sábado, 15 de agosto de 2020

Conheça o único homem que acompanhou todas as 3 explosões atômicas na Segunda Guerra Mundial

Lawrence Johnston segurando o complexo conjunto detonador da Fat Man, em Tinian


Mais de 600 mil pessoas trabalharam no Projeto Manhattan, mas apenas um deles testemunhou as 3 grandes explosões atômicas que levaram ao fim da Segunda Guerra Mundial.


Lawrence Johnston estava a bordo de um B-29, cuidando dos instrumentos que mediriam a potência da primeira explosão atômica da história, o Teste Trinity, no Novo México, e cumpriu a mesma função quando as bombas atômicas foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, forçando o Japão a se render e terminando a Segunda Guerra Mundial.


Quando nos aproximamos do 75º aniversário da rendição japonesa, em 15 de agosto de 1945, em que o Imperador Hirohito anunciou no rádio que chegou o tempo de “suportar o insuportável” e aceitar os termos Aliados para a rendição incondicional, a história peculiar de Johnston chama a atenção.


Um jovem físico, filho de pais missionários na China, Johnston fez um trabalho revolucionário no complexo mecanismo de detonação das bombas atômicas.


Quando a bomba Little Boy detonou sobre Hiroshima em 6 de agosto de 1945, sua primeira reação ao ver o poderoso flash e o cogumelo atômico foi: “Deus seja louvado, meus detonadores funcionaram”


Ele estava bem ciente do imenso poder destrutivo e da carnificina que a bomba infringiria na cidade após testemunhar o Teste Trinity mas — como a maioria dos cientistas em Los Alamos que criaram a arma — via seu uso horrendo como a única forma de acabar uma guerra que estava causando muito mais destruição e carnificina.


Embora o total de mortes da Little Boy talvez nunca seja conhecido, as estimativas são de que pelo menos 80 mil pessoas morreram em função da onda de choque e tempestade de fogo em Hiroshima; muitos foram vaporizados instantaneamente, deixando apenas suas silhuetas nas paredes. O total de mortes provavelmente chegou a 135 mil.


Johnston disse que sabia que “Todas aquelas pessoas seriam mortas — eu orei por elas… Eu orei a Deus que nos ajudasse a trazer um fim à guerra”


“Tantas pessoas sendo mortas a cada dia, tantos japoneses sendo mortos a cada dia pelos bombardeios” com armas convencionais, ele disse


Johnston refletiu sobre seu papel no surgimento da “Era Atômica” em relatos orais para o Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial de Nova Orleans antes de falecer aos 93 anos, em 2011, na sua casa em Moscow, Idaho.


Rob Wallace, da equipe educacional do Museu, disse que Johnston “foi a única pessoa a testemunhar as 3 explosões atômicas em 1945. Ele estava presente no Teste Trinity, e foi parte da equipe científica que acompanhou os lançamentos sobre Hiroshima e Nagasaki”.


Ele estudou Física no Colégio Comunitário de Los Angeles e se formou em 1940 na Universidade da Califórnia em Berkeley, na época um centro para o estudo da estrutura atômica e o processo de transformação da matéria em energia.


Foi em Berkeley que conheceu o brilhante cientista, e futuro ganhador do Nobel, Luis Alvarez, que se tornaria seu mentor, Wallace disse.


Reconciliação com a filha pacifista


Nos anos após a guerra, a maior crítica de sua participação nas armas nucleares foi sua própria filha, Mary Virginia, Johnston disse.


“Minha filha era pacifista, e me criticou muito”, ele disse. “Ela foi muito dura comigo, mas hoje em dia nos damos muito bem”.


Mary Virginia “Ginger” Johnston se tornaria pastora no Oregon, Johnston disse.


Depois de se graduar em Berkeley em 940, Johnston disse que esperava continuar seus estudos ali para um doutorado sob orientação de Alvarez, mas ele foi chamado no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), no Laboratório de Radiação, para trabalhar num radar de aproximação baseado em terra.



Ele levou Johnston, pela sua experiência em eletrônicos, que ele observou em uma das suas conversas.


Em determinado momento, Alvarez lhe perguntou: “O que você gosta de fazer?”


Johnston lhe respondeu: “Eu gosto de brincar com rádios”, e isso foi o bastante para Alvarez.


Alvarez foi convocado logo a seguir para trabalhar com a equipe de grandes mentes e egos ainda maiores reunidos pelo físico teórico Julius Robert Oppenheimer, cientista chefe do Projeto Manhattan, em Los Alamos.


O projeto ganhou o nome do edifício que ainda existe na Broadway 270, em Manhattan, em frente ao Paço Municipal, onde o planejamento original começou.


Alvarez convocou Johnston a trabalhar com ele outra vez. Chegando ao deserto do Novo México, “Eu não tinha ideia do que estavam fazendo, apenas que era muito importante para o esforço de guerra”, ele disse.


Alvarez “me colocou para trabalhar nos detonadores”, Johnston disse, sendo necessário criar uma detonação de explosivos convencionais muito bem cronometrada, que seria o gatilho da reação em cadeia do núcleo da bomba atômica.


Ele inventou o “detonador de fios em ponte”, uma série de 32 detonadores ao redor do núcleo que explodiriam com uma diferença de milissegundos entre si. Os princípios do detonador de fios em ponte são usados nos air bags automotivos, Johnston disse.


Três voos históricos dos B-29


Nas primeiras horas da manhã de 16 de julho de 1945, a primeira bomba atômica da história tinha sido colocada no topo de uma torre no então Campo de Bombardeio e Artilharia da Força Aérea do Exército de Alamogordo, atual Campo de Mísseis de White Sands, no teste que Oppenheimer batizou de “Trinity”.


Oppenheimer estava com um grupo seleto num bunker a cerca de 8 km de distância, e ordenou que os demais ficassem a no mínimo 40 km de distância, inclusive Johnston e Alvarez. Ninguém sabia com certeza qual seria a força da explosão.


Alvarez ficou “fulo da vida com aquilo”, Johnston disse. Ele convenceu Oppenheimer a deixá-lo voar com Johnston num B-29 para trabalhar nos instrumentos que mediriam a força da explosão.


“Nós vimos aquele enorme flash, e depois vimos aquela imensa coluna subir ao céu, o primeiro cogumelo atômico”, ele disse. “Eu desenvolvi todos os equipamentos que registraram a onda de pressão”.


Pouco tempo depois os dois partiram para a Ilha Tinian, nas Marianas do Norte, para preparar os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki.


Eles estavam a bordo do B-29 “Grand Artiste”, que voou com a formação liderada pelo “Enola Gay”, o B-29 que lançou a bomba atômica Little Boy sobre Hiroshima em 6 de agosto de 1945.


Johnston estava novamente a bordo do Grand Artiste quando a bomba “Fat Man” foi lançada sobre Nagasaki em 9 de agosto, mas Alvarez não estava naquele voo.


“Alvarez me disse ‘Você será o único a ver as 3 bombas atômicas explodindo’. Fiquei muito feliz”, Johnston disse.


Ele voltou aos EUA e completou seu doutorado em Física em 1950. Ele se tornou Professor Associado na Universidade de Minnesota, Minneapolis, e depois trabalhou no Centro do Acelerador Linear em Stanford como chefe do departamento de Eletrônica.


Depois disso ele foi professor na Universidade de Idaho em Moscow, Idaho, até se aposentar. Ele faleceu em Idaho em 2011.



Reflexões sobre Hiroshima


Johnston e Alvarez voaram por mais de 2 mil km entre Tinian e a área do alvo em Hiroshima.


Foi neste longo voo que ele parou para pensar: “Rapaz, eu não sei quão grande esta explosão vai ser”, Johnston disse. Alvarez estava cochilando no túnel entre o cockpit e a posição do artilheiro de cauda.


“Eu decidi então que era melhor eu falar com ele sobre o equipamento de registro. Ele me disse ‘Eu não ligo, ajuste como quiser’”, Johnston disse.


No caminho de volta a Tinian, Alvarez tentou conciliar seus pensamentos com a imensidade do que ele tinha acabado de testemunhar. Ele escreveu tudo numa carta ao seu filho menor, com o cabeçalho “6 de agosto — a 15 km da costa japonesa, 28 mil pés”


“A história de nossa missão provavelmente será conhecida por todos… mas no momento, apenas as tripulações de nossos três B-29 e os desafortunados moradores do distrito japonês de Hiroshima sabem da revolução na guerra aérea”, Alvarez diz na carta, que agora está nos Arquivos Nacionais.


“Quaisquer arrependimentos que eu tenha por fazer parte da mutilação e morte de milhares de pessoas são compensados com a esperança de que a terrível arma que criamos possa trazer os países mais próximos uns dos outros e evitar guerras futuras”, ele escreveu.


Originalmente publicado em Meet the Only Man to Witness All 3 WWII Atomic Bomb Blasts.


Tradução e adaptação: Renato Henrique Marçal de Oliveira. Químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel).

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