quinta-feira, 10 de julho de 2025

Irã abandona sistemas russos e aposta na China para reconstruir suas defesas aéreas após ataques israelenses

O Irã, tradicional aliado militar da Rússia no Oriente Médio, deu um passo inédito ao escolher sistemas de defesa aérea chineses HQ-9B para reconstruir sua rede antiaérea, amplamente destruída pelos ataques israelenses. A decisão evidencia a insatisfação iraniana com a performance dos sistemas russos S-300, levantando dúvidas sobre o futuro de outras parcerias no âmbito de defesa  entre Teerã e Moscou, como a aquisição de caças Su-35, que também está em xeque.

A aquisição iraniana dos HQ-9B foi revelada pelo site Middle East Eye, que citou autoridades regionais com acesso direto ao acordo. As entregas começaram logo após o término do cessar-fogo informal entre Irã e Israel, no dia 24 de junho. Segundo as informações, o Irã pagará as baterias com petróleo, moeda de troca que lembra acordos da Guerra Fria, consolidando ainda mais a dependência iraniana da China, seu principal parceiro comercial.

A derrocada dos S-300 no Irã

Durante anos, o Irã apresentou os S-300 PMU-2 como um símbolo de sua capacidade defensiva. Comprados da Rússia em 2007 por US$ 1 bilhão, os sistemas demoraram quase uma década para serem entregues, chegando apenas em 2016, em meio a uma série de embargos internacionais.

S300PMU-2 se mostraram ineficientes no Irã

Porém, a realidade dos combates recentes expôs a fragilidade desses sistemas frente à guerra moderna. Nos ataques israelenses de abril e outubro de 2024, os S-300 foram amplamente neutralizados por mísseis de cruzeiro e drones, mesmo com o Irã alegando que suas defesas haviam derrubado várias aeronaves inimigas.

No mais recente conflito de 12 dias entre Irã e Israel, encerrado em junho, as Forças de Defesa de Israel (IDF) provavelmente eliminaram o que restava dos S-300 iranianos. Segundo fontes israelenses, as baterias russas falharam repetidamente em detectar ou interceptar aeronaves furtivas F-35 e mísseis israelenses. Ainda que a mídia estatal iraniana tenha alegado o abate de quatro F-35, três deles supostamente derrubados pelo sistema de defesa aérea iraniano Bavar 373, nenhuma prova concreta foi apresentada. Especialistas apontaram que as imagens divulgadas pelo governo iraniano eram visivelmente manipuladas.

Bavar 373

Diante da destruição praticamente total de suas defesas de médio e longo alcance, Teerã foi forçado a buscar uma alternativa, e a resposta veio da China.

O HQ-9B: uma nova aposta para o Irã

O sistema HQ-9B, fabricado pela China, emprega mísseis superfície-ar de longo alcance baseado em tecnologia russa, mas com significativas melhorias em eletrônica e capacidade de travamento de alvo. Seu alcance pode chegar a 260 km, superior aos cerca de 195 km dos S-300 PMU-2.

O HQ-9B também emprega radares do tipo AESA (Active Electronically Scanned Array) e sensores infravermelhos passivos, o que teoricamente o torna mais eficiente contra aeronaves furtivas como o F-35. Além disso, possui maior resistência a bloqueios e interferências eletrônicas, uma vulnerabilidade notória dos sistemas russos, agravada pela guerra eletrônica cada vez mais presente nos conflitos modernos.

A China é hoje o destino de quase 90% das exportações de petróleo bruto iraniano, uma dependência econômica que também se reflete no campo de defesa. Ainda não foi revelado oficialmente quantos lançadores HQ-9B o Irã recebeu.

O futuro incerto dos caças Su-35 no Irã

Além dos sistemas antiaéreos, o Irã também repensa suas aquisições aéreas. Os caças russos Su-35, cuja venda ao Irã foi amplamente noticiada, ainda não foram entregues. A performance abaixo do esperado do Su-35 na guerra da Ucrânia, onde enfrentou dificuldades contra drones, mísseis ocidentais e caças de nova geração, reforçou as dúvidas em Teerã.

A imprensa iraniana e chinesa sugere que o Irã já analisa seriamente a compra do aeronaves chinesas J-10C. O Defa Press, veículo alinhado às Forças Armadas iranianas, publicou um artigo pedindo oficialmente a aquisição do J-10C como alternativa mais eficiente. De acordo com reportagens de 2021, o Irã teria interesse em até 36 exemplares da aeronave, também em troca de petróleo e gás natural.

O J-10C é uma aeronave de quarta geração, equipada com radar AESA e mísseis PL-15E de longo alcance, capaz de rivalizar com muitos caças ocidentais. A China tem promovido agressivamente essa aeronave como alternativa de baixo custo para países sancionados ou com restrições ao mercado ocidental.

Segundo fontes, durante uma visita recente à China, o ministro da Defesa iraniano, Aziz Nasir Zadeh, teria formalizado o interesse na compra dos J-10C.

Uma ruptura estratégica com Moscou

O que antes era uma sólida parceria militar entre Rússia e Irã agora se desfaz diante dos olhos da comunidade internacional. A guerra na Ucrânia, que escancarou limitações graves nos equipamentos russos, e o fracasso dos S-300 no Oriente Médio geraram um forte desgaste da imagem de Moscou como fornecedor de armas confiáveis.

Países como Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, por exemplo, recusaram-se a adquirir os S-300 e S-400, preferindo sistemas ocidentais, ou no máximo o Pantsir-S1 russo para defesa de ponto. A perda do Irã, seu maior cliente militar na região, representa um duro golpe para a indústria de defesa russa.

Já a China, discreta e pragmática, se fortalece como a nova provedora estratégica de armamentos no Oriente Médio, ampliando sua influência em uma das regiões mais voláteis do planeta.

Análise do GBN sobre o novo cenário

O caso do Irã escancara as transformações no teatro moderno de operações:

  • Fim da supremacia russa: A defesa aérea russa, antes símbolo de invencibilidade, tornou-se ineficiente diante de caças furtivos, mísseis de cruzeiro e guerra eletrônica. A destruição dos S-300 no Irã não é um fato isolado, mas o reflexo direto da inadequação desses sistemas à guerra moderna, como também visto na Ucrânia.

  • Ascensão chinesa na guerra tecnológica: A China, além de prover armamentos mais baratos, oferece soluções que integram eletrônica avançada, sensores redundantes e robustez contra bloqueios eletrônicos, características hoje essenciais para sobrevivência no campo de batalha. O HQ-9B é, essencialmente, um “S-300 aperfeiçoado” para o século XXI.

  • Dependência e pragmatismo iraniano: A escolha iraniana é pragmática. Ao invés de insistir na parceria com Moscou, o Irã busca o que há de mais eficaz dentro das restrições que enfrenta, mesmo que isso aprofunde sua dependência da China. Em meio a constantes ameaças de Israel e dos EUA, a prioridade de Teerã é garantir capacidade real de dissuasão, e não apenas propaganda.

Comparativo Técnico: S-300 PMU-2 vs HQ-9B

Característica S-300/PMU-2 (Rússia) HQ-9B (China)
Alcance Máximo  195 km Até 260 km
Teto 
Até 27 km Até 50 km
Radar Principal Radar phased array (30N6E, não AESA) Radar AESA + sensor infravermelho passivo
Missil Até Mach 4 Mach 4,2 a 4,7
Capacidade Contra Stealth Limitada Otimizada para aeronaves furtivas e mísseis
Resistência EW Moderada, vulnerável a interferências Alta resistência, com rastreamento redundante
Histórico Operacional Fraco no Oriente Médio e na Ucrânia Sem combate real, mas robusto em testes e simulações
Status no Irã Virtualmente destruído Entrando em operação (primeiras baterias entregues)


O Irã, diante da realidade do campo de batalha moderno, rompe com a dependência da Rússia e inaugura uma nova era de alinhamento com a China no setor de defesa. Os fracassos operacionais do S-300 e a falta de entrega dos Su-35 selaram o "divórcio" entre Moscou e Teerã.

O HQ-9B não é apenas uma substituição técnica, ele representa uma mudança de eixo geopolítico no Oriente Médio, com a China ampliando sua influência regional em detrimento da Rússia. Em meio a um cenário de drones, mísseis furtivos e guerra eletrônica, Teerã escolheu um caminho pragmático: sobreviver ao custo da autonomia.



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