segunda-feira, 10 de julho de 2023

Análise: Os efeitos da invasão à Ucrânia no mercado internacional de defesa

A invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022, desencadeou dois movimentos em escala crescente, o primeiro foi uma verdadeira mobilização da Europa em apoio a Ucrânia, criando um esforço de guerra que não é visto na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial, com diversos membros da OTAN enviando um grande volume de material e munição, além de oferecer treinamento e apoio na preparação das tropas para operar os meios e armamentos disponibilizados à Ucrânia. O segundo movimento observado, é o aquecimento do mercado de defesa, proporcionado pelo aumento vertiginoso da procura por novos sistemas e armas, sob justificativa de repor os meios antigos ou dos estoques que foram enviados em apoio aos ucranianos, somado a imagem da Rússia como uma real ameaça a Europa.

Nesse contexto, temos observado uma rápida evolução nas capacidades de defesa de nações como Polônia, Romênia e outros estados europeus que enviaram os equipamentos e sistemas de origem soviética/russa à Ucrânia, e os tem substituído por sistemas mais avançados de origem ocidental, movimento que vem recebendo apoio dos EUA, que tem oferecido condições especiais aos aliados da OTAN realizarem a aquisição de novos carros de combate, sistemas de defesa aérea, mísseis e aeronaves.

Verificamos um salto principalmente nas capacidades de artilharia e da cavalaria blindada e mecanizada dos estados membros da OTAN localizados próximo as fronteiras da Rússia. Estas são lacunas que rapidamente foram identificadas observando o teatro de operações na Ucrânia.

Para termos uma ideia da importância que vem sendo dado ao investimento na arma de artilharia, a Romênia planeja adquirir um total de 90 obuses autopropulsados, onde o obus autopropulsado sul-coreano K9 Thunder desponta como a opção romena.


No ano passado, a Polônia encomendou 212 obuses autopropulsados ​​K9 Thunder, e a maioria destes K9  serão fabricados na linha de montagem que será aberta na Polônia, e já se cogita um segundo contrato que segundo especulações, pode superar os 600 obuseiros K9. Com relação ao K9, a Polônia e a Coreia do Sul tem realizado conversas sobre o desenvolvimento conjunto de uma variante mais avançada do K9.

No campo de carros de combate, o também sul-coreano K2 Black Panter tem conquistado espaço no mercado europeu, e isso se dá em grande parte pela emergente urgência na aquisição destes meios, com o carro de combate asiático sendo o que apresenta menor prazo para entrega, uma vez que as linhas de produção alemãs e norte americanas estão abarrotadas de pedidos.


Com isso, a Polônia por exemplo, adquiriu um lote de carros de combate M1A1 Abrams dos estoque norte americanos, além de complementar com um pedido de outro lote com maior número de viaturas da variante mais avançada e novos de fábrica do M1A2 Abrams, porém, estes irão demorar a ser entregues, e para cobrir a lacuna deixada pelos blindados enviados a sua vizinha, o governo polonês fechou uma grande compra de carros de combate K2 Black Panther, os quais tem uma respeitável capacidade, além de unir um preço mais convidativo e menor prazo para entrega.


Na arena aérea, vemos a Romênia buscando suprir a lacuna do envio de suas aeronaves Mig-29 para Ucrânia, esta em avançadas negociações para aquisição de 32 aeronaves F-16 MLU Block 10/15 norueguesas, as quais já se realiza uma negociação em paralela visando a modernização das mesmas com a norte americana Lockheed Martin.

No outro flanco europeu, vemos a Suécia adquirindo 250 mísseis do tipo BVR, AIM-120C-8 AMRAAM junto aos EUA, França comprando 1.515 mísseis anti-carro AGM-114R2, e a Alemanha embarcando no F-35A Lightning II, entre várias compras que tem movimentado bilhões no mercado internacional de defesa, e as perspectivas é que este movimento tende a ganhar ainda mais fôlego, o que deverá gerar uma receita de bilhões e sustentar futuros desenvolvimentos tecnológicos no segmento de defesa, além de dar mais "músculos" a estrutura de defesa da OTAN na Europa.

A Turquia é outro importante player que emerge neste novo cenário que se desenvolve com o conflito ucraniano, com sua indústria de defesa ganhando espaço em importantes mercados que outrora, eram atendidos pela indústria de defesa russa, a qual ao contrario do que acontece no ocidente, se vê cada vez mais dependente das compras internas, uma vez que a maioria dos seus clientes internacionais, tem dado preferência por investir em meios e sistemas ocidentais ou asiáticos.

No campo geopolítico, temos a Rússia apontada como ameaça a paz mundial, sob diversas sanções internacionais que vem afetando sua economia e indústria, sem contar a perda de influência em diversas regiões onde tinha grande poder, sendo substituída pela China, Turquia e players europeus.

Nesta breve análise, não temos a pretensão de aprofundar em dados estatísticos, ou traçar uma leitura dos rumos geopolíticos regionais e mundiais afetados pelo conflito, e tão somente propomos uma reflexão sobre os movimentos resultantes da invasão à Ucrânia, com intuito de incentivar o debate e fomentar o estudo acerca deste prisma.


Por Angelo Nicolaci


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