A Indonésia assinou em 11 de junho um acordo com a Türkiye para a aquisição de 48 unidades do caça de quinta geração KAAN, desenvolvido pela Turkish Aerospace Industries (TAI). O contrato, celebrado durante a exposição Indo Defense em Jacarta, representa a primeira venda internacional da aeronave stealth turca e marca um novo capítulo na cooperação em defesa entre os dois países.
Segundo a TAI, a entrega das aeronaves será realizada ao longo de um período de dez anos e incluirá não apenas a transferência de caças, mas também um robusto pacote de transferência de tecnologia. O acordo prevê a utilização da infraestrutura industrial e da capacidade de produção da Indonésia, permitindo que parte do processo de fabricação seja realizada localmente, com vistas ao fortalecimento das capacidades nacionais no setor aeroespacial.
“Este acordo abrange não apenas a entrega da aeronave KAAN, mas também inclui componentes significativos de transferência de tecnologia na área da aviação”, afirmou a TAI em comunicado oficial. “Por meio dessa cooperação estratégica, a Türkiye e a Indonésia visam promover o intercâmbio de conhecimento e aprimorar suas capacidades locais.”
O caça KAAN e sua evolução
Desenvolvido originalmente sob o nome TF-X, o caça KAAN foi apresentado ao público pela primeira vez no Paris Air Show de 2019. Seu voo inaugural foi realizado no ano passado, com a expectativa de que as primeiras unidades operacionais para a Força Aérea da Türkiye estejam disponíveis a partir de 2028. Atualmente, os protótipos do KAAN estão voando equipados com motores F110-GE-129, também utilizados nos caças F-16C/D Block 50/52.
Contudo, este motor é considerado temporário. A versão final da aeronave deverá ser equipada com o motor desenvolvido na Türkiye, o turbofan TF35000, atualmente em desenvolvimento sob a coordenação da TRMotor. Embora haja especulações sobre parcerias internacionais, como com a Rolls-Royce ou empresas asiáticas, o projeto busca, em última instância, alcançar autossuficiência tecnológica.
Projetado para missões multifuncionais, o KAAN incorpora tecnologias avançadas, incluindo aviônicos assistidos por inteligência artificial, e está sendo promovido como uma plataforma de alto desempenho tanto para missões ar-ar quanto ar-solo.
Expansão internacional e cenário competitivo
A adesão da Indonésia ao programa KAAN ocorre em um contexto de diversificação de fornecedores de material de defesa por parte de Jacarta. O país asiático já firmou acordos para a aquisição de 42 caças franceses Rafale, no valor de US$ 8,1 bilhões, e assinou um memorando de entendimento com os EUA para a eventual compra de 24 F-15EX, ainda sem contrato finalizado. Além disso, a Indonésia avalia a compra de caças J-10 da China e participa, com algumas controvérsias, do programa KF-21 da Coreia do Sul.
Em 2023, o Azerbaijão também assinou um acordo para integrar o programa KAAN, e há relatos de que o Paquistão e um país do Golfo ainda não identificado demonstraram interesse na aeronave.
Com a assinatura do contrato com a Indonésia, a Türkiye dá um passo importante para se consolidar como exportadora de caças de quinta geração, elevando seu perfil internacional no setor de defesa e ampliando sua influência geoestratégica no Sudeste Asiático.
Opinião – Um exemplo para o Brasil
O avanço da Türkiye com sua indústria de defesa, culminando na exportação de uma aeronave de quinta geração como o KAAN, é um reflexo de uma política de Estado sólida, investimentos de longo prazo e foco em autossuficiência tecnológica. Essa projeção crescente no mercado global é digna de atenção, e serve de inspiração para o Brasil.
O Brasil possui expertise reconhecida, como no caso da Embraer, e já demonstrou capacidade de liderar projetos de alta complexidade, como o cargueiro KC-390 e o programa de desenvolvimento do submarino convencionalmente armado com propulsão nuclear (PROSUB). No entanto, para alcançar o mesmo patamar de projeção internacional da Türkiye, é fundamental garantir continuidade nos investimentos, previsibilidade orçamentária e um ecossistema robusto de inovação, os quais possibilitem a expansão das capacidades de nossa BID e a torne competitiva no mercado internacional.
Além disso, o estreitamento de laços entre Brasil e Türkiye no campo de defesa seria de grande valia para ambos os países. Compartilhando desafios semelhantes, como a necessidade de autonomia tecnológica e fortalecimento da base industrial, as duas nações têm muito a aprender uma com a outra. Cooperações estratégicas, intercâmbio de conhecimento e desenvolvimento conjunto de tecnologias podem gerar ganhos significativos não apenas no campo militar, mas também no avanço científico e tecnológico de forma mais ampla.
A trajetória da Türkiye é um lembrete de que, com visão estratégica, disciplina e compromisso, é possível transformar ambição em liderança no cenário internacional da defesa.
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