domingo, 9 de fevereiro de 2020

Major Apollo, o mais condecorado herói brasileiro da II Guerra Mundial.


A data de 9 de fevereiro de 1918 marca o nascimento de um herói. O Major de Infantaria do Exército Brasileiro, APOLLO MIGUEL REZK, faria 102 anos. Oficial oriundo do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro - turma de 1939 - convocado para integrar a Força Expedicionária Brasileira na II Guerra Mundial,  embarcou para a Itália em 20/9/1944, no segundo escalão da FEB, 1º RI - Regimento Sampaio - e transformou-se no militar brasileiro mais condecorado em ações de guerra no teatro de operações da Europa. Entre outras missões, comandou um pelotão de fuzileiros nos ataques a Monte Castelo (12/12/1944 e 21/02/1945) e conquistou La Serra (24/02/1945) em apoio à 10ª Divisão de Montanha norte-americana. Do nosso governo recebeu quatro comendas: Medalha de Sangue (por ferimento em combate), Cruz de Combate de Primeira Classe (em ouro), Medalha de Campanha e Medalha de Guerra. Dos Aliados, especificamente do governo dos Estados Unidos, foi agraciado com a Distinguished-Service Cross (por extraordinário heroísmo em combate, único brasileiro a recebê-la) e a Silver-Star, por suas ações na tomada de Monte Castelo.
      
Apollo Miguel Rezk foi um cidadão brasileiro da melhor estirpe. Na vida civil, formou-se em Contabilidade e Economia. Era um homem de fino trato e esmerada educação. Fomos honrados com a sua amizade. Ao ser convocado para a FEB, exercia as funções de Contador do então Senador Arnon de Melo, pai do ex-presidente da República Fernando Collor de Melo. Casou-se com a Sra. Ivette Antunes Rezk, com quem teve dois filhos, Nelson (falecido) e Nádia. Sua vocação para a carreira militar ficou evidenciada desde muito cedo. Ex-aluno do Colégio Pedro II, já se destacava pela postura e garbo nos desfiles cívico-escolares. Tentou ingressar, sem sucesso, na Escola Militar do Realengo. Problemas de pés planos e dificuldades em Física inviabilizaram a realização do sonho de ser militar. Inconformado, Apollo prestou concurso para o CPOR/RJ, onde foi aprovado. Os pés planos e a Física não lograram prejudicar a sua formação militar. Após um curso de três anos, foi declarado aspirante em 1939, classificado em 10º lugar numa turma de 70 (setenta) aspirantes-a-oficial da Arma de Infantaria. 
      
Na Itália, seu desempenho foi notável. Entre os inúmeros depoimentos, destacamos:

     - “... Por heroísmo extraordinário na ação de vinte e quatro de fevereiro de mil novecentos e quarenta e cinco, em La Serra, Itália...” (o presidente dos Estados Unidos, ao agraciá-lo com a Distinguished-Service Cross);

    - “... A personalidade forte, o espírito de sacrifício, a combatividade, a tenacidade, o destemor do Tenente APOLLO constituem belos exemplos dignos da tropa brasileira". (o Gen Div J.B. Mascarenhas de Moraes - Cmt do 1o Esc. da FEB e da 1a D.I.E.);

    - "... A promoção se justifica, sobretudo, em virtude da conduta excepcional desse oficial no teatro de operações na Itália, onde, entre diversas condecorações recebidas por bravura, lhe foi conferida a medalha "Distinguished-Service Cross" do Exército americano, por heroísmo extraordinário em ação, distinção máxima somente concedida a este combatente brasileiro". (o Gen Newton Estillac Leal, Ministro da Guerra - 1951).

     - "... é um bravo, conceituado e admirado por todos, tendo se destacado em todas as ações da Unidade. Disciplinado, muito bem educado, dedicado e capaz. Pode servir de modelo pela sua bravura e exata noção do cumprimento do dever". (o Gen Ex Aguinaldo Caiado de Castro, então Cel Cmt do 1o R I, na Itália);

  - "... mesmo ferido, contra-atacado e cercado, em momento algum pensou em retrair. Revelou bravura, firmeza e acerto de decisão, excepcional calma em presença do inimigo, exata noção de seus deveres em combate, a par de elevado sentimento de honra militar e superior capacidade de sacrifício..." (Cap Wolfango Teixeira de Mendonça, Cmt da 6a Cia/II Btl/1o R I - 1945).
       
Ao retornar da Itália, após uma passagem pelo COR (Curso de Oficiais da Reserva), prosseguiu na carreira militar - como inúmeros outros oficiais R/2 febianos - servindo no Regimento Sampaio até 1947, quando foi transferido para o Batalhão de Guardas. A promoção a Capitão veio em 1951, a contar de 1947. Em 1955, foi movimentado para a 5ª RM e designado Ajudante de Ordens do General Mário Perdigão. 
      
O Capitão Apollo teve a sua carreira interrompida precocemente. O antigo problema de pés planos, agravado pelo congelamento no frio intenso do inverno italiano, conhecido como pé-de-trincheira, deixou-o inapto para o serviço ativo. Em 09 de dezembro de 1957, aos 39 anos, foi promovido a Major e reformado. 
     
O falecimento de sua esposa e uma diabete de difícil controle, seguida de perda da visão, acabaram por abreviar sua heroica existência. Foi um dia de muita tristeza, aquele 21 de janeiro de 1999, quando o Senhor dos Exércitos convocou o Major Apollo para as Legiões Celestes. Em seu funeral esteve presente um oficial da marinha americana, representando o adido militar de seu país. Pouco antes do sepultamento,  ao ser informado que o nosso herói, desaparecido aos 81 anos, não recebera promoção por bravura, dirigiu-se à sua filha Nádia, nos seguintes termos: “não entendo vocês brasileiros. Na minha terra, alguém com as importantes condecorações de guerra do Major Apollo, teria recebido ao longo de sua vida as homenagens, o respeito e a gratidão de seu povo.” Estávamos presentes e assistimos, num misto de tristeza e constrangimento, a crítica do oficial americano. A cena, inesquecível ainda que decorridos vinte anos, induziu-nos a um compromisso interior de divulgar a história deste herói, esquecido pelo país que tanto amou a quem serviu com bravura e lealdade. Ainda hoje, às vésperas de completarmos oitenta anos, persistimos na missão.

Por Sérgio Pinto Monteiro - Oficial da Reserva Não Remunerada do Exército Brasileiro. É autor do livro “O Resgate do Tenente Apollo” (2006 - Ed. CNOR, tendo como co-autor o Ten R/2 Orlando Frizanco). É membro da Academia Brasileira de Defesa, da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, do Instituto Histórico de Petrópolis. É patrono, fundador e ex-presidente do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva. É presidente do Conselho Deliberativo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB.


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