sábado, 7 de setembro de 2013

Brasil-EUA: crise nas relações?


Chegou uma notícia que, de certa forma, já era esperada há algum tempo e, especialmente, desde a passada segunda-feira. Trata-se do cancelamento dos preparativos da visita oficial da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, aos Estados Unidos, marcada para outubro próximo.
 
A causa é a divulgação dos materiais sobre a espionagem da agência americana no Brasil. Ainda não há confirmação do cancelamento da visita, mas a equipe que embarcaria aos Estados Unidos para preparar a visita de Estado da presidente Dilma Rousseff teve a viagem cancelada a pedido da presidente. Isso demonstra uma crise sem precedentes nas relações americano-brasileiras.
 
A presidente Dilma está em São Petersburgo, na Rússia, onde participa da 8ª cúpula do G20 – grupo de países que reúne as maiores economias mundiais.
 
Na sessão de abertura, a presidente do Brasil e o presidente dos Estados Unidos estavam sentados lado a lado, mas foi visível o clima de constrangimento, pois eles não trocaram cumprimentos.
 
A presidente Dilma ainda pretende usar a tribuna da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, no próximo dia 24, em Nova York, para cobrar uma ação internacional contra a violação de telefonemas e correspondências eletrônicas. O Itamarati por enquanto abstém de comentários.
 
É interessante observar neste caso a evolução das relações entre o Brasil e os EUA no período depois da Segunda Guerra Mundial, quando a Força Expedicionária Brasileira fazia parte do 5º Exército Americano. Eis, o que conta o famoso diplomata Luiz Felipe Lampreia, que trabalhou no Itamarati ao longo de meio século.
 
Luiz Felipe Lampreia foi embaixador em Suriname, depois embaixador em Lisboa e Genebra, foi secretário-geral do Itamarati ainda na época do presidente Fernando Enrique Cardoso, e depois ministro. Hoje é conselheiro de três organizações, como professor e conferencista. Há 5-6 décadas a situação era diferente, como conta Luiz Felipe Lampreia:
 
"A opinião do Brasil interessava muito pouco. Havia, naturalmente, uma presença na ONU. Era uma presença tradicional. O Brasil foi quase, inclusive, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Não foi porque Churchill e Stalin acharam que o Brasil não tinha peso para figurar no grupo dos cinco membros permanentes: URSS, China, França, Inglaterra e Estados Unidos. Creio que o Brasil passou uma boa parte nos anos 50 e dos anos 60 muito ressentido pelo fato que não tinha tido uma recompensa real pelo sacrifício do sangue, inclusive na Segunda Guerra Mundial. O Brasil foi o único país da América Latina que enviou tropas para a Europa, um contingente que não era enorme, mas era de 25.000 homens e teve perdas de mais de 1.000 homens... O Brasil não recebeu nada em troca. Recebeu uma Comissão Brasil-Estados Unidos, mas não recebeu nada como o plano Marshall, um apoio real que poderia ter sido, talvez, a ilusão de que o Brasil tinha que ter algo muito importante pela sua fidelidade, pela sua presença. E aí nasceu um prejuízo, nasceu um forte grupo nacionalista, em primeiro lugar, dentro do Exército, com general Estillac Leal, que era um homem de esquerda que venceu a Diretoria do Clube Militar. Prejuízo que assinalou a força deste grupo antiamericano, um grupo nacionalista, um grupo, que depois, o próprio Getúlio tinha marcado os assessores para fazer parte desse... Jesus Correia mais outros. Levou à criação da Petrobras, levou à criação da Eletrobras, levou à criação de uma linha do Estado brasileiro, que é uma linha não, evidentemente, objetivamente ou declaradamente anticapitalista ou antiamericana, mas que, no fundo, era uma reação nacionalista a essa situação.
 
Por outro lado, os generais que tinham participado da guerra na Itália: Castelo e outros, eram pró-americanos. Houve a partir do fim da década de 50 um certo predomínio do grupo não-nacionalista, digamos, e isso levou ao golpe de 64. O que prevaleceu originalmente foi o grupo dos veteranos da FEB. E a FEB, como sabemos, era a parte do 5º Exército americano, comandado pelo general Mark Clark, não era uma entidade autônoma. Então, eu assisti com muito constrangimento um discurso do Castelo Branco, marechal Castelo Branco que significava um completo alinhamento do Brasil aos Estados Unidos..."
 
É evidente que a situação mudou! Mudou o mundo! A opinião, a autoridade do Brasil e de muitos outros países já é amplamente considerada, seja apresentada junto com o grupo dos BRICS, seja individualmente. Mas o que irrita muito é que o mundo não fica mais tranquilo e feliz: todos os dias vivemos sob a ameaça de novas provações e guerras.

Fonte: Voz da Rússia
Share this article :

0 comentários:

Postar um comentário

 

GBN Defense - A informação começa aqui Copyright © 2012 Template Designed by BTDesigner · Powered by Blogger