O Departamento de Defesa dos Estados Unidos apresentou sua proposta orçamentária para o ano fiscal de 2026, solicitando um valor histórico de US$ 961,6 bilhões. Trata-se do maior orçamento militar da história americana, refletindo uma transformação profunda na estratégia de defesa dos EUA. A mudança é impulsionada, principalmente, pela crescente preocupação com a postura militar da China, pela necessidade de modernizar a base industrial de defesa e pela urgência em preparar as Forças Armadas para enfrentar ameaças emergentes em múltiplos domínios, terra, mar, ar, espaço e ciberespaço.
Entre as prioridades do novo orçamento estão o desenvolvimento de armas hipersônicas, a modernização da tríade nuclear, o reforço da capacidade de alerta antecipado espacial e uma nova abordagem para o poder aéreo tático e estratégico. O orçamento também prevê investimentos expressivos em defesa cibernética, produção de munições e melhorias na infraestrutura de estaleiros navais.
Hipersônicos, dissuasão e o "Golden Dome"
O Pentágono destinará US$ 3,9 bilhões ao desenvolvimento de armas hipersônicas, com foco em projetos como a Arma Hipersônica de Longo Alcance (LRHW) do Exército e os novos veículos planadores hipersônicos da Marinha, integrados aos submarinos da classe Virginia. Por outro lado, a Força Aérea encerrou o problemático programa AGM-183 ARRW após sucessivos fracassos em testes, devendo concentrar recursos em projetos mais promissores dentro do ecossistema NGAD (Next Generation Air Dominance).
Outra grande iniciativa é o Golden Dome for America, um sistema de defesa antimísseis de última geração com orçamento inicial de US$ 25 bilhões. Inspirado em modelos de defesa multicamadas, o programa pretende integrar sensores e interceptadores terrestres, aéreos, navais e espaciais para proteger o território americano contra ameaças como mísseis balísticos, veículos hipersônicos e mísseis de cruzeiro avançados. A meta é atingir capacidade operacional inicial entre 5 e 10 anos.
Em linha com essa nova doutrina de defesa aérea, o Pentágono cancelou o programa E-7 Wedgetail, alegando preocupações com a sobrevivência de aeronaves de alerta antecipado tripuladas em cenários de alta ameaça. Os recursos serão redirecionados para sistemas de vigilância espacial.
Corte de F-35, aposta no F-15EX e avanço do NGAD
O orçamento de 2026 também traz ajustes significativos nas aquisições de aeronaves. O número de caças F-35A Lightning II a ser adquirido pela Força Aérea caiu de 74 para 47 unidades, em parte devido aos altos custos de manutenção e à necessidade de garantir a disponibilidade operacional da frota atual.
Por outro lado, o F-15EX Eagle II, uma versão atualizada de quarta geração do clássico F-15, receberá US$ 3,1 bilhões para a compra de até 24 unidades. O objetivo é reforçar a capacidade de combate a curto prazo com aeronaves de manutenção mais acessível.
Enquanto isso, o programa Next Generation Air Dominance (NGAD), futuro caça de sexta geração da Força Aérea, terá US$ 3,5 bilhões para avançar no desenvolvimento de protótipos. Em contraste, o projeto F/A-XX da Marinha, seu equivalente naval, receberá apenas US$ 74 milhões, limitando-se a trabalhos preliminares de design.
Modernização da tríade nuclear e expansão da frota naval
O Pentágono reservou US$ 60 bilhões para a modernização da tríade nuclear, com destaque para o desenvolvimento do ICBM LGM-35A Sentinel, a produção do bombardeiro furtivo B-21 Raider e a construção de submarinos de mísseis balísticos da classe Columbia.
A Marinha receberá US$ 47,4 bilhões para a construção de 19 novos navios, incluindo submarinos da classe Virginia, destróieres Arleigh Burke e embarcações anfíbias. A maior parte dessas embarcações será financiada por meio de pacotes de reconciliação orçamentária no Congresso, enquanto apenas três navios terão financiamento direto no orçamento base.
O orçamento também prevê US$ 2,5 bilhões para modernizar os quatro principais estaleiros navais públicos dos EUA, cuja idade média ultrapassa os 100 anos. Melhorias na infraestrutura são vistas como fundamentais para reduzir atrasos em manutenções e acelerar a produção de submarinos e outros navios.
Reformas no Exército e investimento em munições
O Exército americano passa por uma transformação estrutural. O orçamento de 2026 encerra diversos programas legados, como o tanque leve M10 Booker, os drones Grey Eagle, os veículos táticos leves JLTV e o programa de motores ITEP. Os recursos liberados, cerca de US$ 6 bilhões, serão redirecionados para o fortalecimento das capacidades de fogo de longo alcance, guerra multidomínio e redes de comunicação.
O Exército também receberá US$ 8,9 bilhões para ampliar suas capacidades de ataque de precisão e para munições inteligentes, além de reforçar cinco equipes de combate de brigada com novas armas e sensores.
Diante do cenário global de conflitos e tensões, o Pentágono também planeja investir US$ 6,5 bilhões para ampliar a produção de munições convencionais e manter os estoques em níveis adequados para um eventual conflito prolongado.
Defesa cibernética e infraestrutura industrial
Com a guerra cibernética ganhando relevância, o orçamento prevê US$ 15,1 bilhões para fortalecer a segurança das redes militares e ampliar as capacidades ofensivas e defensivas no ciberespaço. O plano inclui o uso de inteligência artificial para proteção das redes e a modernização de centros de comando digital.
Além disso, US$ 3,8 bilhões serão investidos na expansão da capacidade industrial de defesa e na resolução de gargalos logísticos, reduzindo a dependência de fornecedores estrangeiros para materiais estratégicos.
Considerações finais
O projeto de orçamento militar para 2026 sinaliza uma mudança de paradigma: os EUA estão deixando de lado programas legados e apostando pesado em tecnologias emergentes para enfrentar a competição estratégica com a China e outras potências. O foco em armas hipersônicas, defesa espacial, modernização nuclear e eficiência logística mostra que o Pentágono está se preparando para um novo tipo de guerra – mais tecnológica, rápida e multidomínio.
Ainda resta a aprovação final do Congresso, que poderá ajustar algumas das propostas. Mas o recado do Departamento de Defesa é claro: os EUA querem manter sua superioridade militar em todas as frentes nos próximos anos.
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