quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Sistemas antiaéreos do Irã despertam interesse, mas ainda enfrentam dúvidas quanto à eficácia real em combate.

A indústria de defesa iraniana vem ampliando, de forma consistente, seu portfólio de sistemas de mísseis terra-ar e, mais recentemente, passou a promover essas soluções para o mercado internacional. A análise do especialista Christopher F. Foss, publicada pelo site especializado Shephard Media, revela que embora o portfólio seja tecnicamente amplo, persistem dúvidas relevantes sobre sua real eficácia operacional e competitividade frente a concorrentes ocidentais, russos e chineses.

Segundo Foss, o Irã já possui longa experiência na fabricação e exportação de mísseis antitanque e foguetes de longo alcance, principalmente para países do Oriente Médio. Nos últimos anos, no entanto, essa capacidade foi direcionada também para o desenvolvimento de sistemas móveis de defesa antiaérea, em diferentes camadas de alcance, do curto ao longo raio de ação.

O modelo de menor alcance apresentado pelo país é o AD-08, montado sobre uma plataforma 4x4 de origem italiana. O sistema é composto por um lançador do tipo pedestal com dois mísseis do tipo “dispare e esqueça” em cada lado e um módulo eletro-óptico central capaz de detectar e acompanhar até quatro alvos simultaneamente. De acordo com as informações disponíveis, o conjunto atinge alvos a até 8 km de distância e altitudes de até 5.000 metros, operando com orientação infravermelha passiva. Antes do disparo, estabilizadores hidráulicos são acionados para garantir a precisão do lançamento, e unidades auxiliares de energia permitem o funcionamento com o motor principal desligado.

Um patamar intermediário é ocupado pelo sistema AD-40, transportado em viaturas 6x6 e apoiado por dois veículos dedicados ao controle de tiro e à vigilância radar. Este sistema utiliza radares bastante semelhantes aos do antigo MIM-23 HAWK de origem norte-americana, fornecidos ao Irã antes da Revolução Islâmica de 1979, que segundo Foss pode ter sido reproduzido por meio de engenharia reversa, possivelmente com algum grau de assistência externa. O AD-40 é capaz de engajar alvos a até 40 km de distância, com teto operacional de 18.000 metros, utilizando guiamento por radar.

Acima dessa faixa estão os sistemas AD-75 e sua versão evoluída, o AD-75S. Estes já empregam radares de varredura eletrônica e lançadores sobre plataformas 6x6 e 8x8, com alcance máximo declarado de até 75 km e capacidade de engajar múltiplos alvos simultaneamente. O sistema conta com estação de comando e controle integrada, além de veículos de reabastecimento e recarga, configurando um conjunto completo de defesa de média a longa distância.

Em um nível ainda mais avançado surge o AD-120, que compartilha parte da arquitetura radar do AD-40, mas com mísseis de maior alcance e guiamento mais sofisticado, combinando sistemas inerciais, enlace de dados e orientação radar ativa ou semiativa. Este modelo pode formar baterias com até três lançadores, cada um transportando quatro mísseis.

No topo da hierarquia encontra-se o AD-200, classificado como um sistema de defesa aérea de longo alcance. Segundo os dados levantados por Christopher F. Foss, esse conjunto inclui um radar de vigilância com alcance de até 320 km, um radar de rastreamento com alcance de 260 km e lançadores montados sobre viaturas 10x10, capazes de disparar mísseis de até 2 toneladas. Um sistema completo pode operar com até seis lançadores, todos integrados a um posto central de controle de combate. A promessa é de cobertura de grandes áreas e capacidade de engajar alvos a até 200 km de distância.

Apesar do volume de sistemas anunciados, a análise técnica ressalta um ponto crítico: esses mísseis não operam de forma isolada, mas sim como parte de uma rede de defesa aérea em camadas, que inclui canhões antiaéreos e mísseis portáteis. Ainda assim, sua real eficiência foi colocada em xeque após ataques aéreos realizados contra alvos em território iraniano em meados de 2025, conduzidos por Israel e pelos Estados Unidos. Segundo relatos, a rede de defesa não apresentou o desempenho esperado, levantando dúvidas sobre a maturidade tecnológica e a capacidade de resposta em um cenário de guerra moderna de alta intensidade.

Um dos sistemas mais conhecidos, mas que ainda não foi oficialmente ofertado ao mercado externo, é o Sevom Khordad. Visualmente comparado ao sistema russo Buk-M2, este modelo teria sido responsável anos atrás pelo abate de um drone norte-americano RQ-4 Global Hawk. Mesmo assim, o Irã não confirmou sua disponibilidade para exportação, possivelmente tratando-o como ativo estratégico sensível.

Antes da Revolução Islâmica, o Irã dependia fortemente de sistemas britânicos e norte-americanos, como o Rapier e o HAWK. Após 1979, Teerã passou a buscar equipamentos da China e da Rússia, ao mesmo tempo em que investiu pesadamente em desenvolvimento próprio e engenharia reversa. O resultado é um portfólio complexo, heterogêneo e em parte inspirado em plataformas estrangeiras.

A análise de Foss conclui que embora os sistemas iranianos apresentem características técnicas competitivas no papel, o mercado internacional ainda observa com cautela. Fatores como desempenho real em combate, confiabilidade dos sensores, integração em redes modernas e suporte logístico de longo prazo serão decisivos para determinar se essas soluções poderão, de fato, ocupar espaço em um cenário dominado por grandes potências e empresas consolidadas.

Se conseguir comprovar eficiência, robustez e custo-benefício, o Irã poderá se tornar um fornecedor alternativo para países com acesso limitado a tecnologias ocidentais. No entanto, até que isso se confirme, os sistemas AD continuam sendo vistos mais como uma demonstração de capacidade industrial e resiliência tecnológica do que como uma ameaça concreta ao domínio dos grandes fabricantes globais de defesa antiaérea.


GBN Defense - A informação começa aqui

Share this article :

0 comentários:

Postar um comentário

 

GBN Defense - A informação começa aqui Copyright © 2012 Template Designed by BTDesigner · Powered by Blogger