domingo, 3 de agosto de 2025

Paquistão recebe helicópteros Z-10ME da China e aprofunda cooperação em defesa com Pequim

O avistamento recente de helicópteros de ataque Z-10ME em solo paquistanês aponta para um novo e significativo capítulo na cooperação em defesa entre o Paquistão e a China. Embora o Comando de Aviação do Exército Paquistanês não tenha divulgado oficialmente quantas unidades foram recebidas ou encomendadas, analistas de defesa avaliam que essa entrega representa mais do que uma simples aquisição — trata-se do prenúncio de uma modernização em larga escala das capacidades de combate aéreo-tático do país.

Desenvolvido pela AVIC (Aviation Industry Corporation of China), o Z-10ME é uma versão de exportação do helicóptero de ataque Z-10, com melhorias substanciais em proteção balística, motorização e sistemas eletrônicos embarcados. O modelo é equipado com sensores eletro-ópticos de última geração, radar de alerta, contramedidas eletrônicas e mísseis ar-terra HJ-10 (semelhantes ao AGM-114 Hellfire), tornando-o uma plataforma letal contra alvos blindados e posições fortificadas.

A versão ME (Modern Export) foi projetada com foco em países da Ásia, África e Oriente Médio, oferecendo uma solução custo-benefício frente a modelos ocidentais mais caros como o AH-64 Apache ou o Tiger europeu. A aeronave também possui maior resistência a ambientes quentes e áridos, o que a torna ideal para operação em regiões como a fronteira oeste paquistanesa, onde ocorrem ações contra insurgências e vigilância de áreas montanhosas.

Alternativas frustradas e realinhamento estratégico

A adoção do Z-10ME ganha relevância diante das dificuldades enfrentadas pelo Paquistão com alternativas anteriores. O país chegou a encomendar 30 helicópteros T129 ATAK da Türkiye, mas o contrato enfrentou obstáculos relacionados à exportação de motores fabricados com tecnologia americana, o que travou a entrega. Também foram realizados testes com o AH-1Z Viper, da Bell Helicopter, mas a entrega de 12 unidades foi suspensa por sanções impostas pelos Estados Unidos após tensões diplomáticas em 2018.

T129 ATAK turco

Esses impasses levaram Islamabad a buscar soluções alternativas com maior previsibilidade logística e política. É nesse cenário que a China se torna a fornecedora preferencial, oferecendo não apenas equipamentos, mas também acordos que envolvem transferência de tecnologia, produção local e treinamento de pessoal.

Aprofundamento da parceria estratégica

A cooperação militar entre China e Paquistão é um pilar central do relacionamento bilateral. Desde a década de 2000, ambos os países vêm estreitando os laços em diversas frentes, com destaque para o desenvolvimento conjunto do caça JF-17 Thunder, uma aeronave multifunção que já desempenha papel estratégico na defesa aérea paquistanesa.

Além disso, a China tem sido uma fornecedora consistente de drones armados CH-4 e CH-5, sistemas de defesa aérea e veículos blindados. Em contrapartida, o Paquistão serve como plataforma geoestratégica para os interesses chineses na região, inclusive com a construção do corredor econômico China-Paquistão (CPEC), que conecta a província chinesa de Xinjiang ao porto de Gwadar, no Mar da Arábia.

Implicações regionais

A introdução dos Z-10ME ocorre em um contexto regional marcado por rivalidades históricas, especialmente com a Índia. A modernização da aviação de ataque paquistanesa pode alterar o equilíbrio local, forçando Nova Délhi a reforçar ainda mais sua própria capacidade de defesa — atualmente baseada em plataformas como o Apache AH-64E e o HAL Rudra.

Além disso, o uso de helicópteros de ataque é cada vez mais relevante em conflitos assimétricos e operações de contraterrorismo, áreas nas quais o Paquistão tem longa experiência nas zonas tribais e áreas de fronteira com o Afeganistão.

A chegada dos helicópteros de ataque Z-10ME ao Paquistão simboliza não apenas uma aquisição militar pontual, mas uma evolução estratégica na aliança entre Islamabad e Pequim. Essa parceria, baseada em interesses geopolíticos mútuos e cooperação tecnológica crescente, reforça a tendência global de rearranjos nas cadeias de suprimento militar e na multipolaridade das alianças de defesa. Para o Paquistão, os Z-10ME representam uma ferramenta valiosa no fortalecimento de sua capacidade de resposta a ameaças regionais — e um passo firme rumo à autonomia operacional no campo da aviação de combate.


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