Um novo relatório sobre a Síria, elaborado por uma comissão
liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro para o Conselho de Direitos
Humanos da ONU, afirma que todos os lados envolvidos no conflito no país estão
cometendo crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

O relatório acrescenta que combatentes rebeldes também realizaram um número
crescente de execuções sumárias.
O documento diz que os responsáveis pelos crimes demonstraram não temer
possíveis punições e que é fundamental que esses casos sejam levados à
Justiça.
As conclusões da comissão foram apresentadas nesta quarta-feira, um dia antes
do encontro em Genebra do secretário de Estado americano, John Kerry, com o
ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que devem discutir
uma resposta às alegações de uso de armas químicas na periferia de Damasco no
mês passado.
Centenas de pessoas foram mortas em um ataque que os Estados Unidos, a
Grã-Bretanha e a França dizem que só pode ter sido realizado pelo regime sírio.
O governo da Síria nega as acusações.
Em um trecho do relatório divulgado nesta quarta, a comissão liderada por
Pinheiro diz que "não há solução militar" para o conflito na Síria. "Aqueles que
fornecem armas criam apenas uma ilusão de vitória", acrescenta o texto.
Violações de direitos humanos
A Comissão Independente de Investigação na Síria foi estabelecida pelo
Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2011 para monitorar o conflito que já
deixou mais de 100 mil mortos no país, de acordo com as Nações Unidas.
Os membros da comissão, que foram impedidos de entrar na Síria, basearam o
relatório em entrevistas com testemunhas, gravações de vídeo e imagens de
satélite colhidas entre 15 de maio e 15 de julho.
Os investigadores afirmam que a Síria se tornou um "campo de batalha", com
milhões de deslocados, cidades alvo de "cercos e bombardeios incessantes" e
massacres "cometidos com impunidade".
"As forças do governo cometeram graves violações de direitos humanos e crimes
de guerra como tortura, tomada de reféns, assassinato, execução sem o devido
processo, estupro, ataque a alvos protegidos e saque", diz o relatório.
Hospitais também foram bombardeados, colheitas foram queimadas e água foi
negada a comunidades desesperadas, segundo o documento.
"Grupos armados de oposição ao governo cometeram crimes de guerra, incluindo
assassinato, execução sem o devido processo, tortura, tomada de reféns e ataque
a alvos protegidos. Eles cercaram e bombardearam indiscriminadamente áreas
civis", acrescenta a comissão.
Em um episódio em junho, um garoto de 15 anos teria sido executado por
rebeldes jihadistas, que acusavam o rapaz de blasfêmia, na cidade de Aleppo, no
norte do país.
Combatentes de milícias rebeldes e curdas também teriam usado
crianças-soldados no conflito.
Massacres
O relatório diz que, desde o início da insurgência contra o presidente Bashar
al-Assad em março de 2011, pelo menos oito massacres foram realizados por forças
do governo e seus partidários, e um por grupos rebeldes. Outros nove casos de
assassinatos em massa estão sendo investigados.
Os investigadores afirmam ter recebido denúncias do uso de armas químicas,
mas acrescentam que as evidências atualmente disponíveis não são suficientes
para permitir a identificação dos agentes usados ou dos autores do ataque.
A comissão diz ainda que tem uma longa lista de indivíduos que
comprovadamente cometeram crimes de guerra e que eles precisam ser levados à
Justiça.
"Os autores dessas violações e crimes, de todos os lados, agiram em desacordo
com o direito internacional. Eles não temem ser responsabilizados. Encaminhá-los
à Justiça é imperativo", conclui o relatório.
Fonte: BBC Brasil
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