O ex-presidente do Uruguai, José Mujica, afirmou nesta quarta-feira (18) que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, "está louco como uma cabra", fazendo referência à troca de farpas entre o mandatário venezuelano e o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.
"Tenho grande respeito por Maduro, mas isso não impede que eu lhe diga que está louco, louco como uma cabra", disse Mujica à imprensa.
O ex-presidente uruguaio afirmou que Almagro "não é nenhum traidor nem funcionário da CIA", em defesa de seu ex-ministro do Exterior, a quem Maduro acusou de fazer parte da inteligência americana.
"Na Venezuela estão todos loucos. Todos dizem de tudo e assim não vão solucionar nada", prosseguiu o ex-mandatário. Para Mujica, o país caribenho precisa "tratar de resolver" sua crise econômica de alguma maneira, pois não se pode viver em meio à "porrada".
Desavença com a OEA
Maduro disse nesta terça-feira que Almagro é um "agente da CIA" em meio à campanha da oposição venezuelana para convocar um referendo para revogar o mandato do presidente.
Almagro, por sua vez, acusou Maduro de trair o próprio povo, afirmando que se o presidente impedir o referendo para revogar seu mandato, será "mais um ditador".
O secretário-geral da OEA estuda a possibilidade de ativar a Carta Democrática Interamericana (CDI) diante da grave situação na Venezuela. O governo venezuelano se opõe à medida, que considera uma interferência nos assuntos internos do país.
O artigo 20º da CDI autoriza a convocação de um Conselho Permanente quando em um Estado-membro houver "uma alteração da ordem constitucional que afete gravemente sua ordem democrática". Para que a medida seja implementada, são necessários 18 votos, que representam a maioria dos membros da OEA.
Maduro não tem mais salvação
Incapacidade do presidente venezuelano de autorreflexão apresenta traços patológicos. Para ele, o culpado pela miséria do país é qualquer outro, menos o seu governo, escreve o jornalista Jan Walter.
Excesso de dúvida sobre si mesmo não costuma ser uma característica marcante entre políticos. Contudo o caso do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é diferente: o país vai mergulhando no caos, mas ele exclui categoricamente qualquer relação causal entre a crise e 16 anos de chavismo.
Maduro sofre simplesmente da ganância de poder tão difundida entre os déspotas? Indício em contrário é a paixão espantosamente ingênua com que conclama à luta pela "Revolução Bolivariana". Não se trata de uma representação calculada: esse homem acredita tão piamente no "socialismo do século 21", que seria uma insustentável autotraição ir agora procurar soluções fora dessa ideologia.
Isso é compreensível. No entanto, a incapacidade de Maduro de autorreflexão apresenta traços patológicos.
O quadro clínico
O país mais rico em petróleo do mundo é forçado a importar gasolina. A Venezuela é a única nação da América do Sul que importa mais alimentos do que exporta – medido em dólares, 100 vezes mais. A coisa já não estava funcionando quando o preço alto do combustível enchia de petrodólares os cofres governamentais. Há dois anos o país empobrece em ritmo meteórico: inflação, carestia e violência grassam.
Segundo Maduro, os culpados por essa miséria são exclusivamente os outros, sobretudo a "burguesia" venezuelana e os "imperialistas norte-americanos". Recentemente ele passou a acusar estes últimos de planejarem uma invasão na Venezuela – como se os Estados Unidos não tivessem nada mais com que se preocupar.
Na imagem coletivista de mundo do presidente, não se encaixa a ideia que sejam indivíduos que estão fechando seus negócios, antes de eles falirem, e investindo seu dinheiro onde ele vá ser respeitado. No entanto ele poderia concluir, com base no nepotismo à sua volta, que cada camarada é o melhor amigo de si mesmo.
O diagnóstico
A perda de senso de realidade e mania de perseguição são sintomas de paranoia. Se Maduro – como ele próprio afirma – às vezes escuta a voz do falecido Hugo Chávez, isso seria indício seguro de esquizofrenia. Nesse quadro clínico também se encaixaria sua óbvia dificuldade de perceber e expressar correlações complexas – mas aqui os motivos são provavelmente outros.
A incapacidade de Maduro de situar as críticas que recebe, e suas tiradas contra todos os que a expressam, têm traços infantis. Também infantiloide é a idealização de seu pai de criação político, Chávez. Mesmo sua glorificação do histórico combatente libertário Simón Bolívar não parece calculismo político – ao contrário do que se vê em seu glacial vice-chefe de partido, Diosdado Cabello.
Se Maduro como alega realmente não associa a manifesta corrupção na Venezuela a si mesmo e a outros correligionários seus, então quase seria o caso de se diagnosticar: "distúrbio de personalidade".
No fim das contas, porém, Maduro possivelmente não passa de um mestre da redução de dissonância cognitiva: ele está seguro que a Revolução Bolivariana é a única saída para a injustiça da pobreza. No entanto, atualmente o povo venezuelano está pior com a revolução do que sem ela. A conclusão dele para essa constatação contraditória é que os culpados são os outros.
A terapia
psicólogos amadores não devem sugerir terapias. Diante das consequências do comportamento de Maduro, seja ele patológico ou não, é também secundário se ele é saudável ou doente. Claro está que durante sua presidência não se viu brilhar a menor centelha de esperança de que a espiral descendente possa se reverter.
Tampouco agora há qualquer sinal disso. Portanto uma cura parece descartada. A única coisa que ainda pode trazer alguma esperança à Venezuela é que, a estas alturas, todo o mundo sabe quem é Nicolás Maduro.
Fonte: Deutsche Welle
0 comentários:
Postar um comentário