domingo, 22 de junho de 2025

Análise - Ataques dos EUA ao Irã: precisão devastadora com risco de escalada

Na madrugada do último sábado, 22 de junho, por volta de 2h30, horário do Irã, os Estados Unidos lançaram uma ofensiva combinada contra três das principais instalações nucleares iranianas: Fordow, Natanz e Isfahan. A operação, batizada de “Operation Midnight Hammer”, envolveu sete bombardeiros stealth B‑2, vindos da base em Whiteman (Missouri), que largaram 14 bombas bunker-buster GBU‑57 MOP, cada uma com peso de 30 000 lb, e mais de duas dúzias de mísseis de cruzeiro Tomahawk disparados por submarinos.

O presidente Trump anunciou a ação nas redes sociais afirmando que “Fordow está destruída”, descrevendo a missão como um “sucesso militar espetacular”. As aeronaves dos EUA teriam ultrapassado espaço aéreo iraniano e retornado sem confrontos, com os sistemas iranianos de defesa aérea aparentemente sem reação.

Impacto e evidências por satélite

Imagens de satélite fornecidas pela Maxar Technologies mostram, no complexo de Fordow, seis crateras recentes, nuvens de poeira cinzenta e fragmentos de concreto, sinais claros da detonação de bombas de penetração profunda. O design da MOP visa explodir após penetrar profundamente, o que explica a ausência de grandes destroços superficiais, e sugere que os iranianos selaram os túneis antes do ataque para conter os danos internos.


Estima-se que alvos como Fordow, enterrado sob cerca de 80 m de rocha, foram diretamente visados pelas MOPs, cujo uso em combate foi confirmado oficialmente pela primeira vez. Enquanto isso, Natanz e Isfahan receberam ataques semelhantes, com Tomahawks complementando os impactos diretos.

Agências iranianas afirmam que não houve vazamento de radiação e que o estoque de urânio enriquecido já havia sido removido previamente para evitar danos ambientais . Representantes do país confirmaram que áreas afetadas em Qom, próximas a Fordow, não apresentam risco para a população.

Dissuadir, não derrubar

No Pentágono, o secretário de Defesa Pete Hegseth declarou que a operação foi um sucesso esmagador, afirmando que o programa nuclear iraniano foi “devastado”. Enfatizou ainda que a missão não visava troca de regime e que civis e tropas iranianas não eram alvos, mas as “ambições nucleares” do Irã .

O vice-presidente JD Vance reforçou esse discurso ao afirmar: “Estamos em guerra com as ambições nucleares do Irã, mas não com seu povo”, e garantiu que Washington e seus aliados trabalharão para desmantelar permanentemente o programa nuclear iraniano através de ações além do ataque.

Apesar da ofensiva militar, o governo americano sinalizou abertura à diplomacia. Hegseth declarou que o Irã ainda é bem-vindo à mesa das negociações. Já Trump advertiu: “Qualquer retaliação será respondida com força muito maior”.

Críticas e apoio: um país dividido

Dentro dos EUA, a reação foi polarizada, com muitos republicanos, inclusive o senador Lindsey Graham, elogiando a ação e classificando como necessária para conter o programa nuclear iraniano.

Já conservadores “MAGA”, como Steve Bannon e Marjorie Taylor Greene, criticaram, acusando Trump de envolvimento em outro conflito externo desnecessário.

Democratas, liderados por figuras como Hakeem Jeffries, questionaram a legalidade da operação sem autorização do Congresso e alertaram para um possível engajamento dos EUA em um conflito prolongado.

No âmbito internacional, a ONU, França, Reino Unido e União Europeia manifestaram preocupação com o risco de escalada, pedindo retorno à diplomacia. Israel, por sua vez, celebrou o ataque. O premiê Netanyahu classificou o poder militar americano como “justo e impressionante” e afirmou que isso complementou as ações israelenses na última semana .

Riscos de retaliação e nova escalada regional

De imediato, o Irã reagiu ativando defesas aéreas em regiões como Bushehr e Yazd, e lançou mísseis contra Israel, atingindo Tel Aviv e Haifa e provocando dezenas de feridos. Embora não tenha atacado bases americanas diretamente, o Irã advertiu que fechar o estreito de Ormuz está sob consideração, aumentando o risco para o tráfego global de petróleo .

Analistas do Council on Foreign Relations e da Carnegie alertam para uma possível fase prolongada de hostilidades: o Irã pode preferir uma retaliação assimétrica por meio de milícias no Oriente Médio. O Pentágono declarou que suas forças na região estão em alerta máximo e prontas para responder qualquer ação iraniana.

Diante da magnitude dos ataques, o Irã agora se vê pressionado a responder de forma que reafirme sua capacidade de dissuasão sem provocar uma escalada irreversível que leve a um confronto direto com os Estados Unidos. O histórico recente do regime iraniano aponta para um padrão de respostas assimétricas, cuidadosamente calibradas para causar impacto político e militar, mas com margem para negar responsabilidade direta.

Entre as respostas mais prováveis, analistas militares e especialistas em segurança apontam para o aumento das atividades das milícias pró-iranianas no Oriente Médio. Grupos como o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen e as facções xiitas no Iraque podem ser acionados para lançar ataques contra alvos dos EUA e de seus aliados, especialmente Israel e as bases militares americanas na região. Esses ataques podem variar desde disparos de foguetes e drones kamikaze até atentados contra instalações diplomáticas ou logísticas.

Outro cenário que preocupa Washington e seus aliados é a possibilidade do Irã optar por ações no ciberespaço. Nos últimos anos, Teerã expandiu consideravelmente suas capacidades de guerra cibernética. Instituições financeiras, infraestruturas críticas de energia e até sistemas de transporte nos Estados Unidos ou em países aliados, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, podem se tornar alvos de ataques coordenados. Esses movimentos permitiriam ao Irã retaliar de forma silenciosa, porém com grande impacto econômico e psicológico.

A possibilidade de um bloqueio parcial ou total do Estreito de Ormuz também permanece sobre a mesa. Cerca de um quinto do petróleo comercializado no mundo passa por esse estreito, e qualquer ameaça de interrupção no tráfego marítimo ali pode provocar pânico nos mercados internacionais e pressionar os Estados Unidos por uma resposta militar imediata. O Irã já demonstrou, em ocasiões anteriores, sua capacidade de minar o estreito ou lançar ataques contra petroleiros, como ocorrido durante as tensões de 2019.

Além dessas ações, há o temor de um ataque direto a Israel. A recente ofensiva de mísseis que atingiu Tel Aviv e Haifa pode ser apenas o início de uma escalada mais ampla. O Irã pode utilizar o Hezbollah para ampliar a pressão, com o lançamento de foguetes ou ataques coordenados contra o território israelense, o que arrastaria Tel Aviv ainda mais para dentro do conflito.

No plano diplomático, Teerã deverá recorrer a fóruns internacionais como o Conselho de Segurança da ONU para denunciar a ofensiva americana como uma violação da soberania iraniana e do direito internacional. Espera-se uma aproximação maior com Rússia e China, com o objetivo de ganhar respaldo político e diplomático no cenário global.

Por fim, uma das respostas que mais preocupa analistas de segurança internacional é a possibilidade de o Irã anunciar formalmente sua saída do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e acelerar o enriquecimento de urânio para níveis próximos aos necessários para a construção de uma bomba nuclear. Esse movimento seria encarado como um desafio direto não apenas aos Estados Unidos, mas a toda a comunidade internacional, e abriria um novo ciclo de tensões, com risco real de novos bombardeios preventivos.

Até o momento, o Pentágono mantém suas forças na região em estado de alerta máximo, com reforços a caminho de bases no Golfo Pérsico. A administração Trump, por sua vez, tem reiterado que qualquer retaliação iraniana será recebida com uma resposta "rápida, esmagadora e definitiva". O futuro imediato permanece incerto, e os próximos dias serão decisivos para determinar se o conflito caminha para uma contenção estratégica ou para uma nova guerra no Oriente Médio.

Equilíbrio entre poder e diplomacia

Esta operação representa uma nova página na história: o uso ofensivo pela primeira vez das bombas bunker-buster MOP em combate real. A missão expôs a capacidade operacional avançada dos EUA, conseguindo penetrar defesas subterrâneas altamente protegidas e infligir danos significativos ao programa nuclear iraniano.

Entretanto, o desafio a partir de agora é manter esse sucesso técnico sem desencadear um conflito de grandes proporções. O espaço diplomático ainda está aberto, mas estreito. A legitimidade política nos EUA, dividida e contestada, e as respostas iranianas, diretas ou por intermediários, vão determinar se este será o fim de um conto ou o prólogo de uma guerra regional prolongada.



Por Angelo Nicolaci


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com agências de notícias

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