quarta-feira, 5 de junho de 2024

A Rússia e o Talibã: Uma Aproximação Estratégica Sob os olhares Internacionais

A presença de representantes do Talibã no fórum econômico de São Petersburgo mais uma vez atraiu a atenção internacional para a crescente relação entre a Rússia e o grupo fundamentalista islâmico. Enquanto os olhos do mundo se voltam para essa aproximação, surgem questões cruciais sobre as razões por trás desse movimento e os riscos associados a ele.

A primeira visita oficial de uma delegação do governo talibã ao fórum em 2022 já havia provocado um debate acalorado tanto dentro quanto fora da Rússia. Agora, dois anos depois, os representantes do Talibã estão mais uma vez presentes no evento, levantando especulações sobre os rumos dessa relação.

O Ministério Russo da Justiça e o Ministério do Exterior sugeriram ao presidente Vladimir Putin que o Talibã fosse retirado da lista de organizações proibidas. Embora Putin tenha mantido silêncio sobre a proposta, limitando-se a falar sobre a necessidade de ampliar as relações com o Talibã e o governo afegão, a sugestão em si levanta questões sobre suas implicações práticas.

Especialistas como Hans-Jakob Schindler, do Projeto Contra Extremismo (CEP), sugerem que essa iniciativa russa pode ser uma estratégia de contrapartida, visando a obtenção de benefícios políticos ou econômicos. No entanto, tal movimento não está isento de riscos, como ressalta Thomas Ruttig, especialista em Afeganistão, que vê essa tática como um possível passo em direção ao reconhecimento oficial do Talibã como poder legítimo no Afeganistão.

A possibilidade de a Rússia retirar o Talibã da lista de organizações terroristas durante o fórum econômico de São Petersburgo não pode ser descartada. No entanto, Schindler aponta para um dilema enfrentado pelo Kremlin: realizar tal ação sem garantias claras de contrapartidas pode ser uma jogada arriscada. Por outro lado, manter o Talibã na lista de terroristas pode prejudicar potenciais acordos econômicos com a organização.

Essa aproximação entre Rússia e Talibã não ocorre em um vácuo político. Desde 2015, têm sido observados contatos entre as duas partes, e suspeitas de fornecimento de armas pela Rússia ao Talibã já foram levantadas. As relações diplomáticas oficiais foram estabelecidas em março de 2022, em um contexto de mudanças significativas no Afeganistão, com o Talibã assumindo o controle do país após a retirada das forças ocidentais.

Enquanto alguns países, como o Cazaquistão, já anunciaram a retirada do Talibã de suas listas de organizações terroristas, a comunidade internacional permanece dividida sobre o reconhecimento do grupo como poder legítimo no Afeganistão. Especialistas observam que, para a Rússia, essa aproximação vai além de considerações econômicas, representando uma estratégia geopolítica para preencher o vácuo deixado pela saída das potências ocidentais e integrar o Talibã em uma frente antiocidental.

Além disso, o recente ataque terrorista em Moscou, reivindicado pelo Estado Islâmico da Província de Khorasan, aumentou o interesse da Rússia em estabelecer contatos mais próximos com o governo talibã em Cabul. No entanto, especialistas alertam que a associação entre Talibã e terrorismo ainda é uma preocupação, especialmente diante da possibilidade de membros do grupo aderirem a grupos como o Estado Islâmico Khorasan.

Enquanto o Talibã busca legitimidade internacional e a Rússia busca influência geopolítica, a aproximação entre os dois atores continua a gerar debate e incertezas sobre seus impactos regionais e globais. O fórum econômico de São Petersburgo pode oferecer mais insights sobre os próximos passos dessa complexa relação.


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com DW

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