quarta-feira, 3 de abril de 2024

Questão Estratégica em Pauta: Avibras, a Soberania Nacional e os Desafios de Manter uma Empresa Brasileira de Defesa

Após o anúncio das tratativas avançadas para a aquisição da Avibras pela empresa australiana Defendtex, uma série de preocupações em relação à soberania nacional e ao destino dos trabalhadores da companhia brasileira e toda tecnologia e expertise nacional envolvidos vem à tona. A Avibras, com mais de 60 anos de história, representa não apenas uma empresa de defesa, mas também um símbolo do desenvolvimento tecnológico e da capacidade industrial do Brasil no setor aeroespacial e de defesa.

Fundada em 1961 por um grupo de engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Avibras é uma das pioneiras do país no desenvolvimento de programas espaciais e na fabricação de veículos especiais e sistemas de foguetes para fins militares e civis.

A Avibras é uma empresa de renome internacional, tendo conquistado grande sucesso nas exportações nos idos da década de 80, com produtos consagrados e testados em combate, como é o caso do sistema ASTROS, e se destaca como uma importante "ilha de conhecimento" tecnológico no campo aeroespacial e de defesa do Brasil.

Além de sua contribuição para o Programa Espacial Brasileiro, fabricando motores para foguetes, a Avibras desenvolveu uma ampla gama de armamentos e equipamentos bélicos, incluindo mísseis, lançadores de foguetes, veículos blindados, bombas inteligentes, sistemas de comunicação por satélite e Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs). Essa expertise tecnológica e industrial não apenas impulsionou o desenvolvimento nacional, mas também fortaleceu a capacidade de defesa do Brasil, participando atualmente no desenvolvimento de importantes programas estratégicos de defesa, como os mísseis MANSUP e MTC.

Contudo, a empresa enfrenta desafios significativos, incluindo dificuldades financeiras que ameaçam sua continuidade operacional. A falta de pagamento dos salários dos trabalhadores por 11 meses é apenas um dos sintomas dessa crise em que se encontra a Avibras. O anúncio das negociações com a Defendtex desperta ainda mais preocupações, quando se considera o know-how e expertise em sistemas avançados, onde é a única empresa nacional a deter tais capacidades.

A questão estratégica em destaque é a manutenção da Avibras como uma empresa brasileira. Sua expertise tecnológica e sua capacidade industrial não apenas contribuem para o desenvolvimento nacional, mas também são essenciais para a segurança e a defesa de nossa soberania. A possível aquisição pela Defendtex levanta questões sobre o controle e a proteção dos interesses nacionais, além de destacar a importância de políticas de estado que incentivem e protejam a indústria de defesa nacional, criando dispositivos que estimulem a concorrência no mercado internacional e incentive a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos que sejam competitivos no mercado.

Em vez de permitir a venda da Avibras para uma empresa estrangeira, o governo brasileiro deve considerar políticas públicas e incentivos para revitalizar a empresa e fortalecer a indústria de defesa nacional. Isso pode incluir investimentos continuados em pesquisa e desenvolvimento, parcerias público-privadas e apoio financeiro para garantir a continuidade das operações da Avibras no Brasil.

Manter a Avibras como uma empresa brasileira não apenas protege a soberania e a segurança nacional, mas também promove o desenvolvimento econômico e a autonomia industrial do Brasil. Uma indústria de defesa forte e competitiva contribui para a diversificação da economia e para a redução da dependência de importações em um setor tão estratégico, além de gerar avanços tecnológicos em outros setores da indústria nacional, gerando retorno não apenas no campo de defesa, mas na economia nacional.

Ademais, é crucial destacar a importância da indústria de defesa para o Produto Interno Bruto (PIB) de um país. Investimentos nesse setor não apenas impulsionam a capacidade defensiva, mas também têm um impacto significativo na economia. A indústria de defesa não só emprega uma grande quantidade de trabalhadores, mas também impulsiona a demanda por tecnologias avançadas e serviços relacionados. Isso cria um efeito multiplicador na economia, estimulando o crescimento de outros setores industriais, como manufatura, tecnologia e pesquisa e desenvolvimento.

O investimento em defesa pode alavancar o PIB de um país de várias maneiras. Primeiramente, gera empregos diretos e indiretos em diversas áreas, desde a produção de equipamentos até a manutenção e operação dos sistemas. Além disso, o desenvolvimento de tecnologias avançadas na indústria de defesa muitas vezes tem aplicações civis, contribuindo para a inovação em outros setores da economia. Por exemplo, avanços em tecnologia de comunicação, materiais leves e segurança cibernética desenvolvidos para fins militares podem ser adaptados para uso em setores comerciais, como telecomunicações, transporte e tecnologia da informação.

A possível venda da Avibras para uma empresa estrangeira levanta sérias preocupações e merece uma crítica à posição do governo em permitir tal negociação. A Avibras não é apenas uma empresa comum; é uma instituição com mais de seis décadas de história, representando uma parte essencial da capacidade industrial e tecnológica do Brasil no setor aeroespacial e de defesa.

Ao permitir a venda da Avibras, o governo está arriscando a perda de um ativo estratégico nacional. Essa decisão coloca em risco não apenas a soberania tecnológica e industrial do país, mas também a segurança nacional, já que a Avibras desempenha um papel fundamental no fornecimento de equipamentos e sistemas para as Forças Armadas brasileiras.

Além disso, a venda da Avibras para uma empresa estrangeira poderia resultar na transferência de tecnologia sensível e conhecimento especializado para fora do Brasil, minando ainda mais a capacidade do país de desenvolver e manter sua própria indústria de defesa. Isso poderia ter consequências de longo prazo para a economia e a segurança do país, comprometendo sua autonomia e dependência de importações em um setor tão estratégico.

Permitir a venda da Avibras é um equívoco estratégico que compromete não apenas o presente, mas também o futuro do Brasil no campo da defesa e da tecnologia. O governo tem o dever de agir em prol dos interesses nacionais e garantir que empresas como a Avibras permaneçam sob controle e operação brasileiros, protegendo assim a segurança, a soberania e o desenvolvimento do Brasil.


Por Angelo Nicolaci - Editor, Jornalista Especializado em Geopolítica & Defesa, Consultor e Palestrante com domínio em assuntos correlatos a geopolítica, defesa e a base industrial.


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