quarta-feira, 23 de maio de 2012

Indústria de defesa brasileira ganha impulso com tecnologias inovadoras



Na última década, o Brasil tem assistido a uma retomada do investimento governamental em projetos de defesa. A projeção do País no exterior, fomentada principalmente pela estabilidade política, crescimento econômico e melhorias sociais, leva o Brasil a uma nova realidade estratégica. O desenvolvimento de novos produtos, com tecnologia de ponta e utilização dual – tanto militar como civil – vem ganhando fôlego. A FINEP já investiu cerca de R$ 1 bilhão em projetos que vão gerar uma gama de conhecimentos e de inovações que tendem a se multiplicar. “A defesa é um dos grandes vetores de inovação, que é o caminho para se atingir o patamar do mundo desenvolvido”, diz Sami Hassuani, presidente da Avibras, empresa que está desenvolvendo o primeiro Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) genuinamente nacional.

Como imaginar o mundo contemporâneo sem computadores, internet, telefones celulares e satélites?

Essas tecnologias que fazem parte do dia a dia da maioria das pessoas, direta ou indiretamente, há décadas, foram concebidas originalmente para uso em defesa militar. A necessidade de decifrar mensagens codificadas do inimigo, principalmente na Segunda Guerra, impulsionou a pesquisa de computadores e programas. Foi também a comunicação entre tropas e o imperativo de monitorar a segurança de fronteiras, por exemplo, que fomentou o desenvolvimento de satélites e de telefonia sem fio. E a internet surgiu como um programa militar americano nos anos 1960.
A tecnologia de defesa multiplica-se, adapta-se e transforma-se em inúmeras aplicações de uso diário na vida civil, desde a pesquisa de medicamentos até a previsão do tempo. Além da importância estratégica que representa para um país, o investimento em defesa é também definido por seu caráter dinâmico e desdobrável da tecnologia dele derivada, ou seja, sua aplicação dual. Esse caráter duplo dos projetos de defesa alinha-se com a dinâmica do próprio mercado.

Ao produzir o primeiro VANT no Brasil, a empresa Avibras, por exemplo, está gerando tanto um produto necessário no setor de defesa (o patrulhamento de fronteiras é uma das finalidades) quanto algo utilizável na vida civil (monitoramento do trânsito urbano, entre outros). “Todos os países que geram conforto, investem pesado em saúde, educação, inventam bens de consumo e se mantém na vanguarda, são aqueles que têm como meta a inovação movida pela indústria de defesa, que puxa a tecnologia ao extremo”, afirma o presidente da Avibras, Sami Hassuani.

Avião sem piloto

Um pequeno avião feito de fibra de carbono, com peso de 700 quilos e com 11 metros de comprimento de asa a asa. Dentro dele, em vez de um piloto, podem ser instalados até sete sensores, três câmeras, um radar de vigilância e um link de satélite. Assim é o Falcão, o VANT da Avibras, único no mundo em sua categoria, com capacidade para carregar até 150kg. Trata-se de uma aeronave que poderá ser usada em missões estratégicas. “Com câmeras e conexão via satélite, o Falcão poderá fazer a vigilância de áreas de fronteira, monitoramento de locais remotos, como o interior da floresta amazônica, entre outras aplicações”, explica Renato BastosTovar, gerente do projeto na Avibras. Até o final de 2011, o protótipo e a preparação para os voos devem estar concluídos.

O Falcão é a materialização de um projeto apoiado pelo programa de subvenção econômica da FINEP, em conjunto com outros projetos de pesquisa relacionados, que serviram para formar mão de obra qualificada e construir conhecimento nacional no setor. Segundo o economista Rodrigo Girdwood Acioli, analista do departamento de Áreas Estratégicas da FINEP, “o Falcão ilustra claramente a importância da integração dos diversos tipos de apoio da Financiadora, algo que tem sido perseguido pela direção da empresa”. Ainda segundo Acioli, o VANT é um “ótimo exemplo de produto que deverá ter um amplo mercado”, com a implementação dos projetos SISFRON (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), do Exército, e do SisGaaz (Sistema de Monitoramento da Amazônia Azul, como é chamado o potencial de riquezas da costa brasileira), da Marinha, “por se tratarem de mega projetos que demandarão um montante imenso de investimentos governamentais”, diz o economista.

Um gargalo importante que ainda precisa ser solucionado é a certificação, que é a ponta final do processo de inovação, que vai da pesquisa básica até o lançamento do produto no mercado, que só é atingido depois de certifica- do. “Ainda não há uma linha de financiamento específica para esta última etapa, o que às vezes acaba por impedir a viabilidade do lançamento do produto no mercado. A solução para esse gap na etapa final da cadeia de inovação tem sido constantemente solicitada pelas empresas apoiadas”, afirma o analista da FINEP.

Excelência em radares

O SISFRON e o SisGaaz também implicam em grandes investimentos em radares, outro foco de apoio maciço da FINEP. Diversos projetos de desenvolvimento de radares estão em curso, fabricados pela Orbisat, empresa de São José dos Campos (SP), em parceria com instituições de pesquisa com o apoio da FINEP. O pioneiro de uma família de radares fabricados no Brasil é o SABER M60, desenvolvido pelo Centro Tecnológico do Exército (CTEx), no Rio de Janeiro. Iniciado em 2006, o projeto está hoje no mercado, disponível inicialmente para o Exército Brasileiro e já com encomendas da Aeronáutica. Segundo a tenente Giselle Farias, do CTEx, o SABER M60 “é o mais avançado no mundo em sua categoria, e seu concorrente mais semelhante, feito em Israel, tem algumas limitações tecnológicas em comparação ao produto brasileiro”, afirma.
O radar destina-se a integrar um sistema de defesa antiaérea de baixa estatura, visando a proteção de pontos e áreas, como indústrias, usinas e instalações governamentais. Está adaptado para operar em quaisquer condições climáticas encontradas na América do Sul. O SABER M60, assim como outros radares, serão amplamente utilizados nos planos dos SISFRON e SisGaaz.

A excelência da Orbisat chamou a atenção da recém-criada Embraer Defesa e Segurança, que adquiriu este ano 90% da divisão de radares da Orbisat, que mantém sua equipe e estrutura, com uma administração independente. “Ganhamos muito com a mudança e a sinergia entre as duas empresas vem facilitar o crescimento da Orbisat”, afirma seu presidente, Maurício Aveiro. O presidente da nova unidade da Embraer, Luiz Carlos Aguiar, explica a razão do investimento:

– Hoje existe uma preocupação maior com o controle de fronteiras, com a preservação dos recursos naturais e hídricos, com a área de exploração do pré-sal e com a segurança pública. Portanto, o Brasil precisa ter um sistema de monitoramento mais eficiente. É uma questão de proteção estratégica e enxergamos uma grande oportunidade de negócios nesta área. Por isso, investimos R$ 80 milhões em aquisições, desde janeiro deste ano. A Orbisat é uma empresa que produz uma tecnologia interessantíssima, uma das poucas no mundo com capacidade de olhar por baixo das copas das árvores da Amazônia e fazer um mapeamento e sensoriamento daquela região.

Laboratório móvel

Outros dois projetos recentes, resultados da parceria entre a FINEP e o CTEx, merecem destaque: o laboratório móvel químico e biológico e o monóculo de imagem térmica.

Único do gênero na América Latina, o laboratório móvel já se encontra totalmente operativo e teve sua estréia pública no sorteio dos grupos para a Copa do Mundo de 2014, que ocorreu no Rio de Janeiro em julho deste ano.

A unidade é aparelhada com equipamentos nos quais podem ser rapidamente coletadas amostras de substâncias suspeitas, e ali mesmo serem analisadas. “O laboratório é totalmente independente, podendo ser acoplado a vários tipos de viaturas e movido a qualquer parte, sem necessidade de adaptações”, esclarece o coronel Paulo Fernando Pinto Malizia Alves, coordenador do projeto.

Já o monóculo de imagem térmica é um equipamento óptico que detecta imagens na escuridão completa: ele capta ondas de infravermelho, ou seja, “vê” a temperatura de qualquer objeto, com luminosidade zero, mesmo em ambientes com fumaça ou neblina. O capitão Leonardo Bruno de Sá, chefe do Grupo de Optrônicos e coordenador do projeto, afirma que, além da aplicação militar, que é a detecção de alvos no escuro, o potencial dual da tecnologia aplicada no monóculo é grande: “já há estudos para a aplicação desta tecnologia na análise de inflamações no corpo humano, por exemplo.

Em segurança, poderá ser usado na inspeção de instalações elétricas, com a finalidade de verificar problemas de condutividade pela temperatura”, diz o capitão. O monóculo está na fase de testes finais do protótipo operacional, que é o último nível antes de começar a ser fabricado. Existem similares em poucos países do mundo. A empresa de tecnologia óptica, Opto Eletrônica, ganhadora em 2009 do Prêmio FINEP de Inovação, na categoria Média Empresa, é a parceira do CTEx neste projeto. (Veja nesta edição a matéria sobre empresas inovadoras vencedoras nacionais do Prêmio).
Parceiro da Orbisat nos radares, o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) é uma unidade do Exército Brasileiro que funciona como um órgão de apoio do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação (DCT). Trata-se de um complexo tecnológico que tem a função de supervisionar e executar a pesquisa tecnológica, o desenvolvimento experimental, a normatização e a avaliação técnica do material de emprego militar. A história do apoio da FINEP ao Ctex vem desde a sua criação, em 1979. “A FINEP tem papel fundamental na implantação do CTEx, e todos os projetos de vulto desenvolvidos nos últimos anos têm recursos da Financiadora”, diz o coronel Roberto Castelo Branco Jorge, adjunto à subchefia do CTEx.

DCTA: berço de inovações

Situado em São José dos Campos (SP), o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), unidade da Força Aérea, é sinônimo de pesquisa, desenvolvimento e inovação. São frutos de seu campus o programa Pró-Álcool e a Embraer, entre outras. E é nas Turbinas, está sendo testado numa estrutura montada especialmente para ela, no DCTA. 

O pesquisador José Francisco Castro Monteiro, da Divisão de Propulsão Aeronáutica, afirma que foi “a própria necessidade de mercado que impulsionou o projeto, já que não há turbinas do gênero produzidas no País”. Além da importância mercadológica, a expertise adquirida pode vir a auxiliar no futuro desenvolvimento de novas turbinas. “Nosso sonho é desenvolver turbinas grandes, para aeronaves tripuladas, mas ainda não temos tecnologia para tanto”, diz Monteiro.

O coronel engenheiro Antônio Carlos Ponce Alonso, chefe da Subdivisão de Aeronáutica do IAE destaca a importância da parceria dos setores públicos e privado para o avanço de inovações como a TAPP: “É fundamental que essas parcerias sejam cada vez mais frequentes. Sem isso, é impossível se desenvolver. A criação da Lei da Inovação foi um grande impulso, mas temos que aplicá-la na prática de maneira mais generalizada”, diz o coronel.

Fonte: FINEP

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1 comentários:

  1. Acho que o país esta no rumo certo na área comercial e científica. Pena que na militar ainda esta tímido, devemos investir mais em armamento de longo alcance para podermos proteger as riquezas marítimas.

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