O Brasil pode se tornar um polo estratégico para a indústria de defesa mundial. Essa é a visão de Hamad Al Marar, CEO da Edge Group, em entrevista recente à Folha de S. Paulo. Ele destacou que a aposta do conglomerado, sediado em Abu Dhabi, está na capacidade de engenharia brasileira e no potencial de transformar o país em um hub de exportação de tecnologias bélicas e aeroespaciais.
A Edge Group, que reúne 35 empresas de defesa em diferentes países e fatura cerca de US$ 5 bilhões por ano, entrou no mercado brasileiro em 2023 ao investir R$ 3 bilhões na compra de participação em duas companhias nacionais: a SIATT e a Condor. Segundo Al Marar, essa iniciativa faz parte de uma estratégia de longo prazo para consolidar uma base industrial sólida no país. “O Brasil é uma mina de ouro para talentos. Sempre teve e terá grande capacidade de engenharia. Buscamos uma base industrial para produzir e exportar para além das fronteiras do Brasil, que será um hub”, afirmou.
O executivo comparou o potencial brasileiro à trajetória de sucesso da Embraer, referência mundial em aviação, e defendeu que é possível repetir essa experiência no setor de defesa. “Tendemos a encontrar recursos tremendos no domínio da engenharia aeroespacial no Brasil e mal posso esperar para ver outra história de sucesso e replicar a Embraer novamente em uma escala maior”, declarou à Folha de S. Paulo.
Entre os negócios em curso, a aquisição de 51% da SIATT teve como objetivo dar continuidade ao desenvolvimento de um míssil antinavio iniciado pela empresa brasileira, programa que já conta com dois clientes confirmados: os Emirados Árabes Unidos e o Brasil. Já a compra de 50% da Condor permite que a companhia brasileira utilize as instalações do grupo no Oriente Médio, ampliando sua capacidade de exportação em um mercado no qual logística e seguros costumam ser entraves.
Além de armamentos, o Edge Group também estuda expandir sua atuação no Brasil para áreas como segurança pública e proteção de infraestruturas críticas. Durante a entrevista, Al Marar mencionou provas de conceito realizadas em São Paulo e Rio de Janeiro, muitas vezes financiadas pelo próprio grupo. “Temos mais interesse no Brasil do que em qualquer outra coisa, seja em elevar capacidades para beneficiar portos, negócios no setor imobiliário, turismo ou segurança alimentar”, destacou.
Com mais de 53% das receitas vindas de exportações, mas menos de 5% destinadas à América Latina, o Edge Group vê no Brasil uma oportunidade estratégica para ampliar sua presença regional. O executivo também comentou que as tensões internacionais recentes aceleraram processos de decisão de compra na Europa, abrindo espaço para maior reconhecimento da companhia junto à OTAN. “Temos contratos na Estônia, Polônia, Suíça, Alemanha, entre outros, além de joint-ventures com italianos, franceses e espanhóis. Estamos realmente tentando encontrar nosso caminho para que nossas soluções sejam reconhecidas pela OTAN”, afirmou.
Hamad Al Marar de 41 anos, é considerado pela Forbes um dos melhores CEOs do Oriente Médio. Antes de assumir o comando do Edge Group, presidiu a divisão de mísseis e armas da companhia e foi responsável por transformar a Tawazun (TEC) em uma exportadora global de defesa.
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