segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

O ANTISSEMITISMO QUE A ESQUERDA PREFERE NÃO VER

A esquerda brasileira gosta de se apresentar como consciência moral da política. Defensora dos direitos humanos, das minorias e da memória histórica, ela se coloca, com frequência, no lugar de quem aponta o dedo. 

O problema começa quando esse mesmo dedo se recusa a olhar para dentro.

O aumento de episódios de antissemitismo no Brasil é real, documentado e reiteradamente denunciado por entidades judaicas. Ainda assim, parte significativa da esquerda reage não com preocupação, mas com desconfiança. A denúncia é relativizada, reinterpretada ou descartada como “instrumentalização política”.

O preconceito só parece existir quando vem do outro lado do espectro ideológico.

A causa palestina tornou-se, para muitos setores progressistas, uma zona de conforto moral. Ela oferece uma narrativa simples e sedutora: de um lado, a vítima absoluta; do outro, o opressor absoluto, o vilão inequívoco. Dentro dessa narrativa simplificada, Israel deixa de ser um Estado concreto, com governo, disputas internas e responsabilidades específicas, passando a funcionar como símbolo. O problema é que, nesse deslocamento simbólico, judeus reais entram no lugar do alvo abstrato, tornando-se destinatários de uma hostilidade que deveria ser dirigida apenas a políticas estatais.

Quando cartazes comparam judeus a nazistas, quando “sionista” vira xingamento, quando sinagogas precisam reforçar segurança em nome de uma guerra a milhares de quilômetros de distância, algo saiu do trilho. Insistir que isso é apenas “crítica a Israel” não é honestidade intelectual, é autoengano.

A esquerda costuma afirmar, corretamente, que criticar um Estado não equivale a odiar um povo. Mas essa distinção, tão invocada no discurso, raramente é defendida na prática. Se fosse, haveria reação firme contra a banalização do Holocausto, contra a culpabilização coletiva de judeus e contra a normalização de uma hostilidade que não seria tolerada contra nenhuma outra minoria.

Há também um silêncio revelador. Islamofobia, racismo e xenofobia mobilizam protestos imediatos, como deveriam. Já o antissemitismo costuma vir acompanhado de explicações, condicionantes e notas de rodapé. Como se judeus precisassem provar que merecem proteção. Como se fossem “brancos demais”, “ocidentais demais” ou “privilegiados demais” para figurar no rol das vítimas legítimas.

O antissionismo, nesse contexto, deixou de ser posição política debatível e virou dogma. Questioná-lo é heresia. Pouco importa que o sionismo tenha múltiplas correntes ou que a autodeterminação seja um princípio defendido para praticamente todos os povos do planeta. Para os judeus, abre-se uma exceção moral conveniente.

O resultado é uma contradição que corrói o discurso progressista: defende-se a universalidade dos direitos humanos enquanto se relativiza o preconceito quando ele não cabe na narrativa.

Reconhecer esse problema não significa absolver governos israelenses, silenciar Gaza ou abandonar a defesa dos palestinos. Significa apenas algo mais básico e mais difícil: admitir que o preconceito não escolhe ideologia e que causas justas não justificam discursos injustos.

Se a esquerda quiser continuar se apresentando como referência moral, precisará aprender a fazer aquilo que sempre exigiu dos outros: autocrítica. Sem isso, sua denúncia do ódio alheio soará cada vez mais seletiva e, portanto, vazia.


por Mauro Beirão



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