O Hezbollah obteve poderosos mísseis anti-navio russos, os quais oferecem os meios e capacidades para cumprir a ameaça velada de seu líder contra a Marinha dos EUA (US Navy) e sublinham os graves riscos de qualquer guerra regional, segundo fontes familiarizadas com o arsenal do grupo.
O líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, alertou Washington na semana passada que seu grupo tinha algo reservado para os navios norte-americanos destacados para a região desde que a guerra eclodiu no mês passado entre o grupo palestino Hamas e Israel, abalando todo o Oriente Médio.
Duas fontes libanesas familiarizadas com o arsenal do grupo apoiado pelo Irã disseram a Reuters que Nasrallah se referia aos mísseis antinavio Yakhont de fabricação russa obtidos pelo Hezbollah, os quais possuem alcance de 300 km (186 milhas).
Segundo analistas, há anos que o Hezbollah adquiriu mísseis Yakhont da Síria depois de terem sido implantados lá há mais de uma década para ajudar o presidente Bashar al-Assad durante a guerra civil síria, apesar de oficialmente o Hezbollah nunca ter admitido a posse deste míssil.
Washington informou que o seu destacamento naval no Mediterrâneo, composto por dois porta-aviões e os seus grupos de ataque, visa impedir que o conflito entre Israel e o Hamas se espalhe, dissuadindo o Irã, que apoia grupos como o Hamas, o Hezbollah e a Jihad Islâmica Palestina.
O Hezbollah vê os navios de guerra dos EUA como uma ameaça direta devido à sua capacidade de atingir o grupo e os seus aliados na região.
Nasrallah disse num discurso na sexta-feira (3), que os navios de guerra dos EUA no Mediterrâneo “não nos assustam e não nos assustarão”, e continuou, “Estamos preparados para as frotas com as quais vocês nos ameaçam”, disse ele.
A Casa Branca se pronunciou depois que Nasrallah fez seu discurso de sexta-feira (3), que o Hezbollah não deve explorar a guerra Hamas-Israel, e os Estados Unidos não querem ver o conflito se expandir para o Líbano.
Uma das fontes disse que as capacidades antinavio do Hezbollah se desenvolveram enormemente desde 2006, quando o grupo demonstrou pela primeira vez que poderia atacar um navio no mar ao atingir um navio de guerra israelense no Mediterrâneo durante o conflito com Israel.
“Existe o Yakhont, e claro, há outras coisas além dele”, disse a fonte, sem dar mais detalhes, acrescentando que o uso desta arma pelo Hezbollah contra navios de guerra hostis indicaria que o conflito se transformou numa grande guerra regional.
Sob olhares atentos dos EUA
Segundo analistas de defesa dos EUA, o Hezbollah construiu um arsenal com uma impressionante variedade de armas, incluindo mísseis antinavio.
"Obviamente, estamos prestando muita atenção a isso... e estamos levando a sério as capacidades que eles têm", disse um funcionário do governo norte americano, sem comentar diretamente se o grupo tinha o míssil Yakhont.
As autoridades falaram sob condição de anonimato para comentar abertamente sobre as capacidades do Hezbollah. Onde acrescentaram que o poder naval dos EUA recentemente implantado na região inclui defesas contra mísseis, sem entrar em detalhes.
O Pentágono enviou navios de guerra para o Mediterrâneo Oriental desde 7 de outubro, quando terroristas do Hamas atacaram Israel a partir da Faixa de Gaza, num ataque que matou mais de 1.400 pessoas.
Nasrallah alertou Washington na última sexta-feira, que a prevenção de uma guerra regional dependia da interrupção do ataque israelense. O Hezbollah tem trocado disparos com as forças israelenses na fronteira libanesa desde 8 de Outubro. Isto marca a escalada mais grave desde a guerra de 2006.
Mas até agora o Hezbollah utilizou apenas uma fracção do seu arsenal e a violência tem-se concentrado principalmente na zona fronteiriça.
Outros grupos alinhados com o Irã, como os Houthis do Iêmen, também dispararam contra Israel, enquanto milícias muçulmanas xiitas apoiadas pelo Irã dispararam contra as forças dos EUA no Iraque e na Síria.
O míssil antinavio Yakhont disparado a partir do solo, aproxima-se do seu alvo a baixa altitude, voando a cerca de 10 a 15 metros acima do solo para evitar a detecção, de acordo com um relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), com sede em Washington.
O Yakhont, é uma variante do míssil P-800 Oniks desenvolvido pela Rússia em 1993, que levou ao desenvolvimento em 1999 da variante para exportação, o qual pode ser lançado do ar, do solo ou de submarinos, disse o CSIS.
Questionado sobre os relatos das fontes sobre a aquisição de mísseis Yakhont pelo Hezbollah, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: "Em primeiro lugar, esta é uma notícia sem qualquer confirmação. Não sabemos se é verdade ou não", e prosseguiu, "Em segundo lugar, não temos essa informação."
O Ministério da Defesa russo não respondeu a um pedido de comentários enviado pela agência de notícias Reuters. O Ministério da Informação sírio também não respondeu às perguntas enviadas por e-mail pela Reuters.
PREPARADO E PRONTO
O discurso de Nasrallah na última sexta-feira, marcou uma de suas advertências mais fortes aos Estados Unidos, que responsabiliza seu grupo por um ataque suicida que destruiu o quartel-general dos fuzileiros navais dos EUA em Beirute em 1983, matando 241 militares, e por um ataque suicida à embaixada dos EUA no mesmo ano, que vitimou 63 pessoas.
Embora o Hezbollah tenha negado estar por detrás desses ataques, Nasrallah referiu-se indiretamente a eles no seu discurso, dizendo que aqueles que derrotaram os Estados Unidos no Líbano no início da década de 1980 "ainda estavam vivos".
Nasser Qandil, um analista político libanês próximo do Hezbollah, explicou como os mísseis Yakhont no arsenal do grupo poderiam ser usados contra navios de guerra dos EUA, em comentários no seu canal no Youtube publicados no mês passado.
Ele descreveu o míssil como “o prêmio mais importante” do envolvimento do Hezbollah na guerra da Síria, onde o grupo ajudou a virar a maré da guerra civil a favor de Assad. “Sim, o Hezbollah está preparado e pronto”, disse Qandil.
As duas fontes que falaram com a Reuters disseram que o Hezbollah obteve a arma na Síria enquanto lutava em apoio a Assad, cujas forças armadas há muito são armadas pela Rússia.
O Hezbollah mantém o seu arsenal e a forma como ele é obtido em segredo. Em raros comentários sobre o tema em 2021, Nasrallah explicou como o grupo obteve mísseis antitanque Kornet de fabricação russa através da Síria.
Numa entrevista à emissora libanesa al-Mayadeen, alinhada com o Irã, ele disse que o Ministério da Defesa sírio comprou as armas da Rússia para uso sírio, e que o Hezbollah mais tarde as tomou como uma forma de "apoio" para defender o Líbano. O Hezbollah usou a arma extensivamente na guerra de 2006.
Fonte Reuters
Tradução e Adaptação Angelo Nicolaci
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