segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Análise e Crítica: Crise à Vista na Base Industrial de Defesa - Banco do Brasil Deserta do Seu Dever Pátrio

 

Hoje foi com sentimento de imensa decepção e preocupação, que li na "Folha de São Paulo", a notícia sobre a decisão do Banco do Brasil de cortar laços financeiros com empresas de defesa é mais do que uma simples mudança de política; é um abandono de responsabilidades fundamentais para com a segurança e desenvolvimento do país. Ao retirar seu suporte financeiro a um setor estratégico, como é o caso da Indústria de Defesa, o BB se coloca na contramão do compromisso nacional, ignorando as implicações econômicas, de emprego e tecnológicas que reverberam na sociedade brasileira.

A argumentação de "governança" como justificativa para essa decisão é, no mínimo, questionável. Outros bancos privados já haviam adotado a mesma postura, mas o BB era visto como um último bastião, ainda negociando garantias de exportação, algo que nem mesmo a Caixa Econômica Federal oferecia. Essa mudança abrupta de postura deixa empresas como a Mac Jee, Avibrás, Taurus e outras do setor à deriva, enfrentando o risco iminente de quebra e perda de contratos que representam centenas de milhões de dólares, além de representar a perda de empregos e capacidades tecnológicas ímpares e de suma importância ao desenvolvimento do Brasil no que diz respeito a sua soberania e posição no cenário internacional.

O comunicado do BB de que nenhum contrato existente será rompido é uma mera consolação diante do verdadeiro problema. A falta de financiamento para novos contratos e a ausência de garantias nas exportações colocam em xeque não apenas o presente, mas o futuro dessas empresas. O banco se exime de responsabilidades futuras enquanto o setor de defesa, responsável por 4% do PIB brasileiro, agoniza diante de um vácuo financeiro, o que se soma a vários desafios que o setor já enfrenta.

A promessa da possível ampliação do Programa de Financiamento às Exportações (Proex) é uma resposta tímida diante da magnitude do problema. Não há tempo para meras promessas, enquanto empresas estratégicas enfrentam a ameaça real da falência. O BB, ao optar por uma postura rígida e descompromissada, está ignorando não apenas a estabilidade econômica das empresas, mas comprometendo a própria segurança nacional.

A autonomia administrativa do BB é uma justificativa frágil quando comparada à sua função primordial como uma instituição financeira nacional. As decisões sobre concessão de crédito não podem ser meramente guiadas por "práticas corporativas" enquanto a segurança e o desenvolvimento do país estão em jogo. É imperativo que o BB reconheça a urgência da situação e retome seu papel de apoio ao setor de defesa.

O Ministério da Defesa e o governo federal, como um todo, não podem se contentar com uma "possível ampliação" do Proex, é preciso deixar as inércia de ações, retirar os antolhos e enxergar a importância do setor de defesa para economia nacional, e entender que o investimento em defesa como um todo, gera retorno econômico, social e tecnológico ao Brasil, isso sem considerar a importância para defesa de nossa soberania e posição no tabuleiro geopolítico. A situação demanda ações imediatas e efetivas para garantir que o setor de defesa não apenas sobreviva, mas prospere, a exemplo do que vemos ocorrer na Turquia. A falta de previsibilidade nas políticas financeiras prejudica não apenas as empresas, mas enfraquece a posição do Brasil no cenário internacional, comprometendo sua soberania e independência.

A Turquia emerge como um case de sucesso notável ao investir significativamente em sua Base Industrial de Defesa, transformando-a em um pilar essencial para o crescimento econômico e a geração de empregos. O país demonstra como um comprometimento estratégico com a indústria de defesa pode resultar em benefícios econômicos substanciais.

Angelo Nicolaci (dir.) Sendo recebido pelo Embaixador da Turquia, Halil Ibrahim Akça (esq.)

Ao longo dos últimos anos, a Turquia tem direcionado recursos consideráveis para o desenvolvimento de tecnologias avançadas e a produção de equipamentos militares de alta qualidade. Esse investimento não apenas fortaleceu as capacidades de defesa do país, mas também impulsionou suas exportações de produtos relacionados à indústria de defesa.

As exportações turcas no setor de defesa não se limitam apenas a armas e equipamentos militares, mas abrangem uma gama diversificada de produtos, incluindo aeronaves, veículos terrestres, sistemas de comunicação e tecnologias avançadas. Essa diversificação não só contribui para a segurança nacional, mas também amplia as oportunidades de negócios no mercado internacional.

O retorno econômico gerado pelo setor de defesa na Turquia é evidente nos números das exportações. O país não apenas atende às demandas internas, mas também se tornou um fornecedor confiável para diversos países ao redor do mundo. Essa expansão no comércio internacional resulta em um influxo significativo de divisas estrangeiras, fortalecendo a posição econômica da Turquia.

Além disso, o investimento contínuo na indústria de defesa tem um impacto direto na geração de empregos. A criação de empregos na área de pesquisa e desenvolvimento, produção e logística contribui para o aumento da força de trabalho especializada, promovendo a inovação e o desenvolvimento tecnológico em diversos setores.

O exemplo turco destaca a importância estratégica de se apoiar e fortalecer a Base Industrial de Defesa como um motor essencial para o crescimento econômico sustentável. O Brasil, diante dos desafios recentes em relação ao financiamento desse setor, pode aprender com a abordagem proativa da Turquia, buscando oportunidades para desenvolver suas próprias capacidades de defesa e, assim, impulsionar o progresso econômico e a criação de empregos.

O Banco do Brasil deve ser instado a reconsiderar sua posição, reconhecendo a importância crítica do setor de defesa para o país. A omissão financeira em um setor estratégico é um ato que transcende o âmbito econômico, tornando-se uma negligência para com a segurança e o avanço do Brasil. A pátria exige mais do que decisões guiadas apenas por princípios corporativos, exige um compromisso inequívoco com o presente e o futuro da nação.


Por Angelo Nicolaci - Editor, Jornalista Especializado em Geopolítica & Defesa, Consultor e Palestrante com domínio em assuntos correlatos a geopolítica, defesa e a base industrial.


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