sábado, 13 de novembro de 2021

Reforço na artilharia de campanha

Desde os primórdios das guerras que há a necessidade de neutralizar o inimigo o quanto antes e a uma distância segura.

Uma das armas mais indicadas para realizar essa função é a artilharia. As primeiras peças de artilharia se originaram na Grécia Antiga, em torno de 400 AC, ganhando importância em guerras territoriais.


A China foi um dos primeiros países no mundo na utilização da artilharia em suas batalhas, por exemplo na disputa pela região de Fujian. As primeiras peças de artilharia chinesas eram muito simples, sendo feitas normalmente de bambu ou de ferro, desenvolvidas em tamanhos e calibres diferentes para determinadas funções, entre elas: a destruição de muralhas, contra a infantaria e contra a cavalaria do inimigo.


Mas foi nas guerras Napoleônicas que houve o uso generalizado da artilharia nos combates, e ela foi primordial para as vitórias obtidas no campo de batalha. 



Com o passar do tempo, as tecnologias bélicas evoluíram ainda mais.


Foi na Primeira Guerra Mundial que se notou que a artilharia poderia atingir alvos a distâncias cada vez maiores, mas as limitações tecnológicas faziam com que o alcance das peças menores ainda não fosse tão grande quanto necessário, com os maiores alcances sendo atingidos apenas com peças gigantescas de artilharia, armas extremamente pesadas e complexas de se operar, como por exemplo os canhões ferroviários franceses, com alguns deles podendo ter um calibre de mais de 320mm



Estes canhões eram muito grandes e complexos, e era muito difícil movê-los de uma região para a outra, com isso vindo a mudar com a Segunda Guerra Mundial. 


Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, as potências perceberam que precisavam de meios mais ágeis mas que ao mesmo tempo pudessem causar grandes danos aos inimigos.


Esta conjunção de fatores levou ao surgimento da famosa artilharia autopropulsada (AP), sendo basicamente os obuseiros de campanha montados em veículos, permitindo assim uma excelente mobilidade, mantendo o poder de fogo.


Outra forma de artilharia iria se destacar, a artilharia de foguetes (MLRS, do termo em inglês para 'lançadores múltiplos de foguetes'), com o exemplo mais comum sendo o do soviético "Katyusha", que permitia o lançamento de dezenas de foguetes em um determinado local em poucos segundos.


No presente artigo focaremos na AP, e abordaremos os MLRS em um artigo futuro.


AP no Exército Brasileiro


A artilharia autopropulsada (AP), desde a Segunda Guerra Mundial, é muito bem vista por praticamente todos os exércitos do mundo, sendo indispensável em cenários de guerra, com sua principal vantagem sendo a capacidade de atacar um inimigo a dezenas de quilômetros e sair rapidamente da área, praticamente impossibilitando o fogo de retorno que possa neutralizá-lo.


O Exército Brasileiro (EB), desde a 2° Guerra Mundial, opera sistemas de artilharia de campanha, mas não operava sistemas AP, com isso mudando ao começar o Século 21.


O EB chegou a operar sistemas de artilharia AP de 105mm,  o M-108 norte americano, que já foi desativado pelas forças terrestres.


O M-108 operou em vários conflitos, como a Guerra do Vietnã, sendo utilizado pelo US Army contra os vietcongs do Vietnã do Norte. Após a guerra do Vietnã, muitas unidades foram vendidas ou doadas a outros países, entre eles o Brasil, que adquiriu cerca de 70 unidades deste veículo.


O M-108 teve uma longa e proveitosa carreira no EB, mas foi recentemente substituído pelos M-109, de 155mm, muito mais poderosos e eficazes no cenário atual.


O M-109 revolucionou a nossa artilharia autopropulsada, com o Exército Brasileiro operando hoje mais de 60 unidades destes poderosos e versáteis veículos, distribuídos entre as variantes M-109 A2/A3,  M-109 A5 e M-109A5+BR.


Como tudo tem que evoluir, o Exército Brasileiro (EB) está no mercado à procura de um novo sistema AP, mas desta vez não sobre um veículo com lagartas, como é o caso do M-108 e do M-109, e sim de um veículo sobre rodas.

Trata-se de um estudo para a aquisição de até 36 novos obuseiros autopropulsados para a artilharia do Exército, com o projeto sendo voltado para veículos sobre rodas, 6x6 ou 8x8. 


Muitos países utilizam sistemas AP baseados em veículos sobre rodas; eles apresentam vantagens ante os veículos montados sobre lagartas, como por exemplo a manutenção, que acaba sendo mais fácil e prática, economizando tempo e dinheiro, além de também ter suas vantagens em certos tipos de terreno, por exemplo em rodovias pavimentadas.


O chefe do Estado Maior do Exército Brasileiro (EME) aprovou a Diretriz de Iniciação do Projeto Viatura Blindada de Combate Obuseiro Autopropulsado 155mm sobre rodas (Pjt VBCOAP 155mm SR). O projeto está focado na reestruturação de três grupos de Artilharias Divisionárias (AD), com as 36 unidades sendo o número considerado ideal para essa reequipagem.


Outro ponto do programa é o uso de munições inteligentes e convencionais para atacar alvos a uma distância de até 40km, com a produção destas munições de alcance estendido em território nacional, através da transferência de tecnologia (ToT). O projeto será baseado em um caminhão militar, com o calibre exigido sendo o padrão OTAN (155mm / 52 calibres), com a data inicial de operação proposta sendo a partir de 2025. 


O EME ainda não decidiu qual sistema será escolhido, mas fontes de dentro do Exército citam o veículo francês "Caesar" e o israelense ATMOS, ambos sobre e rodas e com tração 6x6, como os favoritos entre os oferecidos.


O mercado ainda possui outras opções que estão sendo avaliadas, como o  M777 PORTEE e o NORA, todos eles disponíveis em versões de 155mm / 52 calibres. 



Caesar 6x6:


O Caesar 6x6 é um obuseiro desenvolvido na França, para o exército francês, com aproximadamente 300 unidades fabricadas para o "Armée de Terre" e outros clientes.


Trata-se de um obus no padrão OTAN (155mm / 52 calibres) desenvolvido pelo Nexter Group, e é utilizado atualmente por França, Arábia Saudita, Indonésia e Tailândia. Utiliza o chassi de um Renault Sherpa 5, tem um peso de aproximadamente 18 toneladas, e é operado por uma guarnição de 5 militares, apresentando uma cadência de até 6 disparos por minuto.



ATMOS 6x6:


O ATMOS, por sua vez, é um obuseiro AP de origem israelense, desenvolvido pela empresa Soltam Systems. Foi desenvolvido visando sua exportação, sendo estudado por alguns países, como a Polônia e Azerbaijão, é um obuseiro desenvolvido no padrão OTAN, seu calibre é de 155mm / 52 calibres, com uma cadência de até 5 disparos por minuto. Sua tripulação pode variar entre 4 e 6 militares, sendo desenvolvido em cima do chassi de um caminhão Tatra 6x6, e se encaixa muito bem nos requisitos do EB, com seu peso oscilando entre as 22 e 23 toneladas de peso bruto.



Há outras possibilidades?


Com o surgimento deste inusitado projeto, surgiram muitas dúvidas diante da plataforma e do desenvolvimento do programa, com uma delas sendo a plataforma onde o canhão será montado, com muitos perguntando se poderia ser desenvolvida uma versão "nacional" e com chassis já utilizados pelo EB, ao invés de comprar sistemas 'de prateleira', ou seja, praticamente pronto e disponível no mercado.


O desenvolvimento de um obuseiro, em si, é um empreendimento muito complicado e complexo, com empresas de defesa que já possuem histórico de desenvolvimento demorando longos anos para concluir estes monstros.


O Brasil não possui empresas com histórico de desenvolvimento de obuseiros AP, mas, pode-se desenvolver os veículos através de parcerias com empresas internacionais, o que acaba sendo um ganho de experiência na área e de menos dependência de países estrangeiro na nossa defesa.


O lado "negativo" de tal empreitada é o custo de se desenvolver tais sistemas, que acaba sendo absurdamente caro e demorado, com o programa atual sendo planejado para apenas 4 anos, o que acaba sendo um tempo muito pequeno para se desenvolver um projeto desta magnitude.


Mas nossas fontes informam que o EB considera seriamente esta possibilidade, com uma proposta baseada justamente na plataforma Astros sendo estudada, com as empresas Avibras e Nexter tendo desenvolvido estudos conjuntos neste sentido.


O nome do sistema seria "Tupã", que seria baseado no mesmo caminhão do Astros MK6, equipado com um canhão 155mm / 52 calibres, padrão OTAN, equipado com sistemas de última geração, com uma tripulação de apenas 4 homens e com capacidade de 24 munições a bordo do veículo.



Este é um desenho 3D do conceito, e é muito interessante esta versão mais "nacionalizada" do Caesar.


Cumpre lembrar que ainda não se tomou uma decisão definitiva, com o desenho acima sendo apenas um conceito.


Texto de Kauê Saviano Fiuza*, 'estagiário' do GBN Defense e do Canal Militarizando

*Kauê Saviano Fiuza é estudante, passou a estudar assuntos militares com seus 12 anos, tendo foco em politica, geopolitica e militarismo mundial. Escreve com maior ênfase sobre as forças armadas brasileiras e sobre veiculos, tendo grande paixão por história e geografia.


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