A chegada de uma aeronave de transporte militar Ilyushin Il-76 da Força Aérea Russa ao Aeroporto Internacional de Caracas reacendeu preocupações geopolíticas nas Américas e sinalizou um possível aprofundamento da presença militar de Moscou no continente. O voo, que percorreu uma rota de dois dias passando por Armênia, Argélia, Marrocos, Senegal e Mauritânia antes de pousar na Venezuela, foi interpretado como um movimento calculado em meio ao novo ciclo de rivalidade entre grandes potências no hemisfério ocidental.
A aterrissagem ocorreu logo após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, solicitar publicamente assistência militar da Rússia, China e Irã. Documentos do governo dos Estados Unidos, revelados por fontes oficiais, indicam que Maduro enviou uma carta ao presidente russo Vladimir Putin pedindo radares defensivos, modernização de aeronaves e apoio com sistemas de mísseis, alegando preocupação com o aumento das atividades militares norte-americanas no Caribe.
O Ilyushin Il-76 é uma aeronave de transporte estratégico capaz de levar até 50 toneladas de carga ou aproximadamente 200 militares. O modelo tem histórico de participar de missões de envio de armamentos e tropas para zonas de conflito onde a Rússia mantém aliados, como Síria e, mais recentemente, Belarus e outras áreas de interesse militar russo. Embora carregamentos maiores, como sistemas S-300 ou S-400, exijam mais de um voo, a chegada do Il-76 é vista por analistas como possível prenúncio de novos desembarques militares em território venezuelano.
A movimentação ocorre em um momento em que a região do Caribe volta a ganhar relevância estratégica. Os Estados Unidos ampliaram suas operações navais e aéreas na área nos últimos meses, oficialmente com o objetivo de combater o narcotráfico e redes criminosas transnacionais. O Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) afirma, em documentos públicos, que a Venezuela continua sendo um “ponto de apoio para organizações ilícitas e grupos armados”, e que a intensificação de patrulhas no Caribe busca neutralizar ameaças regionais. Caracas, por sua vez, acusa Washington de violações de soberania e de promover ações intimidatórias.
A aproximação venezuelana com Moscou, Pequim e Teerã não é recente, mas ganha nova importância em um cenário internacional marcado pela redistribuição de alianças e pela competição entre grandes potências. Desde o início das sanções econômicas impostas pelos EUA e pela União Europeia contra o governo de Maduro, a Venezuela passou a depender mais de parceiros militares e econômicos alternativos. A Rússia tornou-se, ao longo da última década, provedora de caças, helicópteros, sistemas antiaéreos e treinamento militar. A China, por sua vez, consolidou-se como fonte de financiamento e tecnologia de vigilância, enquanto o Irã tem fortalecido cooperação energética e segurança.
Análise do cenário
A presença de uma aeronave militar russa em Caracas deve ser interpretada como parte de jogos de sinais e contrapesos que não se limita ao contexto regional. Para a Rússia, manter-se atuante na Venezuela permite projetar poder a poucas horas de voo do território norte-americano, fortalecendo um ponto de influência geopolítica em momento no qual Moscou enfrenta isolamento no Ocidente devido à guerra na Ucrânia. A América Latina, e em particular Caracas, tornam-se palco para a Rússia demonstrar que permanece capaz de atuar militarmente fora de seu entorno imediato.
Para a Venezuela, a solicitação de apoio militar de três potências rivais dos EUA busca atender a três objetivos: garantir meios de defesa para dissuadir ações militares norte-americanas, reforçar legitimidade interna diante de uma instabilidade política prolongada e criar margem de manobra diante de negociações internacionais. O governo Maduro entende que segurança e alianças militares são instrumentos de sobrevivência política.
Os Estados Unidos, por sua vez, têm reforçado sua postura de contenção, combinando sanções econômicas, alianças com países da região e presença militar ampliada no Caribe. Há preocupação em Washington sobre o risco de a Venezuela tornar-se plataforma para operações de atores que representam ameaça direta à segurança nacional americana, especialmente se sistemas avançados de defesa aérea ou mísseis forem instalados no país.
Em síntese, a chegada do Il-76 não é um ato isolado, mas parte de uma dinâmica que remete a um novo ciclo de competição geopolítica no hemisfério ocidental. Caso as solicitações de Maduro sejam atendidas com envio de equipamentos sensíveis, como radares, sistemas antiaéreos ou capacidades de mísseis, o Caribe poderá converter-se em um foco relevante da disputa estratégica entre Washington, Moscou, Pequim e Teerã. Para a região, isso representa o risco de militarização crescente e de perda de autonomia diplomática diante da agenda das grandes potências.
por Angelo Nicolaci
GBN Defense - A informação começa aqui

.jpg)


0 comentários:
Postar um comentário