sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Análise - Guerra de Drones: A OTAN Entre Tecnologias Caríssimas e Soluções Econômicas

O recente episódio marcado pela invasão do espaço aéreo polonês, em que a OTAN derrubou vários drones russos Gerbera, foi apresentado como uma demonstração de poder tecnológico. Aeronaves F-35, sistemas Patriot e uma gama completa de armamentos sofisticados foram mobilizados para neutralizar a ameaça. À primeira vista, parecia um triunfo incontestável. Mas, ao olhar mais de perto, surge uma fragilidade estratégica que evidencia que a defesa europeia ainda não está adaptada às exigências da guerra contemporânea.

O contraste econômico é flagrante. Um míssil do sistema Patriot custa US$ 4 milhões, enquanto um drone Gerbera (versão russa do Shahed), produzido em massa com materiais baratos, pode ser adquirido por apenas US$ 10 mil. Um F-35, além de custar US$ 82,5 milhões, tem hora de voo estimada em US$ 25 mil. Derrubar um drone com mísseis de milhões de dólares, é na prática, como usar uma bazuca para matar baratas. A ação impressiona tecnicamente, mas se revela um desastre do ponto de vista estratégico e econômico, especialmente em conflitos prolongados, onde a lógica de custo se torna determinante.

A Ucrânia, forçada a lidar com recursos limitados, compreendeu essa disparidade rapidamente e adotou soluções práticas e econômicas. Em vez de tentar combater cada drone com sistemas caros, desenvolveu drones interceptadores de baixo custo, produzidos localmente por cerca de US$ 2 mil cada, sistemas antiaéreos móveis como o Gepard, e metralhadoras montadas em caminhões, capazes de responder com agilidade e em grande escala. Essa abordagem mostra que na guerra moderna, a eficácia não depende exclusivamente de sofisticação tecnológica, mas da capacidade de combinar custo, número e flexibilidade operacional, aliada a criatividade.

O confronto atual evidencia uma transformação essencial no conceito de guerra. Equipamentos sofisticados e caros, quando enfrentam volumes significativos de ameaças de baixo custo, perdem grande parte de sua vantagem estratégica. Para a Polônia e para a OTAN como um todo, a mensagem é clara, investir em defesas antiaéreas acessíveis e especializadas em drones não é apenas uma necessidade tática, mas uma exigência estratégica. Sem essa adaptação, um arsenal impressionante pode se tornar economicamente inviável e operacionalmente insuficiente diante de novas regras de combate.

O episódio também reforça uma lição mais ampla, a guerra contemporânea não se vence apenas pelo preço ou pela sofisticação do equipamento, mas pela capacidade de alinhar tecnologia, tática e economia de maneira inteligente e escalável. Enquanto a OTAN emprega seus sistemas milionários, quem se adapta, como a Ucrânia, consegue transformar simplicidade e criatividade em superioridade operacional. Cada vitória contra drones baratos com sistemas caros expõe a fragilidade de uma abordagem que ignora a lógica econômica do conflito.

Em última análise, a experiência polonesa é um alerta estratégico para todo o Ocidente. Na guerra de drones, a eficiência e a inovação econômica podem superar a sofisticação e o preço. A OTAN precisa urgentemente repensar sua estratégia de defesa aérea, integrando tecnologia de ponta com soluções acessíveis, produção em massa e tática adaptável, garantindo que seu arsenal impressionante seja também eficaz, sustentável e relevante no campo de batalha moderno.

Para o Brasil, a lição é ainda mais crítica. O país precisa investir de forma consistente e estratégica em pesquisa e desenvolvimento (P&D), tecnologia nacional e inovação em defesa, para criar soluções próprias que sejam eficazes, escaláveis e econômicas. O futuro da segurança nacional depende de capacidade tecnológica própria, de drones a sistemas de guerra eletrônica, de sensores a plataformas de comando e controle, que permitam ao Brasil proteger seu território e seus interesses estratégicos sem depender exclusivamente de importações caras. Investir em P&D não é apenas uma escolha tecnológica, mas uma questão de soberania, autonomia e preparação para as guerras do século XXI.


por Angelo Nicolaci


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