domingo, 2 de novembro de 2025

Operação Furnas 2025: Fuzileiros Navais Lançam Drone Tático de Ataque e Marcam Nova Era na Defesa Nacional

A Marinha do Brasil concluiu nesta semana uma fase decisiva na incorporação de meios não tripulados com capacidade ofensiva ao finalizar os testes de voo de sua primeira aeronave tática remotamente pilotada apta ao emprego letal, etapa que acompanhamos in loco durante a Operação Furnas 2025. O protótipo, desenvolvido e adaptado por militares do Batalhão de Combate Aéreo, já havia sido empregado em lançamentos experimentais na Operação Atlas Armas Combinadas, em setembro, e ganhou agora densidade operacional em exercícios que reproduziram condições reais de emprego, com avaliações de estabilidade de voo, precisão, integração de sistemas e procedimentos de segurança.

O equipamento é compacto, envergadura de 1,64 metro e fuselagem de 65 centímetros, e foi projetado para missões de curta duração, com autonomia em torno de 25 minutos e alcance operacional na ordem de cinco quilômetros. O que o distingue é a adaptação para transporte de uma carga explosiva capaz de neutralizar alvos pontuais, como viaturas e aeronaves leves, sem comprometer o perfil aerodinâmico. Em linguagem coloquial que já circula nos meios militares e na sociedade, trata-se de um “drone kamikaze”, termo popular que remete ao modo de emprego final do aparelho; tecnicamente, porém, a plataforma se enquadra nas chamadas loitering munitions, munições vagantes que patrulham, identificam e atacam um alvo com supervisão humana. No exercício em Furnas vimos esse modo de operação em ação: rota pré-programada por coordenadas, patrulha sobre área delimitada e possibilidade de intervenção manual do piloto até o momento da decisão de engajamento.

A escolha de um perfil autônomo com intervenção humana eventual é significativa. Ela reflete a preocupação em manter controle operacional sobre o uso do meio, reduzindo riscos de engajamentos indevidos e mitigando possibilidades de erros numa cadeia de comando complexa. Em nossas conversas com oficiais e engenheiros do Batalhão, ficou claro que a prioridade é equacionar rapidez de emprego com salvaguardas que minimizem danos colaterais e evitem fratricídio, algo que exige treinamento intenso, protocolos de autorização e robustez nos sistemas de identificação e comunicação.

Outro argumento recorrente entre os operadores é a equação econômica: drones táticos desse tipo apresentam baixo custo de produção em comparação com os ativos que podem neutralizar. É uma assimetria que transforma o cálculo operacional: um aparelho fabricado com um investimento modesto pode ter efeito material desproporcional sobre um alvo de alto valor. Essa dinâmica, vista em conflitos recentes, altera o terreno da dissuasão e da interdição tática, especialmente em ambientes costeiros, ribeirinhos e urbanos, onde a Marinha e os Fuzileiros Navais concentram parte de sua atuação.

Tecnicamente, a plataforma brasileira converge com a filosofia das loitering munitions empregadas em diversos teatros contemporâneos: combinação entre navegação autônoma, guiagem por pontos geográficos e possibilidade de comando remoto. Experiências observadas em conflitos como o da Ucrânia e em operações no Oriente Médio demonstram tanto o potencial de disrupção quanto a vulnerabilidade a contramedidas eletrônicas, interferências de sinal e desafios de identificação em ambiente densamente povoado. Em Furnas, os testes incluíram cenários de degradação de sinal e simulações de interferência, como parte do esforço de validar redundâncias de navegação e proteger o vínculo entre operador e sistema.

O avanço para capacidades ofensivas traz também uma lista de demandas extra‑tecnológicas: amadurecimento doutrinário, regulação interna, regras de engajamento claras e diálogo institucional para estabelecer limites e procedimentos. A Marinha tem conduzido o projeto em ciclos de validação técnica e doutrinária, com atenção a ensaios balísticos da carga, integração com redes de comando e controle e testes de interoperabilidade em operações conjuntas. Especialistas consultados por nós reforçaram que a operacionalização responsável passa por certificações, treinamentos específicos e marcos legais que assegurem conformidade com o direito internacional humanitário e com as normas nacionais de emprego de força.

Há também um componente estratégico e de soberania industrial no desenvolvimento interno do protótipo. Conceber, adaptar e testar a plataforma dentro das Forças Armadas reduz dependência de fornecedores estrangeiros, permite customização segundo a geografia e as necessidades brasileiras e gera conhecimento técnico que pode retroalimentar a indústria nacional de defesa. Na prática não se trata apenas de um projeto de material, mas da construção de uma cadeia de capacidades, operadores, doutrina, manutenção, comunicações e contramedidas, que se bem desenvolvida, amplia a autonomia do país em um domínio cada vez mais decisivo.

Ao acompanhar de perto o adestramento em Furnas, observamos que o projeto já mudou aspectos culturais dentro do Batalhão de Combate Aéreo: a aceitação de conceitos de guerra remota, a necessidade de sinergia com guerra eletrônica e vigilância, e a priorização de processos de autorização rápidos e seguros. Em termos operacionais, a limitada autonomia e o alcance restrito posicionam a plataforma para missões táticas de curta duração, ataques cirúrgicos, interdição e apoio a unidades em assalto, em vez de missões de longo alcance. Essa característica, longe de ser uma limitação, define um conjunto de usos práticos e relevantes para a Marinha, sobretudo em áreas onde a presença física de meios convencionais é difícil ou arriscada.

O uso de drones armados, sob a denominação popular “drone kamikaze”, é hoje tema de debate global por razões óbvias: impacto sobre civis, escalada de conflito, responsabilização e ética no emprego de força. No Brasil, a abordagem adotada pela Marinha, ao enfatizar ciclos de testes, integração doutrinária e controle humano sobre engajamentos, sinaliza uma preocupação em alinhar inovação com governança. Mesmo assim, permanece aberto o desafio de construir transparência institucional e mecanismos de prestação de contas que deem segurança à sociedade sobre os limites e o alcance do emprego desses meios.

Os próximos passos anunciados pela Marinha envolvem novos ciclos de qualificação, avaliações balísticas e de resistência, refinamentos nos sistemas de navegação e comunicações e estudos de emprego conjunto que permitirão situar o sistema em matrizes táticas coerentes com a defesa nacional. Não há, por ora, cronograma público de introdução em serviço, e isso é condizente com a necessidade de maturidade técnica e jurídica antes de qualquer adoção operacional.

A presença de equipes nacionais desenvolvendo e testando a plataforma, aliada ao acompanhamento direto do adestramento em Furnas por nossa reportagem, demonstra que a Marinha avança com pragmatismo: experimenta, aprende e integra tecnologia com cautela. Em um mundo que acelera a automação do combate, o diferencial brasileiro poderá estar na capacidade de combinar inovação, controle humano e normas claras de emprego, evitando os atalhos que podem minar a legitimidade do uso da força. É nesse equilíbrio, entre ousadia tecnológica e responsabilidade institucional, que se joga o futuro imediato das capacidades não tripuladas na Marinha do Brasil.


por Angelo Nicolaci


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com Marinha do Brasil

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