A Dinamarca concluiu oficialmente a incorporação do sistema de artilharia ATMOS às suas forças terrestres com a chegada das últimas unidades adquiridas, completando um total de 19 veículos. O novo meio de apoio de fogo foi recentemente submetido a exercícios de tiro real conduzidos pelo 1º Batalhão de Artilharia na área de treinamento de Borris, em condições típicas do rigoroso inverno escandinavo, com baixa luminosidade, temperaturas reduzidas e visibilidade limitada.
Mesmo em um cenário de penumbra quase constante, em que se torna difícil distinguir se são três da manhã ou cinco da tarde, as equipes de artilharia testaram o alcance e a precisão dos obuseiros de 155 mm montados sobre a plataforma ATMOS. Capaz de atingir alvos a até 40 quilômetros de distância, aproximadamente o trajeto entre as cidades de Horsens e Aarhus, o sistema demonstrou elevada eficiência, precisão e rapidez na aquisição e engajamento de alvos, consolidando sua prontidão operacional.
O ATMOS é um sistema de artilharia autopropulsado sobre rodas que combina um caminhão de alta mobilidade com um obus de 155 mm montado em sua parte traseira. Cada viatura é operada por uma tripulação de cinco militares e foi projetado para oferecer uma combinação de poder de fogo, mobilidade estratégica e rapidez de emprego. Atualmente, os sistemas são operados diariamente a partir do Quartel de Oksbøl, sede do Regimento de Artilharia Dinamarquês. O 1º Batalhão de Artilharia integra a 1ª Brigada e tem como principal missão fornecer apoio de fogo pesado e de longo alcance às forças de manobra.
Segundo o tenente-coronel Kenneth Riishøj, comandante do batalhão, uma das principais vantagens do ATMOS em relação ao sistema CAESAR, anteriormente empregado pela Dinamarca e posteriormente doado à Ucrânia, é a flexibilidade operacional. De acordo com ele, o ATMOS conta com diversos modos de operação, inclusive manual, o que permite que o sistema continue em funcionamento mesmo em caso de falhas em componentes automatizados. Isso aumenta significativamente o tempo de disponibilidade em combate, reduzindo a necessidade de manutenção imediata e ampliando sua presença efetiva no campo de batalha.
Outro ponto de destaque é a mobilidade do sistema. Por estar montado sobre um chassi sobre rodas, o ATMOS deixa menos marcas no terreno quando comparado a viaturas sobre lagartas, o que reduz sua assinatura visual e facilita a dispersão após os disparos. Essa característica favorece a chamada tática “atirar e deslocar”, essencial no atual cenário de guerra altamente monitorado por sensores e drones. A capacidade de mudar rapidamente de posição após a execução de uma missão de fogo aumenta consideravelmente a sobrevivência do sistema frente à ameaça de contra-bateria e vigilância aérea inimiga.
Devido ao seu alcance estendido, a Dinamarca enfrenta limitações geográficas para a realização de alguns tipos de treinamento. Como alternativa, os disparos foram efetuados a partir de terrenos civis em direção à área militar de Borris, um método não convencional, mas que já é empregado há décadas por unidades de artilharia nas proximidades das regiões de Borris e Oksbøl. Esse tipo de adaptação demonstra a flexibilidade doutrinária dos dinamarqueses e a importância atribuída à manutenção de uma capacidade real de tiro, mesmo em um território relativamente pequeno.
A introdução do ATMOS no serviço dinamarquês ocorre em um contexto de mudanças profundas no ambiente de segurança europeu. Após a doação de seus sistemas CAESAR à Ucrânia, a Dinamarca acelerou a busca por uma solução capaz de recompor, e ao mesmo tempo modernizar, sua artilharia de campanha. A escolha do ATMOS reflete uma tendência crescente entre países da OTAN por sistemas mais ágeis, móveis e capazes de operar de forma distribuída, em harmonia com as novas doutrinas de combate de alta intensidade.
Antes de sua chegada definitiva ao país, o ATMOS já havia sido testado tanto pelo fabricante quanto por outros operadores internacionais. Além disso, a própria Defesa Dinamarquesa realizou uma série de testes adicionais, incluindo exercícios de tiro no ano passado. A experiência prévia das equipes de Oksbøl com outros sistemas de artilharia facilitou significativamente a transição. Conforme destacou o tenente-coronel Riishøj, o retraining se concentrou principalmente nas particularidades estruturais e operacionais do novo sistema, uma vez que os conceitos doutrinários de emprego da artilharia permaneceram basicamente os mesmos.
A partir do próximo ano, recrutas também passarão a operar o sistema ATMOS, o que indica sua plena integração ao ciclo regular de formação do Exército dinamarquês. Atualmente, os 19 sistemas ainda pertencem formalmente à Organização de Aquisição e Logística do Ministério da Defesa, mas a expectativa é que sejam transferidos ao controle direto do Exército na próxima primavera.
A consolidação do ATMOS como principal sistema de artilharia autopropulsada da Dinamarca representa não apenas um avanço tecnológico e operacional, mas também um sinal claro do empenho do país em fortalecer suas capacidades de disuasão e defesa em um contexto marcado por crescentes tensões na Europa. Mais do que uma simples substituição de equipamentos, trata-se de uma modernização estratégica, alinhada às exigências do campo de batalha contemporâneo.
O caso brasileiro e o custo da decisão sem critério técnico
Enquanto a Dinamarca avança na modernização de sua artilharia de campanha, incorporando o sistema ATMOS de 155 mm como vetor estratégico de apoio de fogo de artilharia de longo alcance, o Brasil seguiu na direção oposta ao cancelar sua intenção de aquisição do mesmo sistema para o Exército Brasileiro, sem apresentar até o momento uma justificativa técnica clara, transparente ou baseada em critérios operacionais.
A decisão brasileira causou perplexidade em círculos militares e estratégicos, especialmente porque o ATMOS havia sido selecionado após análises técnicas e avaliações operacionais conduzidas pelo próprio Exército. Trata-se de um sistema que atende plenamente às necessidades doutrinárias da Força Terrestre, oferecendo mobilidade, alcance, precisão, elevada cadência de tiro e capacidade de sobrevivência no campo de batalha moderno.
O cancelamento ocorreu em um cenário de tensões diplomáticas entre o governo brasileiro e Israel, país de origem do sistema, com a decisão motivada por alinhamentos ideológicos e posicionamentos políticos externos, e não por critérios técnicos, logísticos ou estratégicos. Essa decisão é especialmente sensível quando se considera que a defesa nacional deve ser uma política de Estado e não de governo, orientada por interesses permanentes, e não por conjunturas diplomáticas transitórias.
O impacto dessa escolha vai além de uma simples troca de fornecedores. A interrupção do processo afetou diretamente o planejamento de reaparelhamento da artilharia brasileira, atrasou a modernização de capacidades críticas e ampliou a defasagem tecnológica. Em um cenário internacional cada vez mais instável, marcado pela volta de conflitos de alta intensidade e pelo protagonismo da artilharia no campo de batalha, abrir mão de um sistema já selecionado tecnicamente representa um retrocesso significativo.
Também chama atenção o contraste com aliados e parceiros estratégicos. Além da Dinamarca, outros países optaram por fortalecer suas forças de artilharia com soluções modernas, reconhecendo o papel decisivo do fogo de longo alcance em conflitos contemporâneos, como visto na Ucrânia. O Brasil, por sua vez, segue adiando decisões estruturantes, mantendo sistemas envelhecidos e postergando investimentos que impactam diretamente sua capacidade de dissuasão.
Ao subordinar decisões estratégicas de defesa a disputas ideológicas ou a agendas de curto prazo, o país compromete não apenas a eficiência operacional de suas Forças Armadas, mas também a sua credibilidade como nação soberana. A história demonstra que nações que negligenciam suas capacidades de defesa acabam reduzindo seu próprio poder de negociação no cenário internacional.
Mais do que uma simples compra cancelada, o episódio do ATMOS simboliza um problema maior: a ausência de continuidade em programas estratégicos de defesa e a dificuldade do Brasil em tratar segurança nacional como prioridade de Estado. Em um mundo onde poder militar ainda é um dos pilares do poder nacional, decisões como essa cobram um preço alto, que não aparece no presente imediato, mas se manifesta inevitavelmente no futuro.
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