domingo, 10 de fevereiro de 2019

Classe Tamandaré: Damen-Saab e o Programa Tamandaré

Chegamos próximos à decisão da Marinha do Brasil, que deverá apresentar a definição do vencedor da concorrência que resultará na construção da nova classe de corvetas brasileiras, representando um importante avanço tecnológico e a renovação de nossa esquadra, a qual passará a contar com modernos navios de escolta, tal decisão será anunciada no final do próximo mês, onde finalmente conheceremos o consórcio e o design das corvetas da "Classe Tamandaré".

Dentre os finalistas do processo, se destaca o consórcio Damen-Saab, o qual trás como proposta o projeto Sigma 10514, um design modular que apresenta uma concepção avançada de construção, unindo duas grandes empresas europeias e um seleto grupo de empresas brasileiras. A proposta tem sido considerada como a favorita, com grande potencial de sucesso na disputa, embora esteja sendo um processo com fortes candidatos e propostas atraentes em vários aspectos.

Diante da proximidade do anúncio do vencedor, nós estamos buscando trazer um pouco mais sobre os finalistas do programa, fornecendo ao nosso público um panorama mais completo sobre as opções que nossa Marinha possui na mesa, sendo a primeira desta série a proposta feita pelos Holandeses e Suecos.

Antes de entrar na proposta em si, se faz necessário conhecer um pouco mais sobre o consórcio, afim de estabelecer uma visão mais ampla, que envolve não apenas a proposta em si, mas as capacidades e histórico das empresas envolvidas no processo. Neste quesito, as duas empresas que encabeçam o consórcio possuem um histórico relevante junto a Marinha do Brasil, tendo fornecido soluções e serviços a mesma, onde os holandeses nos idos anos 50 construíram dez corvetas da Classe "Imperial Marinheiro", além da modernização do saudoso NAeL "Minas Gerais", possuindo know-how décadas de experiência na construção naval voltada ao mercado de defesa, tendo adquirido boa parte desta capacidade com a absorção de vários estaleiros especializados, como Wilton e Scheld, tendo construído também o NVe "Cisne Branco" pertencente a Marinha do Brasil no final dos anos 90.

A SAAB possui um longo histórico como fornecedor de tecnologias para as forças armadas brasileiras, indo muito além do caça Gripen E/F-BR, sendo fornecedora de vários sistemas optrônicos que equipam nossas corvetas Classe "Inhaúma", fragatas Classe "Niterói" e outros meios, além de radares como os que equipam nosso Embraer AEW&C, sistemas de defesa aérea RBS-70 dentre vários cases bem sucedidos, possuindo um elevado grau de confiabilidade, com sistema logístico e suporte que tem atendido adequadamente nossas necessidades. 

Dentre as empresas brasileiras que compõe o consórcio, temos o Estaleiro Wilson Sons, um dos mais modernos e ativos do Brasil, detentor de uma infraestrutura ímpar, possuindo enorme know-how em projetos modulares como é o caso do Sigma 10514, além de já possuir parceria de longa data na construção de navios de projeto da Damen, o que significa ter o ferramental e a capacitação técnica necessária para execução de projetos em acordo com os processos previstos na filosofia de construção holandesa, o que resulta em menor tempo para preparação das equipes envolvidas na construção e gerenciamento dos processos construtivos e de montagem. 

A WEG, empresa nacional líder no fornecimento de equipamentos elétricos e sistemas de automação, com vasta experiência e reconhecimento no mercado, possuindo um largo histórico de cooperação no Brasil, instalando sistemas elétricos e de automação a bordo de mais de 40 embarcações projetadas pela Damen e construídas pela Wilson Sons no Brasil, incluindo o primeiro PSV diesel-elétrico no Brasil. 
A Consub empresa voltada ao desenvolvimento de sistemas navais e soluções, é parceira da Marinha há mais de 20 anos, sendo referência no Brasil quando falamos em desenvolvimento de soluções e tecnologia de sistemas navais, sendo a única empresa brasileira que produziu, instalou e testou um Sistema de Comando e Controle Tático e de Armas, o SICONTA, sistema operado na maior parte da esquadra brasileira. A faz parte do seleto grupo de empresas que possui a certificação de "Empresa Estratégica de Defesa" (EED),certificação inserida na Estratégia Nacional de Defesa do Brasil, que distingue as empresas de capital majoritariamente nacional que trabalham na modernização e fortalecimento das Forças Armadas Brasileiras. Tendo cumprido todo processo de avaliações que classificaram a mesma como detentora do know-how de tecnologias essenciais para a manutenção da soberania nacional.

Outra empresa nacional de destaque no consórcio, é a AKAER, empresa detentora de um vasto expertise em projetos, participando no desenvolvimento do Gripen E/F, trás consigo uma vasta capacidade de gerenciamento e desenvolvimento tecnológico, onde terá como papel, caso o consórcio venha a vencer a concorrência,  na fabricação e montagem dos subsistemas destinados a Corveta "Tamandaré".



O Projeto SIGMA 10514

A proposta realizada pelo "Consórcio Damen-Saab Tamandaré" vislumbra a construção das quatro corvetas "Classe Tamandaré" tendo como base o já consagrado projeto Sigma 10514, o mesmo é de construção modular, sendo dividido em seis módulos, os quais após concluídos são integrados dando origem ao navio. Tal processo apresenta bastante flexibilidade, com a possibilidade de construção dos módulos em locais diferentes, uma facilidade que torna possível a montagem simultânea de vários navios, onde após a montagem dos módulos em locais distintos, estes podem ser lavados para integração e finalização no estaleiro designada para tal função.

No caso deste projeto se sagrar a opção brasileira, a previsão é que todo o processo de construção dos módulos seja executado nos Estaleiros Wilson Sons localizados no Guarujá em São Paulo. Porém, o primeiro exemplar da nova classe de corvetas, terá a construção dos módulos 3 e 5 construídos pela Damen na Holanda, sendo estes os dois módulos onde se encontram os sistemas sensíveis do navio, portanto demandando a capacitação técnica e transferência da tecnologia necessária para sua construção à parte brasileira do projeto.

O Módulo 3 é onde se encontram os sistemas de geração de energia e propulsão, sendo necessário que no primeiro navio o mesmo seja construído na Holanda com a participação brasileira, assim tornando a equipe brasileira capacitada a construção do mesmo no Brasil, onde executará a construção dos módulos destinados aos demais navios com suporte de técnicos da Damen. O mesmo se dará com Módulo 5, onde será integrado os sistemas de combate do navio.


Em termos de sistemas, a proposta do Consórcio oferece o moderno sistema 9LV CMS da Saab,  o qual oferece um sistema C4I completo (Comando, Controle, Comunicações, Computadores e Informação) para todos os tipos de plataformas navais. Fornece à equipe de comando excelentes capacidades operacionais, apoiando todo tipo de missão, do litoral ao mar aberto, podendo ser empregado tanto em navios de pequeno porte, como os de patrulha e fragatas, quanto de grande porte, como submarinos e porta-aviões.

Além de adequarem-se a todos os tipos de plataformas, o sistema 9LV CMS da Saab oferece integração de qualquer subsistema selecionado pelo cliente, seja ele desenvolvido pela Saab, por terceiros, ou a combinação de ambos. O 9LV CMS também fornece apoio para interoperabilidade e operações de cooperação como parte de uma força internacional. Entre outros atrativos que oferece, está o suporte ao treinamento da equipe, gravação e avaliação.
"O 9LV é baseado em uma arquitetura modular aberta, o que dá ao cliente a liberdade de escolha e a vantagem de ter um sistema naval C4I flexível, totalmente adaptável às necessidades e exigências específicas, conectando qualquer arma a qualquer sensor", segundo Torbjörn Persson, diretor sênior de Sistemas Navais na área de Surveillance da Saab. "As soluções variam de sistemas de gerenciamento de combate naval em grande escala, com diversas interfaces, para combate naval em três dimensões (ar, superfície e submarino), sistemas de direção de tiro (FCS), com algumas interfaces para qualquer tipo de míssil e arma (independente do calibre), para sistemas C2 em pequena escala e estações de armas navais remotas (RWS) com diversos tipos de armamento (7.62mm, 12.7mm e 40mm)", complementa.
A última geração do 9LV CMS é modular e escalonável, permitindo conectividade e interoperabilidade única de software. Ela também possibilita um desenvolvimento mais rápido e acessível; a atualização e o suporte são mais fáceis; e a adaptabilidade é aprovada. "Esta abordagem reduz o custo do sistema e do seu ciclo de vida e mitiga riscos por evitar obsolescência tecnológica, laços indesejados com o proprietário ou vendedor, tecnologia única e confiança num fornecedor único", adiciona Fredrik Hillbom, diretor de vendas de Sistemas Navais da Saab na América Latina.
O 9LV CMS permite que seus operadores atuem constantemente num ciclo de observação, orientação, decisão e ação", aponta Persson. Os sistemas fornecidos são utilizados em pequenas embarcações de patrulha até grandes fragatas e porta-aviões. Os navios são utilizados em ambientes bem diferentes, de altas temperaturas (tanto climas secos quanto úmidos) a condições árticas.
Além do sistema 9LV CMS, a proposta inclui o sistema de radar 3D Sea GIRAFFE AMB, Sistema IFF, sistema diretor de tiro Saab CEROS 200 e EOS 500, sistemas SME-250 e CRS Naval, sonar de casco, sistemas de comunicação (ICS) Saab Tacticall.
A proposta é bastante interessante, por tratar-se de projeto modular,  se o mesmo se sagrar vencedor, poderá futuramente resultar no projeto de uma nova classe de fragatas para atender as necessidades da Marinha do Brasil, a qual no momento não vislumbra investimento em qualquer projeto de escoltas além da Classe "Tamandaré", tendo em vista o orçamento limitado, conforme abordado aqui no GBN News em matéria sobre as perspectivas da Marinha do Brasil, sendo no momento o foco a obtenção das quatro corvetas por construção através do Programa Tamandaré, além da continuidade do cronograma de construção de submarinos do PROSUB, o que leva a necessidade de se equalizar e otimizar ao máximo os recursos que possui para se manter operacional até a chegada das novas corvetas e submarinos, onde as atuais fragatas terão sua vida estendida através do processo de atualização de sistemas com objetivo de mantê-las operativas. 
Em breve traremos um pouco mais sobre os demais concorrentes do Programa CCT.

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