O recente episódio envolvendo navios da Marinha Russa no Canal da Mancha reacendeu a disputa político-estratégica entre Reino Unido e Rússia, transformando um procedimento rotineiro de vigilância marítima em mais um capítulo da guerra de narrativas travada pelos dois países.
O caso começou quando a Marinha Real Britânica anunciou ter “interceptado” e monitorado a corveta Stoiki e o navio-tanque Elna durante a travessia do Estreito de Dover rumo ao Canal da Mancha. A operação foi conduzida pelo navio de patrulha HMS Severn e confirmada pelo Ministério da Defesa do Reino Unido em 23 de novembro. Londres afirmou que o aumento de 30% na aproximação de navios russos às águas territoriais britânicas nos últimos dois anos intensificou a vigilância, o que inclui o envio de aeronaves de patrulha marítima P-8 Poseidon para reforçar missões de reconhecimento a partir da Islândia.
O Reino Unido alega preocupação crescente com a atividade naval russa em áreas sensíveis, onde se concentram cabos submarinos de dados e energia, infraestrutura considerada vital para a segurança europeia. “Nós estamos de olho em vocês. Sabemos o que estão fazendo”, declarou o Secretário de Defesa britânico, John Healey, em tom de alerta.
Moscou, porém, reagiu com irritação. A imprensa russa classificou o anúncio britânico como um gesto teatral e acusou Londres de inflar artificialmente a tensão. O jornal Vzglyad, alinhado às narrativas do Kremlin, ironizou o poder naval britânico, afirmando que a Grã-Bretanha estaria “posando de sapo musculoso” para sua audiência interna. Diplomatas russos dizem que a narrativa britânica desperta “sorrisos diplomáticos” e acusam o Reino Unido de “amplificar a histeria militarista”.
Autoridades russas sustentam que não houve interceptação, apenas identificação visual e aproximação, prática que consideram normal em águas internacionais. Parlamentares e especialistas militares em Moscou destacaram que a corveta Stoiki jamais foi parada, e que o termo “interceptação” seria exagerado para criar a impressão de controle britânico sobre o movimento de navios russos na região.
A crítica russa continua ao destacar que os navios cruzavam legalmente o Canal da Mancha e que nenhum país pode impedir seu trânsito. Também afirmam que Londres estaria usando o episódio para reforçar o discurso de firmeza diante da OTAN e compensar a falta de “sucessos militares”, em referência ao prolongamento da guerra na Ucrânia.
A narrativa britânica, por sua vez, sustenta que o monitoramento é fundamental em um momento em que a Rússia tem intensificado operações navais em zonas estratégicas. A situação lança luz sobre o desgaste da capacidade militar russa, frequentemente lembrado pelos adversários: o país não tem controle pleno do Mar Negro após quatro anos de guerra, e seu único porta-aviões, o problemático Almirante Kuznetsov, encontra-se parado há 8 anos após sucessivos acidentes, incêndios e atrasos em sua modernização.
O episódio no Canal da Mancha, embora militarmente discreto, ganhou dimensão simbólica. De um lado, Londres reforça sua postura de vigilância e dissuasão. Do outro, Moscou tenta transformar o ocorrido em uma demonstração de excesso britânico, alimentando sua narrativa interna de que o Ocidente age de forma hostil e provocativa.
No fundo, o caso evidencia como operações rotineiras têm se tornado combustível para disputas políticas e informacionais em um cenário global cada vez mais tenso e competitivo.
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