sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Jurassic Park de Aviação - Como aeronaves da Segunda Guerra Mundial lutam pela sobrevivência

Li um interessante artigo hoje em um site que acompanho sobre história da guerra (War History On Line), e este me inspirou a escrever o atual artigo com base nas informações do artigo original em inglês.

A Segunda Guerra Mundial foi sem dúvida o conflito que mais demandou da indústria como um todo, no período do conflito as fábricas de armamentos não davam conta de alimentar as tropas aliadas e muitas fábricas de outros setores da indústria se viram engajadas na produção de meios para que se mantivesse as tropas aliadas bem equipadas e capazes de lutar contra o "Eixo" na Europa, África e no Pacífico.

Diante de um cenário épico, milhares de aeronaves foram produzidas em uma escala como nunca antes foi visto, e ainda hoje não há como comparar a capacidade de produção e o ritmo alcançado pela indústria aeronáutica naquele período.

Logo após o fim do conflito havia um enorme inventário de aeronaves excedentes do conflito e em sua grande maioria eram aeronaves já consideradas obsoletas e ultrapassadas pelos avanços tecnológicos e as novas concepções estratégica, quer seja pelo advento do motor à jato, quer seja pelas novas ameaças antiaéreas ou doutrinas de combate. 

Milhares de aeronaves foram condenadas ao desmantelamento, servindo de matéria prima á industria do pós-guerra que crescia vertiginosamente e necessitava do alumínio e metais das aeronaves que seriam fundidos e dariam forma a novas aeronaves, carros e outros produtos industriais.

Muitos tipos de aeronaves entraram em completa extinção ou quase chegaram a ela, onde alguns exemplares escaparam da extinção ao parar no acervo de um museu ou colecionador, porém, condenadas a não mais voltar aos céus.

Outro período importante para aviação militar se deu durante a chamada "Guerra Fria", que promoveu uma vertiginosa corrida bélica entre a URSS e os EUA e seus aliados para manter a supremacia nos céus, algo que em um período que podemos considerar curto, assistimos um avanço sem precedentes nas tecnologias e aeronaves deste período, onde houve uma rica e vasta diversidade de aeronaves, com ambos os lados criando vários tipos de aeronaves, tendo algumas conquistado a glória de marcar sua passagem na história, operando com diversas forças ao redor do mundo e mantendo uma produção contínua e duradoura, dando origem á diversas versões e outras que entraram e em curto período de operação foram deixadas de lado sendo esquecidas e até mesmo desconhecidas.

Aqui no Brasil mesmo se encontram algumas aves-raras que não se encontram mais em lugar algum, estando hoje expostas no MUSAL (Museu Aerospacial do Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro - RJ). Onde inclusive o editor que aqui escreve faz parte dos associados.

Esta é a realidade para muitas aeronaves dos anos 1940, 1950, 1960 e 1970. No entanto, alguns tipos conseguiram escapar desse triste destino. E conseguiram manter-se voando até os dias de hoje.

Durante a Segunda Guerra Mundial, um número sem precedentes de aeronaves havia sido construído para o Exército dos EUA em um período de tempo de apenas 4-5 anos. Alegadamente, cerca de 100.000 aeronaves de todos os tipos foram construídos em um grande número de fábricas, espalhadas por todo território dos EUA, alguns até mesmo fora dos EUA. Não só os fabricantes de aeronaves clássicas como Curtiss, Douglas, Lockheed, Boeing, Noth American,  Consolidated Vultee (mais tarde Convair), Martin etc... Estiveram envolvidos na maior produção de aeronaves em massa da história, mas também a indústria automotiva logo foi envolvida neste esforço de guerra. A Ford por exemplo realizou a montagem de bombardeiros B-24 Liberator, a GM e a Studebaker também tiveram seu papel na montagem de aeronaves e motores necessários para tal frota gigantesca.

Diferente do que muitos acreditam até os dias de hoje, não foram os caças a grande estrela das linhas de montagem, mas sim os bombardeiros, estes foram o grande número de aeronaves norte americanas produzidas em suas mais variadas versões e modelos. E um dado muito curioso e digno de nota, a aeronave mais produzida durante este conflito foi o bombardeiro B-24 Liberator.
Com cerca de 19 mil unidades produzidas, das quais 8 mil foram produzidas pela Ford, detém até hoje o recorde de ser o avião militar americano mais produzido da história. Porém seu epílogo se deu logo após o fim do conflito, pois o B-24 Liberator tinha sido em muito superado em tecnologia e capacidades por várias aeronaves mais modernas, como o B-29 Superfortress. O que condenou sua grande maioria ao desmantelamento.

Muitas das aeronaves excedentes de guerra em seus mais variados tipos e versões foram espalhadas pelo mundo, tendo encontrado em muitos casos um curto período de sobrevida em forças aéreas menos expressivas de países que não possuíam capacidade de investir e operar meios modernos, porém, seus estado de obsolescência logo os condenaram ao sucateamento em muitos casos.

Durante o período de pós guerra a necessidade de insumos á industria, como o alumínio, sentenciaram milhares de bombardeiros á sucata e ao forno das siderúrgicas. Porém, um tipo de aeronave conseguiu sobreviver ao pós guerra e permanecer até poucos anos operando no mercado civil e em algumas situações até em funções militares. Este foi o caso das aeronaves de carga como os DC-3 (C-47) DC-4 (C-54) e C-46, estas foram algumas das aeronaves que encontraram uma sobrevida, tendo em grande parte sido convertidas para o transporte de passageiros e mesmo carga. 

Diante da grande procura por aeronaves de transporte para passageiros pelo novo mercado da aviação civil que surgia com imensa força após o período da 2ª guerra, um grande número de aeronaves excedentes ganharam os "cocares" de companhias aéreas ao redor do mundo.

Mas essa era não se prolongou por muito tempo com o surgimento de aeronaves à jato, o que levou á uma nova corrida e a aposentadoria de centenas destes veteranos. Mas, eis que estes veteranos encontraram mais uma vez uma saída, passaram a operar com pequenas companhias em regiões inóspitas do planeta, onde os campos de pouso pouco evoluíram desde que a aviação surgiu...

O DC-3 da Douglas foi o avião de carga e transporte de maior sucesso da história, tendo sido o mais produzido e difundido no mundo, estrela de cinema e herói em muitas operações de resgate e apoio em calamidades. Foram produzidos cerca de 16 mil aeronaves do tipo ao longo dos anos, tendo inclusive cerca de 5 mil destes exemplares sido produzidos sob licença na URSS e Japão. 

Ainda hoje encontramos alguns raros DC-3 em condições de voo e voando! No Brasil mesmo há um exemplar deste que foi restaurado e hoje realiza voos especiais para os fãs de aviação no Brasil.

Enquanto muitos países construíram aeródromos maiores e melhores com pistas asfaltadas, continua a haver um mundo remoto, como na vasta selva da Amazônia, onde o asfalto ainda não chegou. Este é o reino final do DC-3, onde qualquer outra aeronave turboélice ou a Jato com seu trem de pouso triciclo com pequeno diâmetro e alta velocidade de pouso teria um problema imediato para aterrissar. Depois de tantos acidentes com aeronaves modernas, continua a haver apenas um vencedor neste domínio, com mais de 70 anos, veterano da 2ª Guerra, Guerra da Coréia e veterano do Vietnam, o C-47, que opera com 3 toneladas de carga com 2 motores radiais á pistão de 1200hp.

É aqui e em alguns outros lugares no mundo (Alasca, Canadá, Caribe, Opa Locka, Honduras etc.), onde o lendário DC-3 ainda está fazendo vôos operacionais em uma base comercial (ou militar). Você imagina um transporte no mundo que com mais de 70 anos de idade ainda pode fazer isso! Se você tem um carro, caminhão, barco, trem, dirigível ou outra aeronave que pode gabar-se de tal carreira no transporte e ainda ter um número de sobreviventes  em operação que supera os 250 exemplares, avise por favor!

Esse Jurassic Park da Aviação existe, que é um feito notável.Mas há um lado escuro em toda a extensão da vida histórica de uma máquina fantástica como o DC-3. Essas aeronaves foram projetadas e construídas para durar 20-30 anos na melhor das hipóteses. Como será que se mantém por mais de 70 anos de operações diárias? Em muitos casos sua idade cobra o preço e é possível ver alguns acidentes graves e incidentes envolvendo estes fantástico veteranos, os dinossauros da aviação.

por: Angelo Nicolaci - editor, jornalista, graduando em relações internacionais pela UCAM e um apaixonado pela aviação e história militar, especialista em Geopolítica, Oriente Média, Rússia e Leste Europeu.

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