para Moscou
A combinação de avanços territoriais limitados, ataques de longo alcance e operações assimétricas visa, segundo analistas militares, elevar ao máximo os custos financeiros, logísticos e políticos para o governo russo.
Ao forçar Moscou a dispersar tropas, reforçar suas defesas internas e absorver o impacto econômico de perdas nas suas infraestruturas, a Ucrânia tenta criar uma janela de oportunidade para consolidar suas posições defensivas e retomar a iniciativa nas áreas mais críticas do conflito.
Reflexões sobre os próximos passos
Ainda é cedo para avaliar se a ofensiva ucraniana em Kursk representa o início de uma nova doutrina militar mais agressiva por parte de Kiev, ou se se trata apenas de uma operação tática limitada, destinada a ganhar tempo e espaço para reorganizar suas forças.
O certo é que a guerra entrou em uma fase de maior imprevisibilidade, com o conflito extrapolando as fronteiras tradicionais e levando a combates em solo russo, algo que até recentemente parecia pouco provável.
O Kremlin ainda não apresentou uma resposta militar de grande escala ao avanço ucraniano em Kursk, mas o risco de retaliações em larga escala, seja por via aérea, terrestre ou cibernética, permanece alto.
Enquanto isso, os combates seguem intensos em Donetsk, Luhansk, Kharkiv e nas demais regiões ucranianas sob ataque, mostrando que, apesar dos avanços recentes, a Ucrânia continua enfrentando enormes desafios para garantir sua soberania e integridade territorial.
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