quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A nova estratégia de defesa dos EUA e a Europa



Os EUA têm desde 6 de Janeiro uma nova estratégia de defesa. O documento, como é costume, interessa a todo o mundo e, como tal, está a ser escalpelizado pelos especialistas. Conforme se previa, agora que acabaram os compromissos no Iraque e os do Afeganistão estão a encaminhar-se nesse sentido, o foco das atenções, em termos de presença militar, vai poder transferir-se mais abertamente para a Ásia e Pacífico. É um movimento esperado há bastante tempo; só não terá sido concretizado mais cedo devido aos compromissos das intervenções atrás referidas.

A postura em relação à Europa irá também evoluir. Também não é novidade, mas os europeus talvez ainda não tenham interiorizado as prováveis vertentes da mudança. Sabem que podem contar, pelo menos por enquanto, com o empenhamento de Washington em manter o compromisso de defesa colectiva, tal como expresso no artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte, pois o documento é explícito a esse respeito. Terão, no entanto, que passar a ter em conta que para os EUA esta é também uma oportunidade de “reequilibrar o investimento militar na Europa” («rebalance the military investment in Europe»). A frase chave, a que talvez ainda não se tenha prestado atenção suficiente, é a seguinte: «moving from a focus on current conflicts towards a focus on future capabilities».

É uma maneira de dizer que o que esperam dos europeus é sobretudo maior cooperação nos seus esforços para manter a paz e estabilidade no mundo; por outras palavras, que é preciso resolver o défice de cooperação europeia que tem vindo a desequilibrar o relacionamento transatlântico e vai minando a coesão da Aliança. É o desafio que está no lado europeu.

Do lado americano, o principal desafio reside, como se reconhece no texto, no facto de nunca o balanço entre recursos e necessidades ter sido tão delicado como é presentemente. Esse foi, com certeza, um dos principais condicionantes do processo de elaboração da orientação agora aprovada. E não é pequeno; para já são 450 mil milhões de dólares que será necessário reduzir durante os próximos dez anos. Poderão ser mais 500 mil milhões se no Congresso não se chegar a um entendimento sobre o plano de redução do défice.

É uma quantia enorme para cortar mas a verdade é que nunca o Pentágono tinha tido um período de 11 anos de sucessivos aumentos do orçamento. No tempo de Reagan, o crescimento histórico, então verificado, só durou quatro anos e foi seguido por 13 anos de reduções. Como serão concretizados os cortes necessários é matéria de decisão ulterior, à luz da postura que os EUA pretendem adoptar para o próximo ciclo de planeamento de defesa. Espera-se que o Secretário da Defesa anuncie nas próximas semanas os programas que serão afectados. Este passo será coordenado com o discurso da União que o Presidente fará a 25 de Janeiro e, em Fevereiro, a subsequente submissão do projecto de orçamento para 2013. Só então se terá uma visão mais completa do que será a nova estratégia de defesa.

Um dos aspectos de que se tem falado com alguma insistência é uma possível nova redução do arsenal nuclear, hipótese aliás aventada pelo Presidente, por altura da apresentação da nova estratégia. O tecto presentemente acordado com a Rússia no Tratado START prevê 1500 ogivas e 700 sistemas de lançamento, em fevereiro de 2018. Não se estima possível, em qualquer caso, poupar, neste sector, mais do que um décimo (45 mil milhões) do total requerido. Também não é provável que Washington tome decisões relevantes nesta área fora de conversações com a Rússia.

Outras possíveis áreas onde se irão verificar as restantes poupanças necessárias incluirão provavelmente o programa de construção de submarinos balísticos e novos bombardeiros estratégicos, entre outros. Entrar-se-á então na área onde muitos observadores localizam os verdadeiros problemas de gestão a que o Pentágono devia prestar atenção. São, sobretudo, os dispendiosos programas de aquisições de novos equipamentos e sistemas de armas, cujos custos têm “disparado” descontroladamente e cuja justificação militar, no actual contexto de segurança, levanta dúvidas. Saber-se-á brevemente quais são.

Fonte: JDRI

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