O conflito na Ucrânia tem exposto fragilidades estruturais do Exército Russo que remontam à doutrina herdada da era soviética. Historicamente, o Kremlin prioriza quantidade sobre qualidade, enfatizando números absolutos de tanques, artilharia e lançadores de foguetes em detrimento da eficácia operacional e do fator humano. Entretanto, a guerra na Ucrânia mostrou que esse modelo enfrenta sérias limitações diante de estratégias adaptativas, superioridade tecnológica e preparo aliado.
Até meados de 2025, a Rússia perdeu entre 4.000 e 5.000 blindados, de acordo com dados verificáveis da plataforma OSINT Oryx. Embora parte da reserva estratégica ainda esteja preservada, a capacidade operacional do exército russo diminuiu significativamente. A produção limitada de T-90M e a manutenção restrita de tanques mais antigos obrigam o Kremlin a adotar táticas de preservação de equipamentos e a mobilizar tropas de infantaria com risco elevado, expondo a vulnerabilidade do modelo de guerra quantitativa.
Enquanto isso, a Polônia fortalece suas forças com investimentos robustos em modernização e tecnologia. Até 2026, o país deverá contar com cerca de 1.000 carros de combate modernos, como o Leopard 2, Abrams M1A1/M1A2 e K2PL, com integração completa de sistemas avançados. Na artilharia e lançadores de foguetes, a Polônia não apenas iguala, mas supera qualitativamente a Rússia, empregando sistemas como HIMARS e Chunmoo, que oferecem maior precisão, alcance e mobilidade que os Tornado da Rússia, transformando a capacidade polonesa em uma vantagem decisiva no campo de batalha.
Essa superioridade tecnológica e estratégica coloca a Polônia em posição de competir de igual para igual com a Rússia em conflitos convencionais regionais. Além disso, o alinhamento com a OTAN e a interoperabilidade com forças aliadas aumentam a flexibilidade operacional, garantindo respostas rápidas a crises e operações complexas.
Categoria | Rússia | Polônia | Observações: |
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Tanques operacionais | 1.500–2.000 | ~1.000 | Rússia: maioria T-72/T-55/T-62; Polônia: Leopard 2, Abrams M1A1/M1A2, K2PL, T-72 PT-91 modernizados |
Artilharia autopropulsada | 1.500 | 700 | Polônia possui sistemas K9A1 e Krab com superior alcance e precisão |
Lançadores de foguetes múltiplos (MRL) | ~150 | ~500 | Polônia possui superioridade qualitativa e quantitativa em sistemas modernos de longo alcance como HIMARS e Chunmoo |
Produção de Blindados modernos anual | 20/30 T-90M | - | Rússia limitada por escassez de materiais e produção lenta |
Reserva estratégica | Alta | Moderada | Rússia mantém reserva de tanques antigos; Polônia prioriza qualidade e modernização |
Vulnerabilidade drones | Alta em T-72/T-55/T-62 | Baixa em Blindados ocidentais com APS | Drones baratos têm grande efeito sobre tanques soviéticos; Polônia equipada com sistemas de proteção ativa (Trophy, APS) |
Cenário estratégico e geopolítico
O fortalecimento militar polonês assume grande relevância geoestratégica. Localizada no flanco oriental da OTAN, a Polônia serve como ponte entre o Báltico e a fronteira com Ucrânia e Bielorrússia. Sua modernização não apenas cria um escudo defensivo eficiente, mas também consolida a integração regional, com capacidade de apoiar aliados e coordenar operações conjuntas, ampliando a dissuasão convencional contra a Rússia.
Enquanto isso, a Rússia enfrenta limitações logísticas e industriais, sanções econômicas e desgaste de suas forças terrestres. A dependência de equipamentos antigos e estratégias herdadas do período soviético limita sua eficácia operacional, mesmo mantendo arsenal nuclear considerável. A necessidade de preservar reservas estratégicas evidencia a transição de Moscou de superpotência militar para potência regional no campo convencional.
Qualidade versus quantidade
A guerra moderna demonstra que a qualidade e a integração tecnológica podem superar a pura quantidade. Embora a Rússia ainda possua maior número absoluto de carros de combate e artilharia, grande parte desses equipamentos é tecnologicamente obsoleta. A Polônia, ao investir em sistemas de proteção ativa, artilharia de longo alcance e lançadores modernos, obtém superioridade operacional que se traduz em dissuasão efetiva e capacidade de manobra em conflitos convencionais.
O conflito ucraniano evidenciou ainda uma mudança paradigmática: drones e armas de precisão de baixo custo podem destruir blindados de milhões de dólares. Carros de combate russos, com blindagem reativa Kontakt ou Relikt, mostram vulnerabilidade significativa, exigindo adaptações como gaiolas metálicas e defesas improvisadas. Em contraste, plataformas ocidentais como Abrams M1A2, Leopard 2 e Merkava IV contam com sistemas de proteção ativa (APS) Trophy, StrikeShield, que interceptam projéteis e aumentam a sobrevivência em combate moderno.
A lição estratégica é clara: o carro de combate não desaparecerá, mas sua função evolui. A proteção ativa, redução da assinatura térmica e integração com outras unidades de combate tornam-no parte de uma força combinada, protegida e conectada, diferente da doutrina russa que historicamente priorizou número e massa de blindados.
Perspectivas regionais e implicações estratégicas
Mesmo que a Rússia mantenha vantagem nuclear e capacidade de dissuasão estratégica, sua projeção terrestre e sustentação de conflitos prolongados está comprometida. A superioridade qualitativa da Polônia e de outros vizinhos reforça o risco de Moscou ser cada vez mais limitada a uma potência regional em termos convencionais, dependente da ameaça nuclear para obter equilíbrio estratégico.
O cenário sugere uma realidade multipolar no entorno da Rússia, em que pequenas e médias potências da OTAN e parceiros regionais, aliados a sistemas tecnológicos avançados, equilibram ou superam a Rússia em capacidades convencionais. A dispersão geográfica, a vulnerabilidade tecnológica e as perdas acumuladas indicam que, sem uma modernização acelerada e investimento maciço em produção e tecnologia, Moscou enfrentará dificuldades para manter a coesão e a eficácia de suas forças terrestres.
Em suma, a Rússia permanece um ator estratégico, mas o ambiente regional e a dinâmica tecnológica impõem limitações severas à sua projeção convencional. Países do entorno imediato, aliados e adversários, transformam o equilíbrio regional, e qualquer avaliação de poder deve considerar qualidade, tecnologia e capacidade logística integrada, e não apenas números absolutos.
por Angelo Nicolaci
GBN Defense - A informação começa aqui
Engraçado que uma força limitada considerada por este analista, não explica porque uma única nação, a Rússia. Conseguiu praticamente sozinha neutraliAr todo tipo de aparato militar da OTAN??
ResponderExcluirE avançado todos os dias no atual conflito. Fazendo que os Estados Unidos, o mair fornecedor de armas lara Ucrânia, discutir um plano de paz. Esqueceu que a Rússia é quem vai determinar nos seus termos como e quando a guera terá um fim.