quinta-feira, 4 de abril de 2024

Nave-mãe kamikaze

No início de abril, a Ucrânia conseguiu realizar um ataque poderoso contra fábricas localizadas profundamente no território russo, aparentemente usando uma “aeronave tipo Cessna” carregada de explosivos, ou seja, uma aeronave leve ou ultraleve, como um “drone kamikaze”, ou seja um SARP (sistema de aeronave remotamente pilotada) “suicida”, praticamente um míssil de cruzeiro.

Veja o vídeo do ataque no Instagram:

A partir disso, começou a circular uma ideia bastante interessante, conforme a imagem a seguir, de um “Cessna” rebocando outros drones.



Esta ideia segue a sugestão que demos de utilizar os vetustos F-5 e A-1 como “drones kamikaze”, mas vai um passo além, e o “Cessna” teria ainda a função de “nave-mãe”.


Quais são as vantagens de tal proposição?


A primeira delas é o custo. Um “Cessna” apresenta custos bastante reduzidos, tanto em termos de aquisição como de operação, quando comparados com jatos. Dependendo do caso, mísseis de longo alcance podem custar milhões de dólares por unidade, ao passo que uma aeronave leve de alcance semelhante pode custar algumas dezenas de milhares de dólares.


A segunda vantagem é a furtividade, especialmente no caso de ultraleves. Devido às suas características, tais aeronaves podem voar facilmente a altitudes ultra baixas, já que são bastante manobráveis e, com suas velocidades relativamente baixas, conseguem evitar os acidentes do terreno sem maiores problemas.


Ademais, estas aeronaves podem facilmente ser construídas em materiais não-metálicos, como fibras de vidro e carbono, além de usarem motores cuja assinatura térmica é bastante reduzida. Com alguns cuidados no projeto e/ou na utilização, a assinatura sonora também pode ser pequena.


A combinação de voos em altitudes ultra baixas e assinaturas reduzidas podem dificultar consideravelmente os esforços das defesas aéreas, como ficou bem demonstrado no caso do ataque ucraniano em questão.


A terceira vantagem, neste caso considerando-se a função de “nave-mãe”, é que o ultraleve pode fornecer energia a drones menores, permitindo-lhe um alcance bastante superior. A principal vantagem, caso a nave-mãe seja atacada, determinar melhor a localização das defesas.


Os “drones filhos” podem ser usados para retransmitir a posição das defesas, e em certos casos até mesmo para atacá-las.


A quarta e última vantagem é a combinação das demais. Como a “nave-mãe kamikaze” oferece tantas capacidades interessantes, o inimigo será forçado a preparar suas defesas contra tais ameaças, tirando-as de outros lugares, a famosa “síndrome do cobertor curto: se cobrir a cabeça, descobre os pés, e vice-versa”.


LIÇÕES PARA O BRASIL


As últimas guerras que tivemos entre Estados, como a Guerra do Nagorno-Karabakh e a Guerra Russo-Ucraniana, demonstraram cabalmente que os drones não são o futuro das guerras, mas sim o presente.


Apesar de estar atrasado na corrida dos drones, o Brasil tem uma importante indústria aeronáutica, e também os profissionais necessários para iniciar estudos tanto do uso de tais meios, como de formas de se defender deles.


É mais do que urgente que tais estudos comecem, para que possam orientar a criação de doutrinas tanto para uso de drones como para se defender deles.


Caso não aprendamos com os acertos e erros dos outros, estamos fadados a sofrer muito na próxima vez que entrarmos em guerra.


Por Renato Henrique Marçal de Oliveira - Químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel)


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