sexta-feira, 17 de setembro de 2021

50 anos do Lynx - Conheça a história do Lynx na Marinha do Brasil

 

Foto: Angelo Nicolaci - GBN Defense

Há 50 anos o primeiro protótipo do helicóptero Westland WG.13 alçava voo pela primeira vez, o protótipo XW835 decolou de Yeovil, no Condado de Somerset na Inglaterra, no dia 21 de março de 1971. O “Lynx” pintado na cor amarela iniciava ali a gênese de uma das mais fantásticas e icônicas aeronaves de asas rotativas, que até hoje continua evoluindo, mantendo suas garras bem afiadas, tornando-se os olhos e ouvidos dos navios de escolta em várias partes do mundo.

O audacioso programa de desenvolvimento buscava atender o nicho de mercado para helicópteros utilitários, com suas características e desempenho chamando a atenção do mercado militar, onde o projeto ganhou notoriedade e se tornou um marco da indústria aeronáutica militar britânica, dando origem a diversas variantes, destinadas a cumprir um grande leque de missões, seja em operações navais ou operações sobre terra, o “Lynx”  atuou em vários teatros de operações ao longo dos mais de 40 anos de serviço com exército britânico e a Royal Navy (Marinha Britânica), com seu batismo de fogo acontecendo aqui no Atlântico Sul, durante a Guerra das Malvinas/Falklands.

O “Lynx” detém ainda hoje o título de helicóptero mais rápido do mundo em sua categoria, sendo extremamente manobrável. A aeronave criada pela britânica Westland Helicopters, superou as expectativas e permanece ainda hoje em sua mais recente versão como uma aeronave naval letal, confiável e no “estado-da-Arte”.

Na Marinha do Brasil o “Lynx” se tornou um ícone inconteste há quase 43 anos, com sua história se fundindo a do esquadrão que foi criado exatamente para operá-lo, o 1º Esquadrão de Helicópteros de Esclarecimento e Ataque (EsqdHA-1 “Lince”). 

O Lynx e o Brasil: Conhecendo sua história

A história do “Lynx” no Brasil surgiu no final dos anos sessenta, época em que a Marinha do Brasil passava por um período de renovação da esquadra, e elaborava os requisitos de projeto dos seus novos escoltas, o que resultou nas fragatas da Classe Niterói.

Há época, o “Lynx” estava em fase final de desenvolvimento, sendo parte de uma nova doutrina de emprego, com a Royal Navy começando a introduzir novos conceitos na aviação naval, onde o “Lynx” surgia como aeronave padrão do sistema de armas de seus novos navios de escolta. Dentro da nova doutrina, a aeronave passava a atuar como extensão do sistema de armas do navio, ampliando o alcance dos sensores e a oferecendo maior capacidade de esclarecimento e resposta dos escoltas frente as ameaças no teatro de operações ao qual operava. Este novo conceito em desenvolvimento chamou atenção do Comando da Marinha do Brasil, a qual possui grande similaridade no que diz respeito a doutrina de emprego do poder naval com a britânica Royal Navy.

Assim, uma das exigências colocadas entre os requisitos da nova classe de escoltas Brasileiras, era ter capacidade de operar com helicóptero de pequeno/médio porte que se integrasse ao sistema de armas do navio e que o mesmo tivesse hangar para operar com aeronave orgânica. Após um criterioso estudo, a Marinha do Brasil optou pela aquisição por construção de seis fragatas baseadas no projeto Vosper Mk.10, assinando o contrato com estaleiro Vosper Thornycroft em setembro de 1970, dando origem a Classe Niterói.

Primeiro voo do "Lynx"

Ainda no âmbito da aquisição das novas fragatas, os britânicos atentos as necessidades e requisitos brasileiros, ofertaram através da Westland o Westland WG.13 “Lynx” (Como era denominado o “Lynx” durante o desenvolvimento), como resposta aos requisitos brasileiros, sendo este um dos mais recentes desenvolvimentos de sua indústria.

O “Lynx” ainda nem havia realizado seu primeiro voo, mas as características e capacidades oferecidas pela aeronave despertaram o interesse brasileiro, levando a Marinha do Brasil a apostar no binômio Vosper MK.10/Westland WG.13 “Lynx” como resposta para o reaparelhamento da esquadra e a concepção de uma nova doutrina de emprego que garantiria capacidades inéditas, projetando o poder naval brasileiro a um nível nunca antes alcançado.

SAH-11 "Lynx", a primeira versão operada pela Marinha do Brasil

Juntamente com a definição do projeto que daria forma a classe Niterói, foram encomendados inicialmente nove aeronaves Westland WG-13 Lynx, que a época ainda não havia tido nem o primeiro protótipo construído, o qual só viria a tomar forma e realizar seu primeiro voo no ano seguinte.

Um dos fatores que contribuíram para definição do “Lynx” como aeronave orgânica das novas fragatas brasileiras, era o fato da mesma ter sido projetada exatamente para operar embarcadas em fragatas do projeto Vosper Mk.10 dentre outros projetos britânicos, o que dispensaria qualquer necessidade de adaptações ao projeto do navio para acomodar a nova aeronave, e principalmente a integração aos sistemas do navio. A Marinha do Brasil foi o primeiro cliente de exportação do Lynx, fato que coloca o Brasil como um importante protagonista nesses 50 anos do primeiro voo do Lynx.

A aquisição dos novos meios levou a necessidade de criar uma estrutura para atender o novo conceito de emprego do poder naval através das aeronaves embarcadas nas fragatas da Classe Niterói. Assim, em 15 de maio de 1978 foi criado o 1º Esquadrão de Helicópteros de Esclarecimento e Ataque Antissubmarino (denominação inicial do EsqdHA-1, a qual foi alterada em 1997 para 1º Esquadrão de Helicópteros de Esclarecimento e Ataque), que inicialmente estava ocupando as instalações do EsqdHS-1, enquanto as novas instalações do esquadrão, apelidada de “Toca dos Linces”, não ficava pronta. O esquadrão passou a receber os primeiros exemplares do Westland “Lynx” Mk.21 ainda no primeiro semestre daquele ano.

A variante adotada inicialmente pela Marinha do Brasil foi a Mk.21 “Sea Lynx”, denominados aqui como SAH-11 “Lynx”, sendo a versão de exportação que tinha como base a variante britânica HAS Mk.2. Esta variante era a inicial de produção para a Royal Navy (Marinha Real Britânica e a marinha francesa.


Os novos “Lynx” Mk.21 eram capazes de realizar missões de ataque  de superfície (ASuW), equipados com quatro mísseis “Sea Skua”, além da capacidade de guerra antissubmarino (ASW), contando para esta missão com dois torpedos e cargas de profundidade, neste perfil operando vetorados pelos sensores das fragatas.

O Esquadrão foi finalmente ativado em 17 de janeiro de 1979, neste período a esquadra já contava com três fragatas da Classe Niterói incorporadas, porém, ainda sem contar com elemento aéreo orgânico. O primeiro pouso de um “Lynx” a bordo de uma fragata classe Niterói, ocorreria apenas em 20 de março do ano seguinte, no convoo da fragata “Constituição” (F42).

Inicialmente o “Lynx” era operado exclusivamente pelas fragatas Classe “Niterói”, o que perdurou até o princípio da década de noventa, com a chegada das fragatas Type-22, a Classe “Greenhalgh”, o EsqdHA-1 “Lince” passou a operar também a bordo destas fragatas, ampliando o emprego dos “Lynx” a outros navios de escolta, incluindo os saudosos Contra-torpedeiros da Classe “Pará”, além operar a bordo das corvetas Classe “Inhaúma” e a corveta da Classe “Barroso”, representando um desafio superado, com o convoo destas classes sendo os menores no mundo homologados para operar aeronaves da classe do “Lynx”.


O SAH-11 “Lynx” da Marinha do Brasil, foi a primeira aeronave de asas rotativas a introduzir misseis ar-superfície na América Latina, com o míssil “Sea Skua” da MBDA representando uma nova era nas capacidades de combate aeronaval, conferindo uma solução ímpar de ataque às fragatas brasileiras. Como curiosidade, o batismo de fogo do “Lynx” ocorreu com os britânicos durante a Guerra das Malvinas/Falklands, com envio de 24 aeronaves Lynx HAS Mk2 da Royal Navy realizando inúmeras surtidas e ataques contra as forças argentinas, marcando também o primeiro emprego em combate dos mísseis “Sea Skua”, que fizeram naquele conflito suas primeiras vítimas.

O Super Lynx

A Marinha do Brasil nos anos 90 identificou a necessidade de ampliar as capacidades do EsqdHA-1, principalmente após a incorporação de novos navios de escolta, como as fragatas Type-22 adquiridas junto à Royal Navy, e a incorporação das novas corvetas da Classe Inhaúma, entregues entre 1989 e 1994. O aumento da força de superfície, somados as perdas sofridas pelos “Lynx” desde sua entrada em serviço, levaram a decisão de adquirir novos exemplares da aeronave em 1995, desta vez a nova variante denominada Agusta/Westland Mk.21A “Super Lynx”.

O “Super Lynx” era mais avançado que seu antecessor, trazendo importantes inovações, como os novos motores GEM-42 e o radar Seaspray 3000 com cobertura em 360° sob o nariz, dando novas capacidades ao EsqdHA-1, que entre 1992 e 1996 contava apenas com cinco aeronaves remanescentes da primeira variante operada pela MB (os cinco exemplares sob registro N-3021, N-3023, N-3025, N-3026 e N-3027).

Foto: Luiz Padilha

O primeiro AH-11A “Super Lynx”, sob registro N-4001 chegou ao Brasil em 9 de setembro de 1996, seguido pelo segundo lote de duas aeronaves (N-4002 e N-4003) em 27 de janeiro de 1997, o terceiro lote com outro par de aeronaves (N-4004 e N-4005) foi recebido em 26 de fevereiro de 1997, as aeronaves N-4006 e N-4007 foram entregues em 21 de julho de 1997 e os dois últimos exemplares, N-4008 e N-4009 chegaram a Macega no dia 11 de agosto de 1997. Posteriormente, os cinco AH-11 “Lynx” remanescentes foram modernizados, sendo elevados ao padrão AH-11A “Super Lynx”, com EsqdHA-1 passando a contar então com 14 aeronaves do tipo em seu inventário.

Como todo sistema de armas, a plataforma do “Super Lynx” brasileiro (Mk.21A) não parou no tempo, introduzindo diversos melhoramentos ao longo de seu ciclo operacional. Entre essas melhorias implementadas aos AH-11A brasileiros, em março de 2003 foram adquiridos e instalados kits de tanques-suplementares para ampliar a autonomia de voo das aeronaves. O novo sistema aumentou em 300kg a capacidade de combustível do “Super Lynx”, o que representou um ganho de aproximadamente uma hora de voo em sua autonomia.


Em 2009, os “Linces” receberam novas atualizações, passando a contar com uma torreta FLIR Star SAFIRE III na parte superior do nariz. O “Super Lynx” passou a empregar novos armamentos, com variadas configurações. Entre as opções poderia receber duas metralhadoras FN Herstal MAG calibre 7,62 mm ou M3M (GAU-21) calibre 12.7 mm (.50) nas portas laterais para missões de patrulha e interdição, além dos mísseis ar-superfície MBDA “Sea Skua” para emprego contra alvos de superfície. Apesar de não ser sua missão principal, o AH-11A também poderia empregar torpedos e cargas de profundidade para atacar submarinos se vetorados pelas fragatas conforme já citamos anteriormente. O sistema de navegação e busca de alvos era feito pelo radar Marconi Seaspray Mk.3000 instalado na parte inferior do nariz.

“Lince Selvagem” a nova geração Wild Lynx

A última variante do “Lynx” conhecida como “Wild Lynx”, começa esta entrando em operação, com oito células originalmente construídas no padrão “Super Lynx” sendo elevadas a nova variante, a qual introduz diversos melhoramentos e modificações, com as células sendo submetidas a um extenso programa de modernização realizado pela unidade da Leonardo em Yeovil, no Condado de Somerset na Inglaterra, o berço dos Lynx.

WildLynx a mais moderna aeronave de esclarecimento e ataque naval do continente - Foto: Angelo Nicolaci - GBN Defense
 

Os motores LHTEC CTS800-4N representam um importante ganho em termo de confiabilidade, segurança e desempenho. Segundo o Capitão de Fragata Bruno Tadeu Villela, Comandante do EsqdHA-1, a nova motorização adotada pelo “Wild Lynx” representa um ganho de aproximadamente 40% em potência à aeronave, que entrega 1,563hp de potência, além de se tratar de um motor de arquitetura moderna, a qual reduz o trabalho da equipe de manutenção, resultando no menor custo hora/voo e maior índice de disponibilidade da aeronave.

Oito células do AH-11A “Super Lynx” foram selecionadas para passar pelo processo de modernização, fruto do contrato firmado em 2014 com a Agusta/Westland (hoje Leonardo). Dentre os pontos críticos mais relevantes do programa, está a substituição dos motores Rolls-Royce GEM-42 de 1.120hp, pelos motores LHTEC CTS800-4N da joint-venture composta pela Rolls-Royce e Honeywell, uma nova e moderna suíte aviônica baseada na arquitetura de cabine “Full Glass Cockpit”, compatível com Óculos de Visão Noturna (OVN), um novo processador tático, sistema de navegação baseado em satélite, Sistema de prevenção de colisões (TCAS), sistema de identificação automático (AIS), sistema RWR integrado com dispensadores de contra medidas, além de um novo guincho de resgate acionado eletricamente.

Capitão de Fragata Bruno Tadeu Villela, Comandante do EsqdHA-1

A nova cabine “Full Glass Cockpit” traz avanços tecnológicos que reduzem a carga de trabalho para tripulação, e diferente de muitos projetos de modernização ou integração de configurações “Glass Cockpit”, seu layout respeita a disposição de instrumentos encontrada no AH-11A, onde o gráfico e disposição remetem aos mesmo que haviam no “Super Lynx”, com isso reduzindo o tempo necessário para adaptação dos tripulantes na nova aeronave, além de proporcionar melhor interface homem/máquina, com conforto e importante ganho em segurança operacional.

O “Wild Lynx” já vem com a cabine equipada para operar com Óculos de Visão Noturna (OVN), mas o equipamento ainda levará algum tempo até ser objeto de qualificação das equipagens de voo, pois no atual cenário operativo, os navios de escolta hoje em operação, não contam com sistemas de operação noturna com uso de OVN, o que não coloca a qualificação das tripulações em voo com OVN uma prioridade.

No horizonte não muito longínquo, com a construção das novas fragatas da Classe “Tamandaré”, a qualificação em operações noturnas com uso de OVN será uma realidade com a incorporação e entrega das novas fragatas ao setor operativo da Esquadra, tendo em vista que a configuração destas escoltas conta com sistema de operação noturna que possibilita o emprego de óculos de visão noturna.

                                                                                                                                                                                               Foto: Angelo Nicolaci - GBN Defense

As “garras” do Lince continuam afiadas, e devem passar a integrar novos armamentos, com o “Sea Skua” podendo dar lugar aos modernos e letais mísseis israelenses Rafael Spike-ER, com as negociações para aquisição e integração do novo armamento bem adiantadas.

Atualmente já chegaram à Macega quatro exemplares da variante “Wild Lynx”, das quais duas (N-4001 e N-4004) já estão em operação, enquanto o AH-11B N-4005 está na fase final do processo de avaliações e aceitação, e o quarto exemplar (N-4003) em fase final de montagem para iniciar o processo de avaliação e aceitação. Outras quatro células já estão em Yeovil onde estão sendo submetidas ao programa de modernização, devendo em breve concluir o processo previsto pelo programa.

Ainda não há qualquer previsão no horizonte para substituição do “Lynx” como aeronave orgânica da Marinha do Brasil em suas escoltas, com EsqdHA-1 “Lince” no meio do processo de recebimento da mais moderna variante do “Lynx”, a qual continuará sendo os olhos e as garras da força de superfície da Marinha do Brasil.


Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN Defense, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança. Membro honorário da "Ordem do Lince".

MATÉRIA TAMBÉM PUBLICADA NA EDIÇÃO DE "A MACEGA", REVISTA DA FORÇA AERONAVAL BRASILEIRA


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