Por trás da imponência dos porta-aviões e destróieres, existe uma arma naval que baseia sua força não na visibilidade, mas no silêncio e invisibilidade: o submarino. Capaz de operar durante semanas longe dos olhos e sensores adversários, ele se tornou um dos instrumentos mais estratégicos das marinhas modernas. Seu poder de dissuasão e ataque está diretamente ligado à capacidade de permanecer indetectável, uma arte refinada ao longo de décadas, que combina tecnologia, disciplina e técnicas operacionais.
Entre essas técnicas, algumas se destacam por sua relevância histórica e ainda hoje fazem parte do treinamento de submarinistas em todo o mundo, e nós do GBN Defense, resolvemos trazer um pouco deste fantástico mundo para nossos leitores, com base em manuais operacionais e relatos de submarinistas brasileiros e estrangeiros, compilamos nosso conhecimento e o compartilhamos através desta matéria especial.
Tocar fundo: quando o silêncio é a arma mais poderosa
A tática conhecida como "tocar fundo" consiste em posicionar o submarino no leito oceânico, mantendo-se imóvel para reduzir ao mínimo os ruídos internos. Nesse estado de silêncio absoluto, a embarcação aproveita irregularidades do terreno e revestimentos especiais chamados materiais anecoicos, que absorvem ondas sonoras, dificultando a detecção por sonares ativos e passivos.
O método é eficaz, mas repleto de riscos. O fundo do mar não é um ambiente uniforme: rochas, destroços ou cabos submarinos podem comprometer a integridade do casco. Além disso, quanto maior a profundidade, mais intensa é a pressão sobre a estrutura da embarcação. Soma-se a isso um problema adicional: a comunicação. Em grandes profundidades, o contato com outras unidades ou centros de comando torna-se extremamente limitado.
Durante a Guerra Fria, submarinos soviéticos e americanos frequentemente usaram essa manobra para permanecer ocultos perto de rotas estratégicas. Em 1982, no conflito das Malvinas, o submarino britânico HMS Conqueror combinou períodos de imobilidade no fundo oceânico com movimentos furtivos para rastrear e, posteriormente, afundar o cruzador argentino ARA General Belgrano.
Movimento silencioso: a arte de ouvir sem ser ouvido
Outra técnica clássica é conhecida como "creeping", ou movimento silencioso. O submarino reduz sua velocidade a níveis mínimos, diminuindo a cavitação da hélice, as pequenas bolhas de ar que produzem ruído e denunciam sua posição.
Associada a essa prática está a chamada caça passiva, em que os sonares do submarino apenas escutam os sons do ambiente, sem emitir sinais. Dessa forma, a embarcação pode seguir alvos por longos períodos, mantendo-se invisível.
Submarinos da classe Los Angeles, da Marinha dos Estados Unidos, ficaram conhecidos por perseguirem embarcações soviéticas durante dias sem serem detectados. No Atlântico Sul, a Marinha do Brasil também treina intensivamente essa técnica em seus exercícios navais, inclusive tendo obtido exitos expressivos em exercícios internacionais, onde conseguiu acompanhar e "atingir" em simulação, poderosos porta-aviões e meios de superfície avançados de aliados.
Termoclinas: camuflagem oferecida pelo próprio mar
O oceano não é acusticamente uniforme. Diferenças de temperatura e salinidade criam barreiras naturais que desviam a propagação do som. Essas camadas, chamadas termoclinas, são usadas pelos submarinos para se esconder de sonares inimigos.
Ao posicionar-se abaixo de uma termoclina, o submarino pode literalmente “desaparecer” para quem o procura. Essa técnica, documentada em exercícios da OTAN, exige conhecimento avançado em oceanografia militar e equipamentos capazes de identificar essas variações ambientais.
Porém, nem sempre as termoclinas são previsíveis, tornando essa manobra tão dependente de treinamento quanto de tecnologia e oportunidade.
Disciplina de ruído: silêncio a bordo
Mais do que tecnologia, a furtividade submarina depende da disciplina da tripulação. Manuais da US Navy e da Marinha do Brasil ressaltam a importância da disciplina acústica: sistemas não essenciais são desligados, movimentações bruscas são evitadas e até conversas a bordo são restringidas em momentos críticos.
Essa cultura do silêncio tem raízes históricas. Já na Segunda Guerra Mundial, onde submarinos alemães utilizavam essas práticas para escapar da perseguição de destróieres aliados. Hoje, mesmo com toda a sofisticação tecnológica, o silêncio humano continua sendo decisivo.
Exemplos históricos de paciência e precisão
Ao longo do século XX, o sigilo submarino foi determinante em diversos conflitos. Os U-boats alemães aterrorizaram o Atlântico durante a Segunda Guerra com emboscadas silenciosas. Na Guerra Fria, submarinos americanos e soviéticos protagonizaram perseguições prolongadas que raramente vieram a público. E nas Malvinas, o afundamento do General Belgrano demonstrou o impacto estratégico de um submarino que soube esperar o momento certo para atacar.
Esses episódios reforçam que, mais do que armas, submarinos são instrumentos de paciência, vigilância e precisão, as verdadeiras armas invisíveis.
O futuro do sigilo submarino
Se no passado o desafio era escapar de sonares convencionais, hoje as marinhas enfrentam um cenário mais complexo. Sonar de baixa frequência, drones submarinos e redes de sensores fixos estão tornando os oceanos mais transparentes.
Em resposta, projetos como a classe Virginia dos Estados Unidos ou o PROSUB brasileiro incorporam inovações como inteligência artificial para navegação autônoma, novos revestimentos anecoicos e sistemas de contramedidas eletrônicas.
Mesmo assim, há uma lição que não muda: a eficácia de um submarino não depende apenas da tecnologia, mas da capacidade de sua tripulação em manter a calma, o silêncio e a disciplina, porque nas profundezas, paciência ainda é a maior das armas.
Assim como lobos silenciosos a espreita de suas presas, os submarinos se movem com precisão e paciência, tornando-se predadores temíveis e invisíveis nos vastos mares.
por Angelo Nicolaci
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